terça-feira, 28 de janeiro de 2020

ArtesCulturaSP

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A Felicidade está além das coisas, em Marcuse

Herbert Marcuse (1898-1979), considerado um dos ícones do pensamento contracultural da década de 1960 (participando, ativamente, dos eventos engajados de 1968), é um intelectual partícipe da chamada "Escola de Frankfurt" ou filósofos "frankfurtianos", ao lado de Walter Benjamin, Theodor Adorno, Eric Fromm, Jürgen Habermas.

O trecho selecionado para esta postagem trata do tema, aristotélico, da felicidade (eudemonia ou eudaimonia). É parte da publicação de 1965 "Cultura e Sociedade" (Kuttur und Gesellschaft I), que reúne textos produzidos por Marcuse para a Revista de Pesquisa Social, produzida pelo Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt entre 1934-1938.

Com as palavras, mestre Marcuse:


O mundo do necessário, da provisão cotidiana da vida, é inconstante, inseguro e não livre - essencialmente e não só de fato. Dispor sobre os bens materiais nunca constitui inteiramente obra da sabedoria e da laboriosidade humanas; eles se encontram sob o domínio do acaso. O indivíduo que coloca seu objetivo supremo, sua felicidade, nesses bens, se converte em escravo de homens e de coisas que se subtraem a seu poder: renuncia à sua liberdade.

Riqueza e bem-estar não são alcançados e mantidos por sua decisão autônoma, mas devido a favores mutáveis de relações imprevisíveis. Portanto os homens subordinam sua existência a um fim em seu exterior. Que um fim exterior por si só já atrofie e escravize os homens, implica o pressuposto de uma ordem perversa das condições materiais de vida, cuja reprodução é regulada pela anarquia de interesses sociais opostos entre si, uma ordem em que a manutenção da existência geral não coincide com a felicidade e a liberdade dos indivíduos. 

Na medida em que a Filosofia se preocupa com a felicidade dos homens - e a teoria da Antiguidade clássica insiste na eudemonia como o bem supremo -, ela não pode encontrá-la na constituição material vigente da vida: ela precisa transcender a faticidade desta.

MARCUSE, Herbert. Cultura e Sociedade vol. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1997, p. 90.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Taiko, apresentações em Atibaia-SP

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

O caso Alvim é uma ameaça à ordem social

Um dos primeiros críticos da Revolução Francesa, Edmund Burke (filósofo irlandês), já afirmava que para o Mal triunfar bastava que os bons nada fizessem, ou "cruzassem" seus braços. Claro que eu não observo a realidade da vida de forma tão "preto no branco", de mocinhos e bandidos, e quem me ensinou isso, oras, a musa Clio (deusa da memória, e da História).

Dos maiores desafios de um professor, sobretudo de ciências humanas, é não ter posições, ou seja, como um velho e corcunda positivista obcecado por uma pretensa objetividade. Já coloquei isso aqui, e inúmeras vezes, nas humanidades não é possível que 2+2=4, existem muitas, e muitas possibilidades. Falar em verdades, histórica, sociológica, filosófica, etc...é ser presunsoço demais.

O assunto gera polêmicas, talvez até mesmo brigas. E eu levanto a bola "o bolsonarismo tem elementos nazifascistas?". 

O porquê da provocação surge na luz/da treva do vídeo divulgado pelo agora ex-secretário de Cultura (ou da ausência de) Roberto Alvim que anunciava, ao som de Lohengrin (utilizado pelos alemães nos campos de concentração enquanto os judeus eram vitimados à caminho do banho da morte), um Prêmio Nacional das Artes (20 milhões de reais), vociferando um discurso travestido de nacionalismo, baseado em falas do antigo ministro da propaganda nazista, Goebbels (1897-1945).



Assim dizia: a arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional.

Me apegando a frase, como ele poderia falar da arte da "próxima década", até onde eu saiba o mandato do atual presidente se encerrará em 2022. Heróica, oras, a arte tem por objetivo combater algum inimigo? Nacional, oras, a arte é expressão do indivíduo, do artista, que é parte de um contexto e uma sociedade, mas a arte seria um projeto de Estado?

Até na aparência do vídeo o antigo secretário encarna uma espécie de personagem. 

Fala que a cultura, proposta pelo presidente, seria para salvar a juventude. De quem? Eu entendo que a educação, a boa condução da economia do país, o acesso a saúde, ou seja, o Estado quando cumpre com o seu papel de promoção do bem estar social realmente salva o jovem, dando-lhe dignidade e pelo menos evitando que afunde na miséria. A conversa liberalizante, que tem os seus argumentos, só serve aos senhores do mundo, a quem já concentra renda, oportunidades, trancafiados em suas bolhas sociais.

Apregoar valores tradicionais como "pátria, família, Deus" num discurso sobre política cultural é, no mínimo, esdrúxulo. 

O governo, pressionado pela repercussão negativa, botou o rabo entre as pernas e mandou Alvim para o RH. O que assusta, de verdade, é observar que o Estado brasileiro hoje é comandado por pessoas não só despreparadas, mas de uma ignorância e ausência de bom senso nunca antes visto ou imaginado. Um secretário de Estado travestir-se de Goebbels, em pleno 2020, é um grande absurdo.

Mas, lembro Burke (no sentido de questionar até quando nós vamos cruzar os braços em meio a esta política regressista), esse governo já mostra que é o ovo da serpente, já é a serpente? Exagero meu, não sei. Isso que ocorreu é preocupante e inaceitável. O discurso de ódio, desde o período eleitoral, vai se tornar realmente uma política de ódio? 

O Presidente Bolsonaro, se fosse um homem coerente com o cargo que ocupa, teria deixado as eleições pra trás e assumido a condição de representante dos brasileiros, na totalidade de nossa sociedade. Falar em inimigos internos, apontar armas com as mãos, escolher mal os seus ministros, todos eles (não há um só aceitável, nem mesmo Moro - cuja parcialidade num processo jurídico já o desqualifica pro cargo). 

Eu espero, com sinceridade, não ver o governo do meu país abrir espaço para grupos e pessoas que ainda carregam pensamentos/ideologias que prezam pela violência, exclusão, estigmatização. Ou acordamos, de alguma forma, e a repulsa geral fez o governo agir, ou realmente um certo bolso-nazismo pode germinar e jogar o país numa crise social interna sem precedentes.




quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Janeiro Branco 2020

Ser "normal"


Janeiro é tempo de perder o sono com o IPTU, IPVA, compra de material escolar, os boletos referentes aos gastos natalinos. Porém, é tempo de reflexão, da campanha que recebe o nome de "janeiro branco", cuja temática recai sobre as questões que envolvem a saúde mental.



As doenças da alma, posso assim dizer, são incapacitantes. Prejudicam o convívio social, destroem carreiras profissionais. Como professor, há pelo menos 15 anos, observo com tristeza como a Burnout, por exemplo, tem afastado bons profissionais da sala de aula. Entre as categorias profissionais, no Brasil, professores, policiais e médicos, são os "campeões" de afastamentos em decorrência de fatores e patologias psicossomáticas.

Urge, e muito, a necessidade de profissionais da saúde mental dentro do ambiente escolar regular. Projeto que infelizmente o governo Bolsonaro recrimina, e pelos motivos errados - de caráter ideológico.

Mas, nesse texto, aproveitando o mote da campanha (saúde mental), é sempre interessante debater afinal de contas o que é ser "normal". A música composta por Arnaldo Baptista e Rita Lee, Balada do Louco, do álbum de 1972 "Mutantes e seus cometas no país do baurets" diz:

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim, sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz


O ser normal de certa forma dialoga com uma série de aspectos sociológicos. Afinal, quem pode definir o que é ou não é "normalidade". O normal é aquilo que é esperado dentro de um conjunto de regras e normas de conduta, e tal normalidade é, sim, imposta socialmente. Daí a racionalização e construção de um espaço destinado àqueles que fogem ou desafiam a normalidade: os sanatórios, por exemplo...o hospital (no sentido foucaultiano).

Normalizamos tudo, no caminhar do processo civilizatório, e então definimos, enquanto sociedade o que são uma família normal, uma criança normal, um relacionamento amoroso normal, um trabalho normal, uma relação sexual normal...

Tudo tão normal, tão fechado em modelos, que o resultado de tanta normalidade só poderia ser patológico. Vivemos em sociedades, modernas, tecnológicas e informatizadas, civilizadas, porém doente.

Daqui há algumas décadas talvez nenhum sorriso ou sensação de bem estar não sejam acompanhadas de pílulas, comprimidos, terapias. Teremos vidas artificiais, existências artificiais.

Portanto, neste janeiro branco, convido à todos debater esta complexa questão "o que é ser normal?".

DICAS DE LEITURAS (que dialogam com o tema):
FOUCAULT, Michel. História da loucura/Col. Estudos vol. 61. Ed. Perspectiva.
FREUD, Sigmund. Freud (1930-1936) o mal-estar na civilização e outros textos. Ed. Companhia das Letras.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O Riso e a Subversão

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Curitiba: aprender é sair nas ruas.

Por cerca de quatro dias permaneci na capital paranaense. É de conhecimento quase comum afirmar que a cidade de Curitiba (antiga Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, séc. XVII - e os pinheiros/araucárias são parte constante e viva de sua paisagem, daí o nome de origem guarani quanto a grande quantidade de pinheiros) preza pelo seu vanguardismo, modernidade. Cidade "modelo", símbolo de organização, racionalidade, asseio. 


Não é incomum o meu ceticismo. E habituado com a vida aqui do Sudeste e de suas metrópoles e mazelas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte em especial), o meu olhar perante a cidade modelo dos paranaenses à todo instante buscava realizar conexões e desconexões com as três capitais aqui elencadas. E a conclusão reforça o olhar comum: cidade bela, arborizada, organizada, limpa.

Mas, há nuances que eu só pude observar in loco
- uma juventude de personalidade, e não foram poucos àqueles que na aparência já transpiravam transgressão, em especial nas múltiplas/conjuntas cores de cabelos e até barbas.
- uma miscigenação intensa, marcada pelos múltiplos encontros de portenhos, japoneses, ucranianos, italianos, poloneses, alemães, gáuchos, paulistas e nordestinos.
- o design e o urbanismo, reforçando o sentido de estar dentro de uma cidade planejada/pensada. 


Foi uma ótima experiência, reforçando que viajar é, verdadeiramente, uma estratégia de aprendizado vivo. O intelectual de gabinete pode até apresentar análises bem fundamentadas, mas reunir estas capacidades com a experiência sensível, estar entre as pessoas, lugares, paisagens, enriquece, exponencialmente, aquilo que os filósofos alemães denominam "Weltanschauung": a visão de mundo.



Ler é essencial, escrever também. Porém, ao preparar sua bagagem, sair da rotina e da casa, portanto viajar, apreende-se um novo vocabulário, assim podemos dizer. Vocabulário que aglomera pessoas, culturas, espaços, histórias, idiossincrasias, sabores, cheiros, observações.
tradicional barreado

Estes dias no Paraná, que não foram assim tão planejados, acabaram sendo momentos de real aprendizagem. E não só deixo a dica para os que me lêem para conhecer a cidade, como mais que nunca enquanto educador fica a certeza de que não há conhecimento real sem botar os pés nas ruas.



terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Pensadores Sociais: Gilberto Freyre

Religião, segundo Durkheim, Marx e Weber