quinta-feira, 10 de maio de 2012

Vietnã e Imperialismo: ontem e hoje

Nas últimas semanas estive trabalhando no horário noturno com meus educandos do EJA (Educação de Jovens e Adultos) o filme "Full Metal Jacket" (1987) do renomado diretor Stanley Kubrick, que na tradução portuguesa recebera o nome de "Nascido para Matar"; a priori podemos estranhar o nome dado pela tradução nacional, mas há uma razão de ser: o protagonista da película usa em seu capacete os dizeres "Born to kill", que nada mais é senão "nascido para matar".

Como todo educador, trabalhar um filme em sala de aula tem que ser mais do que simplesmente entreter, deve haver sim uma preocupação em relacioná-lo, com clareza, a um conteúdo e mesmo a objetivos de aprendizagem bem definidos. O filme de Kubrick fora usado no sentido de ilustrar a conhecida "Guerra do Vietnã" (1967-1975), e mais, o olhar jornalístico, televisivo, sobre o mesmo evento - um dos primeiros conflitos de grande proporção e dimensão transmitidos, à cores, pela mídia eletrônica.

Sobre este conflito no sudeste asiático devemos de antemão rememorar que o mesmo se insere na ordem global de Guerra Fria (1945-1991), onde governos estadunidense e soviético disputam, direta ou indiretamente, territórios (ou nações-satélite) para seus projetos político-sociais (sob predomínio do Capital de um lado, e de outro sob a Ditadura do Proletariado travestida de Ditadura Burocrática).

O Vietnã, antes mesmo da entrada definitiva do "uncle Sam" na questão, vinha a algumas décadas (desde meados dos anos 40) lutando por sua independência política contra o domínio neocolonial francês - que sob seu domínio recebia o nome de Indochina. Ao fim do processo de independência do país, liderada por Ho Chi Min, o mesmo acabara por se fragmentar: ao norte um governo satélite do comunismo soviético, e ao sul uma ditadura militar abençoada pela ordem do Capital.

Assim como fizera na América Latina, o imperialismo estadunidense tencionava não deixar por menos a existência de governos socialistas no sudeste da Ásia, dai o tradicional intervencionismo. Contudo não podiam prever duas coisas: a resistência do povo sul-vietnamita, ou vietcongues (as temidas guerrilhas), e o impacto negativo que o conflito causara interna e internacionalmente, afinal poucos compreendiam a política estadunidense de se intrometer nos caminhos daquele pequeno país da Ásia.

Os conflitos entre ianques e vietcongues dentro do sul do país (em especial na cidade de Saigon), e as batalhas no norte socialista, iniciaram-se na segunda metade da década de 60 no governo Lyndon Johnson e irá literalmente se arrastar, com milhares de perdas humanas para ambas as partes, até meados do governo Nixon em 1975.

Ao final da guerra o Vietnã se reorganizou como uma única nação, sob controle do norte socialista com capital em Hanoi. Além disto despertou em território estadunidense a organização do hippysmo, da contracultura, que dizia, desde meados de 68 "faça amor, não faça a guerra"....

Os educandos, em seminário realizado na sala de aula, puderam, em conjunto perceberem que pouco mudou na política internacional estadunidense, ou seja, ainda intervencionista (de caráter imperial). A comparação com a luta contra o "terror", empreendida desde os ataques de 11/09/2001, a ocupação ilógica e inconclusiva do Iraque, o "olhar sobre o Oriente Médio", tudo isso apontam para questões semelhantes com as vividas ao longo da Guerra do Vietnã: uma  guerra sem justificativas plausíveis, o clamor da sociedade que é contrária a guerra e pede pela volta pra casa de seus filhos tornados soldados/instrumentos do Capital, o papel da mídia eletrônica nos conflitos, o uso ideológico da guerra (sempre matando, explodindo e queimando em nome da liberdade, da democracia, da ocidentalização-pseudocivilização). Triste história que se repete.