sexta-feira, 29 de julho de 2011

O "olho cego" da cantora Sandy

Peço perdão, antecipado, aos puristas e pudorados de plantão. O assunto hoje é de certa banalidade, e de cunho sexual. Uhm, o sexo, sempre ele, subversivo. 
 
Trato da suposta, porque ainda não está publicada e ainda não li, entrevista da cantora Sandy para a revista masculina Playboy em sua edição comemorativa de aniversário agora do mês de agosto (trazendo a nudez de Adriane Galisteu na capa e como matéria principal). Entrevista que, repito e insisto, supostamente, apresenta uma faceta nova e instigante da cantora, antes tida e vendida como uma espécie de virgem imaculada da música brasileira, quase uma Cinderela caipira (isso desde os primeiros sinais de adolescência), onde a mesma dá sinais positivos sobre fazer sexo anal (um tabu para muitos, ainda hoje).
 
Como já disse em post no twitter, se a garota curte fazer sexo anal, aprova a prática, tudo certo e no mais absoluto direito dela. Dando mostras de que seria uma mulher madura, de personalidade, e que não exitou em falar um pouco de sua vida íntima (dentro dos limites do razoável, para também não descambar para a liberalidade que vulgariza). O problema é se isso tudo não passar de marketing pessoal. Ou pior, crise de personalidade!

Afinal, a entrevista, nestas linhas divulgadas pelas mídias, apontaria para a apresentação de uma nova Sandy - abandonando a imagem virginal e imaculada, e assumindo a condição de mulher, inclusive com o sexy apeal às mostras. Porém, qual Sandy é a verdadeira? E pior, qual Sandy era puro marketing? A Cinderela caipira, virginal e imaculada, ou a garota propaganda da cerveja Devassa e que gosta de "levar atrás"?
Só o tempo dirá. Mas uma coisa isso tudo já provocou: zun-zun-zun...boataria, e logo até eu mesmo estou aqui filosofando sobre o assunto; nada mais positivo para a carreira de uma cantora que vinha desabando, diria até, quase esquecida pelo grande público, ou mesmo pelos mais jovens. E isso num mundo, midiático e de certa maneira "freak show", onde o apelo sexual está estampado nas apresentações das cantoras de alcance mundial como Lady Gaga, Madonna, Britney Spears, Shakira, e estaria então a antes menina Sandy caminhando ou mesmo querendo caminhar por estas estradas...

O fato é que no nosso Brasil falar em sexo anal ainda é, indevidamente, tabu e moralmente tratado-julgado-preconceituado quando deveria ser encarado como mais uma, entre tantas, possibilidades de prazer do corpo humano. E dai as asneiras conservadoras dizendo que é sujo, pecaminoso, que é prática nitidamente homossexual (sob o viés da homofobia), ou mesmo anti-natural, contra princípios cristãos, bla bla bla...E assim, se Sandy e seus marketeiros, ou mesmo a revista, propuseram-se a causar um acalourado bla bla bla nada melhor que discorrer sobre um entre tantos tabus do brasileiro mediano e infelizmente deseducado.

 
 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A criança metaleira!

Umas noite atrás estava conversando com minha namorada, Adriana, e falávamos sobre música e eventos correlatos como por exemplo ela se lembrando, mesmo criança, da morte de Elvis em agosto de 1977 e como aquela notícia chegava ao conhecimento dos familiares, engrossando a consternação mundial pela perda do rei do rock'roll.
 
Num certo momento me veio a lembrança algo aparentemente inusitado: como eu, um garoto de mais ou menos 8 anos de idade, já escutava heavy metal na vitrola! Não sendo preciso nem distinguir que ao contrário de mim, 99% dos coleguinhas de escola ficavam entoando músicas infantilóides e algumas menininhas a febre dos meninos latinos "Menudos". Mas, como isso aconteceu em tão tenra idade? Como o metal chegou a minhas mãos e ouvidos ainda criança?

O ano era 1986. Era eu um garotinho de 8 anos que vivia na zona oeste de São Paulo, num apartamento de classe mérdia alta da Pompéia, e que tinha por hábito acompanhar minha mãe e minha pequena irmã, 5 anos mais novinha, ao supermercado "Jumbo Eletro" (um gigante na avenida Matarazzo, ao lado do estádio do Palmeiras - Palestra Itália, onde por sinal aprendi a nadar e era sócio do clube). Fazíamos aquela monstruosa compra, com carrinhos enfileirados, almoçávamos lá dentro, íamos ao vídeoclube (numa época onde poucos tinham televisão colorida, imagine videocassete e ainda mais ser sócio daquela espécie de proto-locadora) e por fim mamãe era sempre protetora e fazia as vontades, as vezes as mais desnecessárias, minhas e de minha irmã.

Passava eu no setor de eletro-eletrônicos e próximo estava aquela bancada de discos LPs, e por curiosidade fui mexendo, despretenciosamente, quando me deparei com esta capa de disco:
 
Sim...aqui estava "Somewhere in Time", LP do grupo de metal britânico Iron Maiden, estampando o conhecido personagem da banda Eddie com trajes espaciais, ele um morto-vivo em trajes espaciais, aquilo me encantava! Não conhecia o tipo de música, creio que nem meus pais e familiares mais próximos, e como que por um instinto, atraído pela estética da capa do LP, pedi a mamãe, e isso com meus 8 aninhos "compra pra mim mãe!?"
Pronto, pedido atendido. Nem sei ao certo porque ela comprou, creio que se fosse eu ali, um pai adulto, diria ao menino "filho, isso não é música pra criança, e cale a boca!" - algo do gênero, e seguiria o meu caminho no supermercado. Mamãe colocou no carrinho, satisfazendo a curiosidade do filho primogênito.

Do disco, depois de muito curtir o visual daquilo no meu quarto (em meio a toneladas de brinquedos, como ferroramas, autoramas, playmobils, bonecos Falcon, He-Man, Comandos em Ação, videogame Atari) coloquei o som na caixa, e lembro de como uma das músicas do disco, pelo ritmo alucinado, imediatamente me conquistou, não só como fã de heavy metal mas do próprio Iron Maiden - era a faixa "Caught Somewhere in Time" (que obriguei os adultos a tocar em meu aniversário, para horror da maioria) que podem curtir ai abaixo:



E assim começou esta história, de amor ao rock'roll, e pelo metal!


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Adele - Rolling In The Deep (Music video) Legendado

segunda-feira, 25 de julho de 2011

MIKHAIL BAKUNIN

"A Greve" de Einsenstein e o Leninismo

Filmado e lançado no ano de 1925 o filme "A Greve" (Statchta) do genial cineasta russo Sergei Mikhailovitch Eisenstein (1898-1948) é uma das grandes obras soviéticas por excelência, e não é sem razão que o que primeiro se lê e vê no filme seja uma citação de Lenin tratando da importância da luta das massas, da união e organização das massas contra a opressão (entenda-se mundo burguês, mundo do Capital).
 
O filme é dividido em etapas, sendo: os momentos que antecedem a greve, com uma clara apresentação da vida operária dentro da fábrica; a causa da greve (o seu estopim); os momentos pós-greve, com os trabalhadores parados, fazendo exigências, e uma apresentação da vida dos trabalhadores numa espécie de vila ou bairro operário (nos arredores da grande indústria); e por fim a repressão sobre os trabalhadores, forçados a voltar ao trabalho.
Surpreende no filme, do distante 1925, a brutalidade das personagens e das situações apresentadas. Algumas cenas são marcantes pela violência como na incrível crueldade com que um soldado czarista joga uma criança (trabalhadora como outras tantas, ficando evidente o trabalho infantil, superexplorado - sendo uma das exigências dos grevistas a limitação de jornada para seis horas/diárias para crianças e mulheres) do alto da fábrica, e como Einsenstein depois focaliza a pequena criatura inerte e morta.

As causas da greve podem ser apreendidas como tradicionais: os maus-tratos sofridos pelos trabalhadores dentro do ambiente fabril (sob vigilância de uma série de capatazes e gerentes), uma longa e brutal jornada de trabalho, salários baixos e consequente degradação da vida dos trabalhadores (vivendo na miséria, em contraposição a opulência apresentada quando retrata-se o mundo burguês, dos barões da indústria). O fato que desencadeia a grande greve é a acusação de roubo (e a imposição do pagamento de 25 rublos - o que corresponde a três semanas de trabalho) que gerentes da fábrica impõem a um operário que tivera seu micrômetro roubado (uma peça industrial), deprimido e humilhado com a situação o mesmo acaba por se suicidar dentro da fábrica, gerando revolta e agitação entre os seus camaradas - fazendo eclodir a grande greve!
O filme de Einsenstein é genial e aponta como poucos o que vem a ser, verdadeiramente, a luta de classes. Apresentando ainda um bom panorama da Rússia Imperial, pré-revolucionária, com sua truculência militar, aristocrática, e de como as forças militares se alinhavam com os interesses burgueses e aristocráticos. Oposição que, em tese, seria solucionada com o movimentos revolucionários, pela via operária (a partir da organização da massa trabalhadora urbana, como mandava a boa cartilha leninista). Assim, de certa forma "A Greve" é uma produção leninista por excelência, até pela comoção russa com a perda do grande líder revolucionário um ano antes da produção do filme (não é sem razão que o corpo de Lenin permanece preservado, como se fosse um faraó vivo, até os dias de hoje).
 
 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Bon Jovi "Have A Nice Day"

Michael Moore "Capitalismo: uma História de Amor"

Ontem a noite assisti no canal pago Telecine Cult o filme-documentário "Capitalismo: uma história de amor", produzido em 2009 pelo cineasta estadunidense Michael Moore, cujo centro de análise fora a crise econômica de 2008 e seus impactos sociais na vida de milhares de estadunidenses médio-classistas, em especial vitimados pela bolha financeiro-imobiliária que executou milhares de hipotecas e deixou nas ruas famílias inteiras.
Como se não bastasse, além do lado social do filme, este mesmo demonstra como que o Estado ianque socorreu as grandes corporações, os investidores e especuladores de Wall Street (no final do governo Bush Jr.) em detrimento dos interesses populares, aprovando empréstimos de bilhões de dólares aos banqueiros e burgueses falidos com a farra financeira - usando dinheiro do contribuinte (os impostos do povo bancando as loucuras e desvarios financeiros de Wall Street, que lesam o povo sempre com as políticas de crédito e endividamento das famílias).
Um caso assustador, e que dá a dimensão exata de como o sistema Capitalista é o verdadeiro "Mal" (costumo não aceitar adjetivos éticos como bem e mal, mas se existe o Mal, substantivado, existente, este é o Capitalismo) são os casos, absurdos, de grandes empresas que fazem seguro de vida de seus funcionários (sem o conhecimento destes ou mesmo de seus familiares) e que após a morte destes lucram com a mesma! Há um caso de uma jovem mãe e funcionária do Wall-Mart que rendera ao grupo cerca de 85 mil dólares com sua morte, enquanto o marido viúvo arcava com dívidas hospitalares e mesmo o funeral. 
O filme também tem seus erros, teóricos acredito. Michael Moore apresenta como poucos a sordidez do sistema social-econômico, as suas ilusões (livre mercado, concorrência, enriquecimento, poder, consumo, liberalismo econômico), porém o final do filme acaba sendo panfletário, nitidamente democrata e jubilando-se com a vitória de Barack Obama nas últimas eleições presidenciais. E ingenuidade maior, Moore afirma que este sistema não se reforma, não se conserta, se destrói, corretíssimo, mas quando é para dizer a solução o cineasta diz "democracia"....

Democracia? Moore se esqueceu de que esta é outra ilusão criada no centro do sistema econômico-social. Votar, escolher representantes, isso basta para encarar o monstro do Capital? Não, não mesmo. É preciso ir além, é preciso revolucionar, e para tanto não há outro caminho que não a transformação das consciências, a organização das massas, a luta derradeira e sangrenta de uma imensa maioria expropriada contra uma minoria pequena e aristocrática. 

Obviamente Moore, como cineasta estadunidense que é, jamais iria propor o Socialismo como solução ao mundo do capital - ainda tabu na sociedade ianque, devido a décadas de Guerra Fria (1945-1991), o que fica flagrante quando em meados do filme ao citar o socialismo, e o candidato democrata Obama sendo "acusado" de socialista, aparecem imagens (com o hino soviético ao fundo, muito belo por sinal e usado por mim nas vídeo aulas de Revolução Russa) de governos hiperestatistas e autoritários como de Stalin e Mao-Tse Tung. E isso é uma limitação presente em Moore, ele devia repensar as suas convicções e apresentar propostas verdadeiramente revolucionárias e novas, e neste caso, só há um caminho: a Anarquia. 

Não é o livre mercado, a concorrência, o mundo do Capital, ou mesmo o coletivismo autoritário e burocrático do maoísmo e do stalinismo os caminhos verdadeiros em direção a Liberdade plena, mas sim a construção de um devir autogestionário, sem estados, sem pátrias, sem autoridades, redimensionando a vida humana para núcleos menores e mais humanitários. De qualquer maneira, vale conferir "Capitalism: a love story" de Michael Moore.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

REVOLUÇÃO RUSSA PARTE 6

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Trotski antevia o "petismo"

Estava lendo um pequeno livrinho "O que é Trotskismo" do jornalista José Roberto Campos e me deparei com uma verdade apontada por Leon Trotski em meio ao seu texto "A agonia mortal do Capitalismo e as tarefas da 4º Internacional", também conhecido no meio acadêmico como Programa de Transição, que falava assim sobre a Social-Democracia:
 
"...a social-democracia havia se atolado no caminho das reformas e sua cúpula, apoiada numa aristocracia operária com alto nível de vida, abandonou seu compromisso para com as mudanças revolucionárias, encontrando sua forma de existência na barganha de gabinete, nos floreios do discurso parlamentar, na retórica socializante sem compromissos práticos."
TROTSKI, León. In: O que é Trotskismo. ed. Brasiliense, p. 40.
 
Em seguida me veio a mente, como que numa clarividência: as palavras de Trotski, encontradas em seu texto fundante da 4º Internacional no ano de 1938 (realizada em Paris, e Trotski já exilado da Rússia stalinista e burocrática a quase 10 anos) caem como uma luva para o fenômeno do petismo brasileiro.
O PT, surgido em meio as turbulências dos anos 70 e da luta operária (no ABCD paulista, tendo Lula como ícone), ao chegar ao poder nos idos de 2002 com o mesmo Lula mostrou-se como uma entidade política tipicamente social-democrata (como os próprios tucanos do PSDB, e se engana quem acha que os dois partidos, polarizadores políticos dos dias atuais, possuem diferenças orgânicas-ideológicas).
 
Hoje com Dilma no poder ainda vislumbramos as fraquezas da social-democracia: a política de barganhas partindo de gabinetes políticos (vide o cabide político que são as relações político-partidárias em nosso país, verdadeiro toma-lá-dá-cá) como no emparelhamento do Ministério dos Transportes pelo PR do deputado Waldemar Costa Neto; a retórica como arma "gasosa", sem relação direta ou mesmo compromisso real com mudanças concretas na vida das pessoas, e isso fica claro com programas limitadíssimos e recheados de marketing político como o defendido PAC, Minha Casa & Minha Vida, Bolsa Família, etc...
A social-democracia hoje reinante em nosso país nos exemplos petista (no poder a quase 10 anos) e tucano são a demonstração clara de que não representam propostas e ações reais de transformação da vida dos brasileiros, sendo duas faces de uma mesma moeda burocrática, hipócrita, demagógica e reprodutora de uma ordem distante de qualquer e real justiça social. Isso León Trotski já preconizava a pouco mais de 70 anos...

Vídeo Genial: um uruguaio entre torcedores argentinos

sábado, 16 de julho de 2011

Jesus histórico: novas informações

A revista Superinteressante em sua edição do presente mês de julho traz como matéria de capa "Os anos ocultos de Jesus", trazendo sob a luz de novas análises de historiadores e arqueólogos do assunto uma nova compreensão do Jesus histórico.
Antes de revelar novos fatos trazidos pela matéria da revista é importante citar aqui os estudiosos usados como referenciais: John Dominique Crossan, Paula Fredriksen, Karen Armstrong, Bart D. Ehrman (autor de Quem foi Jesus? Quem Jesus não foi?) e Karl Kautsky (autor de A Origem do Cristianismo).
Jesus era carpinteiro (erro)
Jesus, assim como seu pai, José, eram pedreiros, e o erro de ser colocado como carpinteiro advém de uma má tradução da palavra grega "tekton".

Jesus tinha uma família pobre (erro)
Jesus e seus irmãos nunca passaram dificuldades, especialmente quando da reconstrução de Séforis (empreendida por Herodes Antipas) onde a economia do lugar fora reaquecida com as constantes obras de reconstrução que deram emprego a muitas pessoas, entre elas a família de Jesus (pedreiros).

Jesus não possuia um mentor ideológico (erro)
João Batista (um judeu de caráter essênio - uma das muitas seitas judaicas), o mesmo que batizara Jesus, fora durante anos o mestre do jovem Jesus. Após a morte de João Batista é que Jesus irá iniciar a sua vida de ensinamentos (apostolado, difusão de suas convicções ético-religiosas), milagres (em momentos cruciais da mitologia cristã como o fato de ter alimentado 5 mil pessoas com 5 pães e 2 peixes, ou mesmo andado sobre as águas).

Jesus nasceu em 25 de dezembro (erro)
Esta é uma data forjada, de maneira a relacionar o nascimento de Jesus a uma festa romana muito antiga - solstício de inverno (quando se comemorava o final do período de inverno, exatamente na noite mais longa do ano).

Jesus nasceu em Belém (erro)
O local de nascimento de Jesus é forjado para que ele se assemelhe a Davi, nascido em Belém. Há fortes indícios de que tenha nascido em Nazaré.

Barrabás foi libertado e Jesus condenado a morte (erro)
Não há esta figura na história de Jesus, Barrabás será uma personagem inserida nos evangelhos como um típico judeu fora da lei que recebia apoio popular por atacar romanos (ato comum após a destruição do Templo pelo imperador Vespasiano no ano 70). Vale lembrar que os evangelhos foram todos escritos tempos depois da vida de Jesus e não simultaneamente.
Herodes mandou matar todas as crianças de até dois anos de idade (erro)
Não há nenhum indício de que tenha ocorrido este massacre.

terça-feira, 12 de julho de 2011

REVOLUÇÃO RUSSA PARTE5

terça-feira, 5 de julho de 2011

REVOLUÇÃO RUSSA PARTE 4

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Governo Itamar Franco (1992-1994)

Não faço o tipo que lamentará a morte de um político, ainda mais brasileiro - fruto de nossa classe política burocrática, clientelista, conservadora, sem contornos ideológicos e de puro pragmatismo. Sendo assumidamente anarquista, fato mais que obvio. Porém há o lado do educador, do historiador, do profissional da História que deve sim se posicionar e buscar informar a juventude em especial.

O governo Itamar Franco (1992-1994), de curta duração (fenômeno comum na história política do Brasil o chamado mandato tampão), realmente tivera lá os seus méritos, contudo o mesmo período e sua figura histórica não devem ser supervalorizados e tratados como boa parte da imprensa mineira, sempre ela, vem realizando.

Itamar até que se prove o contrário, e isso é sempre uma possibilidade se tratando de história política do Brasil, foi um político ímpar no quesito ético: mostrava personalidade, comando e defendia como poucos aquilo que acreditava ser o melhor para o país, tudo sob a mais límpida ficha de serviços prestados (sem envolvimentos com corrupção e infamias do tipo - o que não deveria ser nem digno de nota, visto ser esta uma pré-condição básica demais para aquele que quiser galgar a administração pública).

Seu governo é iniciado num momento dos mais relevantes de nossa história republicana: o impedimento do ex-Presidente Fernando Collor, acusado por envolvimento em complexos esquemas de corrupção. Isso depois de eleito num pleito presidencial (1989) realizado após décadas do regime de exceção e de um governo eleito indiretamente cujo ocupante do cargo executivo foi postulado ao cargo após a morte do mineiro "eleito" Tancredo Neves (governo José Sarney 1985-1990).

Itamar contou com a sorte do momento: após o trauma do impedimento presidencial de Collor o Congresso Nacional optara por fazer um governo de coalisão política, dando uma "mãozinha" para o presidente "mineiro" (nasceu na Bahia e criou-se na mineira Juiz de Fora). Se engana quem acredita que Itamar garantira o Estado de Direito porque o mesmo já estava mais do que consolidado ao final do governo Sarney e das eleições presidenciais de 1989.

O grande xeque-mate de seu  governo viera na condução da política econômica e quando da opção pelo sociologo Fernando Henrique Cardoso (4º ocupante do cargo de homem-forte da Economia brasileira) como ministro da pasta econômica e com uma missão nada agradável: lutar contra o monstro inflacionário nacional que a décadas vinha corroendo a microeconomia e a vida dos trabalhadores (herança dos 21 anos de governos militares e de pacotes mal sucedidos construídos no governo Sarney como o Cruzado).

A estabilização viera pela condução do complexto Plano Real (iniciado como URV - unidade real de valor) que dera a economia brasileira uma nova cartilha, conservadora e liberalizante: câmbio flutuante, juros altíssimos, privatizações de setores estratégicos, enxugamento da máquina estatal, corte de gastos. Elementos que hoje o FMI recomenda aos gregos, portugueses e demais países europeus que sofrem profunda crise econômica! A receita é velha, como podemos ver.

Assim com o sucesso relativo da política econômica de seu governo Itamar acabou por conduzir o seu homem-forte ao posto de presidente da República, e FHC (1994-2002)assim governou por oito anos após criar o mecanismo de reeleição para cargos do executivo (ainda em vigor).

Evidentemente Itamar Franco e seu curto governo não significaram transformações profundas na vida do país: a infraestrutura permaneceu deficitária, a concentração de renda manteve-se a mesma, a educação e a saúde não se tornaram dignas, a carga tributária nacional continuou se transformando no monstro gigante que ainda é e a reforma agrária é um sonho que até hoje só não está congelado em grupos corajosos como o MST!

Findo o seu governo Itamar Franco comprou uma série de desafetos políticos, como o próprio FHC e o tucanato que tanto deviam a ele. Entre 1998-2002 governou Minas Gerais e como governador de Estado comprou briga com o governo federal de FHC contra o privatismo direcionado ao setor energético mineiro (o caso de Furnas), e quem é funcionário público como muitos colegas professores tiveram o desabor de trabalhar sob a condução austera e nada dialética do governador (que continuou desvalorizando o magistério mineiro).

Como fez no governo federal, Itamar conduziu ao governo mineiro um sucessor: Aécio Neves, do PSDB (governador entre 2002-2010), e no último pleito legislativo caminharam juntos numa campanha ao Senado Federal.

Esta é uma parte, a mais conhecida, da trajetória política do ex-Presidente Itamar que durante a Ditadura foi dos poucos políticos a vencer a Arena em eleições como a que o conduziu a prefeitura de Juiz de Fora nos anos 70 pelo MDB.

Não lamento a sua morte. Fez um bom governo a frente do país, cumpriu com seu dever ético e nada mais que isso. O dito Plano Real tirou o país de um problema sério, ok, mas nos conduziu a outros em especial de caráter social.

sábado, 2 de julho de 2011

25 anos de Xuxa na Globo (bodas de merda)

Nos últimos dias completaram-se 25 anos da apresentadora "Xuxa" na rede Globo de televisão, ambos instrumentos do que há de mais pérfido em "entretenimento" televisivo de nosso país.
 
Xuxa e seu programa "Show da Xuxa" marcaram uma época (anos 80/90) e deram uma nova formatação aos programas infantis de nossa televisão: dai uma infinidade de cópias mal sucedidas em outras emissoras, mas sob a mesma égide alienante e sexista - Mara Maravilha (hoje voz pedante do neopentecostalismo), Eliana, Angélica, e tantas outras de menor expressão.
Não quero aqui fazer julgamento moral, muito menos moralizante, do que foram este 25 anos de desserviço desta figura espetacular (no sentido debordiano) a toda uma geração de crianças e adolescentes; mas não dá para deixar de criticá-la em elementos como o "carinho" forçado e mentiroso pelas crianças que ali participavam do programa, pela figura acéfala que é e que nada transmitia de valoroso ou mesmo aproveitável (tornando os programas infantis mais infantilizados e imbecilizados que o aceitável), por propagar e reproduzir uma sublime ditadura estética entre os mais jovens e por fim por sensualizar as crianças do Brasil.
 
Xuxa é destes subprodutos midiáticos que vão e vem, amparados por toda uma indústria televisiva, vendendo cosméticos, brinquedos, roupas, discos, imersa na lógica do espetáculo e provocando que mesmo as crianças na mais tenra idade se ajoelhem diante do mundo do capital.
 
É claro que a TV Globo comemora a data, afinal ela é um dos carros-chefe da emissora carioca e símbolo de décadas de muita audiência e lucros para a família Marinho (maior força midiática de nosso país, surgida nos anos 70 com apoio total do regime militar brasileiro).
 
Nada retrata melhor, com humor crítico, o que representa Xuxa para a "cultura" brasileira que o episódio de Os Simpsons (quando a família tipicamente media class ianque vem ao Brasil) abaixo reproduzido...
 
 

"Mundo Conformista"