domingo, 21 de novembro de 2010

Jesus e a Ética do Conformismo

É do senso comum, especialmente entre os não-crentes (porque para os crentes e religiosos, ditos cristãos, ele é a encarnação de uma divindade criadora do Universo), de que Jesus de Nazaré seria uma espécie de líder revolucionário do mundo antigo. Permita-me discordar.

Jesus liderou milhares de pessoas, aglomerou centenas ao seu redor, claro que sim. Como era típico do messianismo oriental, dentro de uma ordem repressora como era a Jerusalém dominada pelos romanos, ali uma província romana. Era natural que muitos "messias", muitos salvadores, se apresentassem, especialmente entre o povo judeu (que por convicção religiosa e por historicidade sempre estiveram a espreita pela chegada do salvador que lhes cortariam os grilhões de séculos de escravidão - mesopotâmicos, egípcios, romanos/ todos um dia foram seus senhorios e dominadores).

Apesar disso, de reunir centenas ao seu redor, Jesus estabeleceu uma ética contra-revolucionária e não uma ética revolucionária: ele dá a face ao inimigo, ele aceita o domínio do outro, porque crê na realização verdadeira num pós vida junto ao pai e criador; e assim ele dizia para dar a César o que seria, de fato, de César. Oras, isso é argumento conformista, que aceita o outro como um senhorio menor, mas ainda assim aceita a existência de um senhorio, de alguém que legitimamente lhe impõe domínio e destino.

Jesus não sublevou o povo hebreu contra o domínio romano, não reuniu as massas para a luta por uma vida melhor aqui e agora. Jesus não lutou contra a desigualdade social, mas aceitava-a, pois para este a igualdade real e objetiva estaria no além-vida.

Como pensar em  um Jesus revolucionário quando a sua revolução se baseia num porvir desprovido de objetivo claro e palpável? O fato da vida eterna, fora do mundo terrenal, como valor e crença não poderia, jamais, ser usado como mecanismo de aceitação de um mundo mundano marcado pelo domínio de poucos sobre muitos, de um mundo desigual.

Não quero aqui retirar o valor do homem que transformou-se numa das maiores religiões monoteístas do  planeta Terra, longe disso. Mas é preciso discutir a ideia de Jesus "revolucionário", que em minha opinião, como estudioso das ciências humanas, mostra que isto ele não o foi, nem tencionara ser.

Rousseau, Marx, Lenin, Espartaco, Che Guevara, Bakunin, estes sim demonstram uma ética verdadeiramente revolucionária, de luta e de transformação do mundo real, físico, do aqui e agora  (o resto é abstração, crença e utopia sem episteme alguma); Jesus foi um homem que tivera poder de persuasão entre os seus, que estabelecera uma ética do amor/da conformação-aceitação, e com isso, de maneira resignada, morto na cruz como qualquer ladrão pé de chinelo do mundo antigo e romano, sua história teria se encerrado ali - o que  não ocorreu devido ao trabalho de seus seguidores mundo antigo afora e em especial ao próprio Império Romano, que institucionalizou e instrumentalizou a sua ideologia sob a forma do Catolicismo e do papismo.

3 comentários:

  1. Como estudante de graduação - História, acho importante falar, também, sobre a falta de comprovação científica sequer da existência de Jesus, diferentemente de Buda ou Maomé, por exemplo. Concordo com o que você disse, mas faria uma ressalva que o seu texto fala sobre o mito Jesus, não sobre o homem Jesus.

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  2. Esta ressalva é fundamental, claro, Jesus é uma incógnita assim como Sócrates entre os gregos antigos.
    O "homem Jesus" torna tudo o que eu disse ainda mais relevante, pois a sua não existência significaria que bilhões de humanos estariam adorando uma mentira de mais de dois mil anos, e pior, a institucionalizaram.
    Obrigado e mantenha contato, ou porque não escreva o amigo aqui neste espaço um texto ou um ensaio sobre a polêmica do Jesus histórico.

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  3. Texto genial, meu amigo. Adorando uma mentira conformacionista de dois mil anos... Jesus ensinou o ser humano a ser submisso diante dos piores inimigos e esperar um paraíso icógnito pós-morte. Como o outro amigo do comentário acredito que Jesus sequer existiu. Se existiu foi como um dos muitos Messias que perambulavam pela Jerusalém romana.

    Parabéns e abraços.

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