Nesta noite alguém muito próximo me perguntou: "Tiago, como é que você se diz anarquista, materialista, cético, e vem com esse papo de Crowley e sociedade alternativa pra cima de mim? Você está entrando, com a cabeça e tudo, em uma enorme contradição!".
Pois bem, a priori pode parecer contraditório mesmo, levantar a bandeira da anarquia e de certa maneira segurar a Thelema em uma das mãos. Como eu nasci para a ousadia, ela está marcada em cada poro no meu ser, afirmo: há como se utilizar, dialeticamente, a visão político-social anarquista com a ética thelemática, não com o oculto que se apregoa a esta última.
O que diz, em síntese, a ética thelemática: cada ato humano é um ato individual de amor, portanto tudo é válido dentro da "lei"; a "lei", que não é o contrato social estabelecido e compreendido por filósofos do século 18, é simplesmente fazer o que a vontade contida dentro de você mandar. E não se preocupe com a vontade em si, ela é uma energia integrada ao Universo, e que inclusive lhe dá vida e mobilidade (como também entendia Arthur Schopenhauer).
Oras, qual o questionamento primordial do ideário anarquista: de onde vem a dita "autoridade"? Esta, diz a anarquia, é um factóide, é algo sintético, produzido pelos homens de forma a legitimar uma sociedade dividida em classes sociais onde as vontades são subjugadas em nome de uma vontade única, geral, maquiada de democracia e que é o autoritarismo por excelência - a figura do Estado.
Ao se deparar com a ética thelemática, esqueça o oculto presente nas palavras de Crowley (como nas inspirações egípcias, as eras cósmicas e o novo éon, os rituais envolvendo orgias e bacanais sem fim), fixe em sua mente esta ideia revolucionária: "todo homem, toda mulher é uma estrela (...) faça o que tu queres, há de ser tudo da lei". Pronto, aqui encontramos algo nitidamente anárquico.
O que nos diz o Estado todos os dias: isso pode, isso não pode, isso é certo, isso é errado, em suma, determinando cada pormenor de nossas vidas, usando o argumento de que sem a tutela deste nós estaríamos uns matando aos outros. Mentira.
O ser humano, e nisso Rousseau acerta em cheio, é um animal gregário naturalmente. Precisamos uns dos outros, não no sentido egoístico, mas que sem uma comunhão com o outro nossas vidas não seguem adiante, a espécie não perdura. O problema é que, de alguma maneira, algo de egoístico ascendeu e gerou a propriedade privada, iniciando a formação de uma sociedade anêmica por nascimento.
O egoísmo é uma deformação da Vontade cósmica, é quando uma ação passa a querer delimitar a ação do outro; do tipo "isso é meu, não é seu", "não entre aqui", "isso é mal", "proibido", etc. E o que a Vontade, de natureza não-egoística, diz: faça o que quiser!
Só que a minha ação, livre, como ato de amor, jamais irá se manifestar como a limitação da vontade do outro, mas como fomento a liberdade de ação do outro. Isso é, de maneira ousada, tentar reunir, na mesma bandeja ideológica homens tão diversos como Bakunin e Crowley.
Viva a sociedade alternativa! Viva a anarquia!
fiquei muito feliz em localizar um blog de um dos professor mais competente deste mundo,estou comtigo e não abro professor,sou o maior e melhor Divulgador de seus trabalhos na internet,sou anarquista cristão sou libertario e sou da luta, recife pe.
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