Nos últimos dias me deparei com um palestrante que vociferava na televisão "quem casa dizendo que se não der certo depois separa deveria ser preso (...) o amor não é um sentimento, uma emoção, é um compromisso", claro que eu ri imediatamente tamanha a bobagem que ali estava sendo dita, mas também ali era a rede de televisão católica, sabemos como funciona.
Depois fui saber que a ovelha em questão se chama Márcio Mendes, e dai então as palavras vociferadas me levam a escrever e refletir sobre o casamento.
O que é o casamento?
É um contrato social, e como qualquer contrato ele é assinado em comum acordo, na presença de testemunhas, no sentido de que diante da sociedade aquele homem/mulher (em alguns países, como na Argentina, já há casamentos homoafetivos) oficializam/legalizam a formação de um núcleo parental.
A ideia equivocada.
Todo contrato prevê cláusulas que definem uma possível "quebra", apontando consequências, etc. Seria então de um enorme anacronismo, de uma prepotência e até ingenuidade defender a ideia que o correto, o normal, seria que este contrato social vigorasse pela eternidade, e pior, com o argumento pobre/metafísico de que aquele ato legal/social fora realizado por uma entidade cósmica e Criadora.
Qual a utilidade do casamento na instituição Igreja?
O casamento, o dito "sagrado matrimônio", tido no Catolicismo como sacramento nada mais é que uma artificialidade sócio-política onde a Igreja garantiria o "controle" sobre aquela família recém organizada, perpetuando a sua condição hegemônica a partir dos núcleos familiares. Tudo é realizado de modo a intimidar o casal, com suas juras eternas perante um suposto "Pai Raivoso e Vingativo".
A Igreja "defende" o núcleo familiar porque sabe que historicamente ali é o locus do domínio sobre as pessoas, ou seja, dar legitimidade a família através do sacramento religioso é uma garantia de permanência daquela família na lógica imposta pela instituição Igreja (por isso façam filhos, muitos filhos, não usando camisinha, para rapidamente vir batizar as criancinhas aqui tornando-as, desde bebês, ovelhas obedientes ao Senhor).
A Igreja quando perde as famílias, quando ela não legitima mais a existência destas (graças ao progresso do pensamento humano, mais libertário) certamente é o prenúncio para o fim, com o surgimento de uma nova era totalmente secular.
Igreja - Casamento e Sexo.
Dai o entendimento para outras práticas do controle religioso como na proibição ao sexo antes do casamento; ou seja, sabedora da força de nossos instintos sexuais ela busca legitimá-lo amarrando o ato sexual ao casamento, transformando o sexo em um compromisso semelhante ao casamento, contudo a essência do ato sexual, até em termos biológicos, não é o compromisso sendo o seu contrário eu diria.
E ai a briga, artificial por excelência, entre a consciência humana e os hormônios sexuais que te dizem "faça sexo, se reproduza, perpetue a sua espécie"; se houvesse mesmo a existência de um Criador ele certamente não puniria ninguém por transar antes do casamento, afinal a máquina humana, supostamente criada por Ele fora feita para transar como para beber, comer, dormir, sem limitações de ordem ética.
O sexo é bom, é gostoso, é prazeiroso, para que possamos não só fazer uma vez, mas milhares de vezes. Isso é uma artimanha do organismo, ele cria prazer de maneira a incentivá-lo a fazer mais, mais, porque afinal não é em toda relação que ocorre gravidez, sendo esta sempre uma possibilidade e nunca uma certeza, dai é preciso, fisiologicamente, mecanicamente, transar e transar muito ao longo da vida - garantindo a continuidade do homo sapiens sapiens.
Percebem porque a Igreja quer controlar o sexo? Porque ele é um artifício poderoso demais, afinal ele garante a continuidade da espécie humana enquanto ser vivente neste planeta. E para isso ele vincula a sexualidade ao contrato social acordado entre casais de homens/mulheres, entre a criação de famílias e a sexualidade; olhe ao redor, no mundo animal, você vê um núcleo familiar com papai e mamãe rinoceronte, papai e mamãe leão? Não, claro que não, pois a natureza, mais sábia que o homem, deixa o sexo fluir como mecanismo natural, ainda mais em animais que possuem uma expectativa de vida bem menor que a nossa.
Eu e o que penso do casamento.
A minha posição é que o casamento deve ser o que é na essência: um acordo, um contrato, que pode ser quebrado ou não por uma série de razões, que cada casal terá e construirá a sua própria história.
Casamento não é feito "para dar certo", isso não existe. Casamento é vontade, é desejo do outro, de estar com o outro e compartilhar com ele. Todo desejo, todo interesse, da mesma forma que surge amanhã ele pode desaparecer.
O importante é as pessoas se respeitarem, procurar fazer e dar o melhor de si, e se o acordo tiver que ser desfeito, no interesse de um ou de ambos (o que não vale é manter-se infeliz diante de alguém que não se quer mais perto, de quem mais não se quer compartilhar) que assim seja.
Digo para quem quiser ouvir: a separação dos meus pais foi uma das melhores coisas que podiam ter acontecido comigo, isso nos idos de 1985 quando eu tinha apenas 7 anos de idade e minha irmã 2 aninhos. Se tivessem mantido aquela coisa doentia, distante, agressiva, desrespeitosa, simplesmente porque impera o medo do castigo divino, do dedo em riste do padre que insiste em dizer que o casamento será salvo milagrosamente sob a intervenção mágica do "Espírito Santo" (espécie de força criada por George Lucas na saga Star Wars), teriam apenas estendido uma agonia familiar, perpetuando uma lógica de esperanças falsas e muito sofrimento; dai eu afirmo, com experiência própria: foi o melhor que pode acontecer, para mim, minha irmã, e meus pais.
As dicas.
Case com quem você ama, pensa em estar junto. Case com quem é gostoso conversar, com quem se deseja.
Faça sexo, com camisinha, sempre, não importa - isso é um pedido do seu corpo e da sua mente, da sua natureza, não o transforme em um monstro de sete cabeças ou em uma estátua de preservação eterna.
Se o casamento se mostrar um erro, não pense duas vezes: procure o seu caminho, estar sozinho não é ruim, é estar aberto para novas possibilidades de construir a sua felicidade.
Não dê ouvidos a padres, pastores, instituições religiosas, textos religiosos, quando o assunto é amor, sexo, esse pessoal lida com isso de maneira conservadora e autoritária, buscando sempre dominar a sua consciência e logo a sua pessoa e os que estão próximos a você.
Legal seu post. Parabéns!
ResponderExcluir