Jessé Souza é sociólogo, coordenador do Centro de Pesquisa sobre Desigualdade Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), autor do recente livro A Ralé Brasileira: quem é e como vive. Editora UFMG.
Abaixo selecionei trechos significativos de sua entrevista ao jornal Folha de São Paulo, publicado hoje com o título "Para sociólogo, Brasil ainda vive um abismo social":
"O Brasil é uma das sociedades complexas mais desiguais do planeta. Entre 30% e 40% de sua população tem inserção precária no mercado e na esfera pública. Somos uma sociedade altamente conservadora, que aceita conviver com parcela significativa da população vivendo como subgente. Essa classe social, que chamamos provocativamente de ralé, é a mão-de-obra barata para as classes médias e alta que podem se dedicar às ocupações rentáveis e com alto retorno em prestígio. É isso que chamo de desigualdade abissal como nosso problema central"
"O programa Bolsa Família tem extraordinário impacto social, econômico e político, com investimento público relativamente muito baixo (...) por outro lado, o Bolsa Família não tem condições, sozinho, de reverter o quadro de desigualdade e incluir e redimir a ralé. Esse é um desafio de toda a sociedade, e não apenas do Estado"
"O problema é que a competição social não começa na escola. Sem considerar que crianças de classes diversas já chegam à escola como vencedoras ou perdedoras, o que teremos é uma escola que só vai oficializar o engodo do mérito caído do céu de uns e legitimar, com autoridade do Estado e a anuência da sociedade, o estigma de outros"
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