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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Capela dos Aflitos - a supressão da memória negra na Liberdade.

 Fotos e edição by Roberta Barsotti.





Por alguns dias permanecemos no bairro da Liberdade, em São Paulo, e claro, no senso comum entendido como um local tipicamente oriental, ou pior exclusivamente "japonês" (há coreanos, chineses, tailandeses, por exemplo).
Não, não...a História, mestra Clio, fala de algo bem diferente. A Liberdade carrega este nome a partir de suas origens negras, em especial com o soldado Francisco José das Chagas, o "Chaguinhas", cujo enforcamento não se consumou por 3x quando a corda arrebentou e as pessoas próximas pediam por sua liberdade. Chaguinhas acabou executado enforcado por uma espécie de cinta de couro, condenado no início do século XIX por ter se rebelado contra os baixos soldos dos militares de então.
Chaguinhas foi mais uma vítima, negra, do Largo da Forca (hoje Praça Liberdade-Japão), e ali naquela região/quadra entre os séculos XVIII e XIX havia o Cemitério dos Aflitos (1774) e posteriormente a Capela dos Aflitos (1779). Oras, como assim "aflitos"? Era o local para sepultamento dos mais pobres, dos negros, indígenas, e também dos condenados e executados no Largo da Forca.
Hoje a região está repaginada, a partir da chegada dos orientais em 1912, passando pela instalação das conhecidas luminárias na década de 1970 (presente até mesmo na rua dos Aflitos, de frente a capela e descaracterizando totalmente o local e sua historicidade), e culminando com o acordo entre a gestão Doria/Covas e a loja Ikesaki que renomearam a praça e a estação do metrô como "Japão-Liberdade" em 2018.
A Liberdade, que deveria ser reflexo da nossa diversidade e respeitando a História, virou símbolo de um projeto de exclusão (de caráter racial e social) e de gentrificação (elitização de uma área).
Uma pena que na visita dos últimos dias a Capela estava fechada, e as missas são realizadas ali apenas às segundas-feiras para um pequeno público de até 20 pessoas.
O local é identificado por sensitivos como um ambiente de sofrimento, onde muitas almas perdidas buscam por luz.
E tem gente que ainda duvida da utilidade do conhecimento histórico....ele é capaz de conscientizar, identificar, dar sentidos (caráter teleológico), desnudar a realidade. O olhar do historiador é, realmente, "além do alcance" como diria o líder Thundercat!

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Curitiba: aprender é sair nas ruas.

Por cerca de quatro dias permaneci na capital paranaense. É de conhecimento quase comum afirmar que a cidade de Curitiba (antiga Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, séc. XVII - e os pinheiros/araucárias são parte constante e viva de sua paisagem, daí o nome de origem guarani quanto a grande quantidade de pinheiros) preza pelo seu vanguardismo, modernidade. Cidade "modelo", símbolo de organização, racionalidade, asseio. 


Não é incomum o meu ceticismo. E habituado com a vida aqui do Sudeste e de suas metrópoles e mazelas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte em especial), o meu olhar perante a cidade modelo dos paranaenses à todo instante buscava realizar conexões e desconexões com as três capitais aqui elencadas. E a conclusão reforça o olhar comum: cidade bela, arborizada, organizada, limpa.

Mas, há nuances que eu só pude observar in loco
- uma juventude de personalidade, e não foram poucos àqueles que na aparência já transpiravam transgressão, em especial nas múltiplas/conjuntas cores de cabelos e até barbas.
- uma miscigenação intensa, marcada pelos múltiplos encontros de portenhos, japoneses, ucranianos, italianos, poloneses, alemães, gáuchos, paulistas e nordestinos.
- o design e o urbanismo, reforçando o sentido de estar dentro de uma cidade planejada/pensada. 


Foi uma ótima experiência, reforçando que viajar é, verdadeiramente, uma estratégia de aprendizado vivo. O intelectual de gabinete pode até apresentar análises bem fundamentadas, mas reunir estas capacidades com a experiência sensível, estar entre as pessoas, lugares, paisagens, enriquece, exponencialmente, aquilo que os filósofos alemães denominam "Weltanschauung": a visão de mundo.



Ler é essencial, escrever também. Porém, ao preparar sua bagagem, sair da rotina e da casa, portanto viajar, apreende-se um novo vocabulário, assim podemos dizer. Vocabulário que aglomera pessoas, culturas, espaços, histórias, idiossincrasias, sabores, cheiros, observações.
tradicional barreado

Estes dias no Paraná, que não foram assim tão planejados, acabaram sendo momentos de real aprendizagem. E não só deixo a dica para os que me lêem para conhecer a cidade, como mais que nunca enquanto educador fica a certeza de que não há conhecimento real sem botar os pés nas ruas.



domingo, 10 de julho de 2016

É possível uma escola (ensino) sem partido?

A partir da participação do colega historiador Leandro Karnal no último "Roda Viva", exibido em 04/07/2016, foi elencado um debate sobre a possibilidade ou impossibilidade de uma "Escola sem Partido", projeto que eu particularmente desconheço. Karnal posicionou-se extremamente contrário ao projeto, desafiando todos nós a apresentarmos uma aula, especialmente uma aula de História (que no particular é o meu ganha-pão) onde não estivesse presente algum componente político.

O filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., conhecido youtuber, rechaçou a argumentação de Karnal rememorando os exemplos culturalistas, especialmente os franceses da revista Annales, e até mesmo quando do trato com a história da ciência, etc.

Esta é uma questão polêmica. Toda aula de história tem algum componente político?

Corremos um sério risco, reduzindo a ciência histórica como parte de um fenômeno, seja político, cultural, narrativo.

Entendo que para desnudarmos adequadamente a questão devemos lembrar, sempre, onde afinal acontecem as aulas de História. Claro, no ambiente escolar. E sob duas características preponderantes: na modalidade da educação básica, e em escolas da rede pública de ensino.

E aqui está, no meu entendimento, a chave do "castelo" para responder se é possível ou não uma "escola sem partido" - ensinamos, eu, praticamente todos os professores brasileiros (mesmo que em algum momento da carreira docente) numa escola pública, que dados indicam reunir mais de 80% dos estudantes do país.

A escola pública é, essencialmente, parte componente do Estado, enquanto instituição, seja em níveis municipal, estadual ou federal. E se é parte do Estado, se mantém vínculos estruturais e institucionais com aquilo que politicamente definimos como Estado, logo, ela é parte do "poder".

E por esta qualidade, intrínseca ao Estado, a escola pode até pretender ser "sem partido", mas ela concretamente não o será, porque a educação não ocorre fora de uma estrutura social, ampla, e enraizada no poder, nas instituições.

A discussão vem à luz, nos dias que vivemos no Brasil, em face a uma espécie de luta contra a esquerda, que estaria se utilizando da cultura, e aqui inserida a escola, para doutrinar gerações de modo a perpetuar grupos no poder (vide os anos Lula-Dilma). E assim, se justificaria uma vigilância ou reorientação ideológica nas escolas, de maneira a torná-la sem partido. Mas, como isso é possível se a escola é ligada ao MEC, às secretarias de municípios e estados, recebe investimentos internacionais como do Bird, é organizada segundo interesses e visões de partidos e grupos de intelectuais ligados a partidos, que sustentam programas de governos de prefeitos, governadores, etc.

Caso a educação fosse um componente pessoal, do núcleo familiar preparando os seus jovens, talvez poderíamos pensar numa escola apolítica. Porém, a escola é serviço social, organizada numa rede, num sistema, que foram estruturados muito mais por burocratas do que por educadores. E aqui, como descartar a existência do componente político, mesmo se em sala de aula você está ensinando os hábitos culturais dos povos ameríndios pré-colombianos? Quem definiu que você deve ensinar isso? E quando? E por quanto tempo? E que informações passar? Como avaliar se os alunos aprenderam? Quais os sentidos de se aprender isso, para a realidade vivida pelos seus alunos?

Mesmo com toda a abordagem culturalista, marcante na historiografia das últimas décadas, o ensino é uma prática, sine qua non, política.


sábado, 20 de fevereiro de 2016

Passado e presente, a relatividade do conhecimento histórico

Há tempos eu falava, escrevia, que o sentido de estudar e conhecer a História não era, pura e simplesmente, ir ao passado pelo passado, visitá-lo como algo inerte, morto.

A justificativa para o trabalho, quase detetivesco, do profissional da História, recai sobre o tempo presente, ou seja, são as necessidades e questionamentos do hoje que tornam necessário a ida ao passado, ressuscitando-o de um sono profundo, não da morte definitiva. O passado e o presente são parte de uma totalidade viva, confundida com a própria existência.

O passado vive, em conluio com o tempo presente, não como um saudosismo ingênuo, mas como um referencial constante, uma medida.

Costumo em sala de aula, no trato com o tema da "Teoria da História", comum quando se quer definir a nossa disciplina, mesmo na educação básica com crianças e jovens, dizer que para nós historiadores infelizmente não se construiu uma máquina do tempo, para que pudéssemos, in loco, tirar análises e conclusões mais fidedignas com a realidade da época e da vida. Temos então que tirar o "pó da sala" e caçar migalhas no chão, através do uso de uma infinidade de fontes históricas que nada mais são que um mosaico do real, ou como um gigantesco quebra-cabeças que talvez nunca se complete. E assim, o fazer história é um eterno projeto, é um fazer-se constante.

Isso é que o dá sabor às humanidades, e fica até mesmo difícil pensar em consagrar teses, falar em verdades, dar veredicto. O terreno das ciências humanas é acidentado, e você pode ficar decepcionado porque o caminho parece não ter fim, mas a graça deste fazer-se é justamente o andar, o caminhar, não o destino.

Aquele que procura pela verdade vai se decepcionar, pelo menos se depositar todas suas fichas nas humanidades. Estou sendo relativista? Como não o ser... 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Trabalhando o vídeo "Camisetas Viajando"



Este vídeo é parte da proposta pedagógica do Estado de São Paulo no ensino de Geografia para os alunos do 8º ano dos anos finais do ensino fundamental.


Minha Análise

O documentário é, realmente, muito bom. Realiza uma crítica, sempre necessária, ao processo excludente da Globalização, ou melhor, da imposição do chamado "Livre Mercado".

No centro do que apresenta o vídeo temos a Zâmbia, país africano que, assim como outros, é refém de uma economia tão fragilizada que só resta à grande parte da população viver do comércio e consumo de produtos de segunda mão, doados em grande medida pelos países ricos do norte (EUA e Europa).

O interessante é que o vídeo não se limita a esta questão, e através de um pequeno levantamento histórico da Zâmbia, de seus recursos (em especial o cobre, tornado base da economia do país após sua independência), procura alavancar as causas, os fundamentos, que deixaram o país na miséria (com 80% da população vivendo em situação de extrema miséria). E aqui, então, cabe a análise crítica da globalização, e vemos como organizações supranacionais como o Bird e o FMI, concedem empréstimos impagáveis em troca do comprometimento social do país, especialmente impondo programas econômicos de caráter liberal, aprofundando a tragédia infraestrutural do país (aqui no Brasil, em meados dos anos 90, vivenciamos o gosto amargo destas políticas).

Entendo que, dependendo da turma que o professor tiver em mãos, não seria má ideia trabalhar, antes da exibição do vídeo, uma série de conceitos como "Globalização", "Livre Mercado", "Indústria Cultural", "Colonialismo", "Imperialismo", "Fundo Monetário Internacional", "Banco Mundial", "Liberalismo", e por fim, trazer aos alunos informações sobre a Zâmbia, sua história, dados sociais e econômicos deste país, e assim fundamentar melhor os alunos, de maneira a tornar mais compreendido o próprio documentário.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Como trabalhar o conceito de "Fundamentalismo"?

Nas minhas aulas de História com os alunos do 7º ano estamos estudando o antigo Império Bizantino, que por séculos (em especial sob governo de Justiniano I) permaneceu como herdeiro direto do que um dia foi o poderoso Império Romano, e que por fim caiu em 1453 nas mãos do sultão turco-otomano Maomé II. O interessante de aulas como esta é que obrigam o professor a vasculhar textos e informações sobre o Oriente, e claro, as relações entre Ocidente e Oriente. Deparei-me então com uma obra que considero didática e fundamental de nossa historiografia, do gaúcho Voltaire Schilling "Ocidente x Islã: uma história do conflito milenar entre dois mundos" (editora L&PM), que traz no capítulo 35 "A política do fundamentalismo".

Segundo Schilling, e compartilho seu pensamento, o conceito de fundamentalismo é "todo e qualquer movimento religioso que tende a interpretar a realidade de hoje através dos olhos de antigos preceitos religiosos e que renega os valores da modernidade".

E aqui a razão do texto - quando falamos em fundamentalismo numa sala de aula logo vem a mente a lembrança, terrível, dos "shahids" (mártires) que tiram a vida em nome do Islã, por exemplo em inúmeros atentados realizados por homens e até crianças (como faz o Boko Haram na Nigéria com meninas bem jovens) tornadas bombas-humanas! O que pouco se dialoga é que o fundamentalismo possui raízes, históricas, com o Cristianismo também e em especial o cristianismo protestante norte-americano.

Os Estados Unidos das primeiras décadas do século passado viu ruir uma "velha e tradicionalista América" e ascender uma América nova, jovem, liberal e consumista. Evidenciada, como exemplos na "American way of life", na indústria automobilística, no rock'roll, na televisão. A consequência disto, diz Voltaire Schilling foi que:
"Os pastores das igrejas batistas, presbiterianas, episcopais e adventistas apontaram seu dedo acusador para o pecado da modernidade. Defendiam, em substituição ao milenarismo (que, apocalíptico, predizia o fim do mundo para breve), o chamado Segundo Advento de Cristo. Cristo estaria em breve entre nós (...) Era preciso retornar aos antigos costumes, aos antigos ensinamentos, apegar-se à Bíblia como a única salvação em um mundo dominado pelo materialismo, pelo ateísmo e pelo descaso com as coisas da fé. Desta forma, Cristo ao retornar, reconheceria a sua obra".
Em 1920, um ano depois da criação da WCFA (Associação Mundial dos Cristãos Fundamentalistas), os Estados Unidos aprovaram a conhecida Lei Seca que entendia como crime a venda e consumo de bebidas alcoólicas - mostrando que o tradicionalismo cristão tinha ainda força e apelo em parte da sociedade. Contudo, hoje sabemos o resultado desta política conservadora: alimentou, com dinheiro e violência, o crime organizado (vide a história, muito explorada, de Al Capone e como ele comandava o crime nas ruas de Chicago).

Assim, devemos trabalhar com nossos alunos a noção correta e multifacetada do que é, verdadeiramente, o "fundamentalismo". Ser fundamentalista não é exclusividade de um grupo, de uma religião, nada disso. Ser fundamentalista é muito mais uma atitude, geralmente anacrônica e intolerante, que pode ser encontrada não somente em grupos religiosos mas em ideologias políticas, questões raciais e de gênero, etc.


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Como e por que ensinar a histórica Babilônia

É comum que o professor de História trabalhe os povos mesopotâmicos de maneira distante, rápida, desinteressada. Em parte, isso ocorre porque somos ocidentalizados, receptáculos históricos de gregos e romanos. O Ocidente, no qual estamos inseridos geográfica e historicamente (mesmo que por força da violenta colonização lusitana), realmente apresenta como arcabouços fundantes o "tripé": jurisdição romana, ética judaico-cristã, e filosofia grega. Mas como estudar tão desinteressadamente povos que por exemplo desenvolveram ideias sólidas na Astronomia, Matemática (os 360º de uma circunferência, a organização dos doze meses e semanas de sete dias, etc), e que antes mesmo dos romanos darem as "suas caras" já apresentavam um "Código de Leis"? Ressalto que os romanos, ainda em meio a intromissão etrusca, datam do século VII a.C, e os mesopotâmicos já mostravam seu poder e esplendor entre os séculos XIX aC - XVIII aC quando do chamado "Primeiro Império Babilônico". Há uma outra explicação para tal desinteresse ocidental, de ordem ético/moral. 

Dentro do Cristianismo, e da Palavra de Deus, há traços e eventos ocorridos entre os mesopotâmicos como no chamado "cativeiro caldeu" por parte do povo de Israel, sendo destaque as profecias proferidas por Daniel (encontradas na forma de livro do Velho Testamento). Daniel viveu dentro do chamado "Segundo Império Babilônico", onde o poder e força babilônico foram recuperados pelo povo caldeu (localizado ao sul da Mesopotâmia, nas margens do rio Eufrates) após tempos de dominação assíria sobre a região. Foi a época do reinado de Nabucodonosor...que é muito mais que "o nome de uma nave na trilogia Matrix"! 

Dentro da ética/moral cristã a "Babilônia" acaba sendo adjetivada como símbolo, ou metáfora, para identificar um povo que está distanciado de Deus, longe de seus princípios e vivendo de maneira luxuriosa, mundanizada, secularizada e humanista no sentido mais arrogante que o termo poderia carregar. No livro do Juízo da humanidade, a "Revelação" (Apocalipse) traz a vitória final da justiça de Deus sobre os pecados deste mundo, numa batalha épica (Armagedon) entre as forças de Jesus/Miguel contra Satã/Grande Babilônia. Como educadores, como profissional da História, devemos ter o cuidado de separar aquilo que é "A Grande Babilônia", simbolismo religioso, do que realmente foi a histórica Babilônia dos amoritas, do código de Hamurábi, dos fantásticos zigurates, dos jardins suspensos de Nabucodonosor, do desenvolvimento matemático, linguístico, social, pois foram os primeiros povos a formar o que conceituamos como "civilização".

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Abraham Lincoln, corrupção e libertação jurídica dos negros

Nesta virada de ano consegui um tempo para assistir ao bom filme-político "Lincoln", dirigido pelo consagrado Steven Spielberg, onde o presidente estadunidense é representado pelo genial Daniel Day-Lewis.
Centralizando as atenções é representada toda a politicagem em torno da aprovação ou não-aprovação da 13º Emenda Constitucional que colocava na ilegalidade o trabalho servil-escravo em todo o país, sob os interesses do 16º Presidente (republicano) Abraham Lincoln (1809-1865) - já em início de segundo mandato e líder nortista em meio a guerra civil ou "Secessão" (1861-1865).
Até então pouca novidade, e o interessante desta película faz-se pelo seguinte:
A desmitologização de Lincoln, apresentado como um marido ausente *, infeliz em seu casamento (casado com Mary Todd), e também um político mais pragmático do que idealista (ele arquiteta na Câmara dos Deputados um verdadeiro xadrez movido pelo velho toma lá dá cá ** institucional, negociando cargos no novo governo em troca dos votos favoráveis de parte da bancada democrata).
A colagem um pouco forçada para a contemporaneidade do governo democrata de Barack Husein Obama, interligando a luta pela liberdade jurídica (não racial ou etnica) dos antes escravos negros para os tempos de hoje, onde um "negro" governa a superpotência global. Vale o texto de Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinícius de Morais que afirmam:
"Mesmo se constituindo como dois mundos bastante diferentes, um, ao Norte, e o outro, ao Sul, a ideia da superioridade do homem branco era comum e inquestionável em ambos. Nos dois mundos, os negros estavam fora das decisões políticas e eram vítimas de preconceito, principalmente no Sul, onde a escravidão era garantida por lei." História dos Estados Unidos - das origens ao século XXI. ed. Contexto, p. 129

Notas:
*A ausência de Abraham pode ser entendida seja devido a sua posição política ou até mesmo por problemas de relacionamento com a esposa mais velha, evidenciados na perda de um dos filhos, em que ela acusa o marido de negligência com a doença e morte do menino - com o pai tomado pelas questões da guerra civil. Lincoln chega a cogitar interná-la em uma clínica de repouso/psiquiátrica.
** O uso de cargos na administração pública, garantia de boa posição e salários, como troca por apoio político em importantes debates nacionais faz-nos rememorar, espontaneamente, a "realpolitik" brasileira de posse do lulopetismo.
A mitologia democrática construída em torno de Abraham Lincoln, monumentalizada em Washington DC, parece-nos incompatível com o jogo sujo da política institucional apresentado na película. Na obra de Spielberg Lincoln sai da auréola de mito e veste a cartola preta de homem pragmático e calculista.



quinta-feira, 2 de maio de 2013

Misericórdia indianista e preconceito racial no Brasil colonial

Em sala de aula tenho debatido com alunos do sétimo ano do ensino fundamental as razões que levaram à escravização dos africanos, e não dos indígenas brasileiros (aqui viventes e em grande número) dentro do processo de acumulação primitiva de capital desenvolvida pela empresa colonialista portuguesa.

Uma das possíveis razões para esta escolha, que condenou milhões de negros a uma humilhante condição e por mais de século, foi a proteção recebida pelos indígenas de parte do catolicismo - em especial da Companhia de Jesus e seus jesuítas (ávidos por evangelizar os nativos ameríndios).

A minha análise é de que ao vislumbrar os nativos do Brasil em toda a sua simplicidade, e até mesmo ingenuidade, dentro de um ambiente tropical e de diversidade ambiental-natural, os padres jesuítas devam ter visto um pouco do Gênesis bíblico diante de seus olhos.

O indígena, em relação umbilical à natureza, andava praticamente nu. Sua nudez sendo encarada com naturalidade, e portanto sem vergonha desta condição. Vide o primeiro homem criado por Deus, Adão, que andou por sobre o Paraíso em completa nudez, sem vergonha alguma ou mesmo consciência de um julgamento moral mais profundo ou deturpado (aqui a ingenuidade adônica). O pecado, incrustado na árvore do fruto proibido, e motivado por Satanás, é o fato que desencadeia em Adão o sentimento de vergonha.

E assim, os olhos de padres jesuítas ao vislumbrarem nossos nativos ameríndios em solo tropical enxergavam nestes uma espécie de reflexo do que foi Adão vivente no Paraíso. E aos negros, qual a postura destes mesmos homens tementes a Deus?

Com certa perplexidade os alunos reconhecem que a igreja romana, no que tange à empresa escravista moderna, tivera uma posição de contraditória indiferença. Silenciou-se, como silenciará no século XX com a solução final hitlerista que jogou milhões de judeus nos campos de trabalho forçado. Ou seja, ao índio proteção e romantização (que encontrará ápice na literatura indianista do século XIX, marcadamente influenciada pela filosofia das Luzes, em especial nas ideias de Jean-Jacques Rousseau), e ao negro africano indiferença e silêncio (essencialmente racialistas).

segunda-feira, 25 de março de 2013

EVIDÊNCIAS - A história do Papado, 2013 TVNovo Tempo

domingo, 24 de março de 2013

Professor Gonçalo


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"Como fazer seu filho gostar de História" - Revista Eletrônica Educar para Crescer (matéria com contribuição minha)

HISTÓRIA

Como fazer seu filho gostar de História

Conversamos com professores premiados para conseguir dicas de como estimular seu filho a gostar dessa importante disciplina


23/09/2011 16:57
Texto Iana Chan
Educar
Foto: Essa atividade pode ajudar seu filho a entender a noção de tempo e da relação de dependência entre passado e futuro
Essa atividade pode ajudar seu filho a entender a noção de tempo e da relação de dependência entre passado e futuro
Seu filho não gosta de estudar História ou tem notas baixas? Às vezes é difícil entender a utilidade dessa disciplina quando se é mais novo e o formato da aula pode não colaborar para despertar interesse. Porém, ressaltar desde cedo seu estudo é crucial, porque além de ser importante por si só, a História também ajuda a entender melhor Literatura, Geografia, Sociologia, Filosofia, Artes etc.

Estudar História não se resume a decorar datas e nomes. Na verdade, isso é só uma pequena parte do conhecimento que essa matéria pode oferecer. Mais importante do que saber quando foi o descobrimento do Brasil, é conseguir relacionar os fatos e perceber que as transformações de uma sociedade não são naturais ou espontâneas, mas determinadas por uma série de fatores anteriores.
Sempre que tentamos entender por que alguma coisa aconteceu, seja a Inconfidência Mineira ou uma nota baixa na escola, estamos empregando o pensamento histórico, isto é, a busca pelos fatores que originaram esses acontecimentos. “A história não é o estudo do passado pelo passado, é necessário ir ao passado para a compreensão de todos os questionamentos do tempo presente”, explica o historiador Tiago Menta.

Enquanto algumas lições precisam ser aprendidas na pele, existem outras que podemos dispensar a experiência, como a resolução de conflitos por meio de guerras. “Sem a História toda a humanidade desconhece seus êxitos, fracassos, conquistas e está sujeita a cometer um mesmo equívoco novamente”, ressalta o professor da disciplina Marcus Vinícius Leite.

Esse raciocínio capaz de entender o que existe por trás dos fatos, explicam os professores, forma também um cidadão melhor. “Não é possível conciliar cidadania com ausência de conhecimentos históricos, noções de tempo-espaço, noções de fenômenos processuais (a história como processo humano, social, cultural e político)”, explica Tiago Menta. E esse conhecimento é constantemente exigido pela sociedade, seja no momento de votar ou de posicionar-se diante de algum conflito social, como o racismo.
Assistir filmes com temas históricos
Existem muitos filmes ambientados em diferentes épocas históricas. Assisti-los com seu filho pode ser a deixa para vocês conversarem sobre o período. Desenhos como Hércules, que retrata o herói mitológico na Grécia Antiga, e Mulan, lenda chinesa que se passa no período das Dinastias do Norte e do Sul, ambos da Disney, também podem render boas conversas. Faça perguntas que estimulem a imaginação da criançada: Como será viver nessa época? Do que será que as crianças brincavam? O que comiam? O que vestiam? Quais são as principais diferenças entre o mundo atual e o retratado? Enfim, aproveite o que estão vendo na telinha para instigar a curiosidade de seu filho por outros tempos e civilizações.
Construir a árvore genealógica da família
Essa atividade pode ajudar seu filho a entender a noção de tempo e da relação de dependência entre passado e futuro, além de ser uma oportunidade para estreitar os laços entre vocês. A professora Elaine Rodrigues de Paula, da cidade mineira de Catas Altas, levou o Prêmio Educador Nota 10 desse ano, da Editora Abril, com o projeto "Objetos e Costumes de Nossos Antepassados", propondo o resgate da história da cidade e da família de cada aluno. Ela aconselha a aproveitar o período das festas de fim de ano para realizar esse trabalho - que pode ser, inclusive, um presente inesquecível para toda a família. "Procurem por fotos, vídeos e outros documentos para resgatar a origem da família. Desenhem a árvore genealógica até onde puderem, mostrando os casamentos ocorridos ao longo do tempo. Escrevam mini-histórias dos parentes mais distantes", enumera a professora. Na reunião da família, mostre o produto para todos e convide os parentes mais velhos para contar alguns "causos". A diversão estará garantida!
Visitar museus
Já dizia a sabedoria popular: quem vive de passado é museu. E é verdade. Visitar museus é uma estimulante viagem pelo tempo. O contato com objetos antigos, marcado por uma estética de cores e formas, é um prato cheio para falar de História e possibilita que seu filho veja tudo aquilo que ele aprende em sala de aula. Além disso, a valorização do acervo do museu mostra a o cuidado com a preservação da história, o que faz seu filho perceber a importância dada à disciplina.
Discutir feriados históricos
Como geralmente os professores já trabalham o significado dos feriados históricos, a dica é pesquisar em livros ou na internet algumas curiosidades em relação ao dia. "A participação dos pais é fundamental", testemunha Elaine Rodrigues de Paula, da cidade mineira de Catas Altas. Comece a conversa com "Você sabe por que hoje é feriado?" e vá contando o que descobrir na sua pesquisa. "Quando o filho percebe o interesse dos pais pelos conteúdos escolares aprendidos, quase naturalmente ele passa a prestar mais atenção nas aulas, para conseguir responder às perguntas em casa", explica a professora Elaine Rodrigues de Paula, que testemunhou a melhora do desempenho escolar de seus alunos ao propor um trabalho de resgate da história da família com a ajuda dos pais. Pelo projeto "Objetos e Costumes de Nossos Antepassados", ela levou o Prêmio Educadora Nota 10 da Editora Abril.
Aproveitar as deixas do dia a dia
A História permeia todo o presente, mesmo que não percebamos: nossas vidas estão perpassadas pelas escolhas de pessoas que viveram antes de nós, basta prestar atenção. Nas placas de ruas, nomes de escolas, praças e parques muitas vezes vivem personagens históricos da cidade ou do país. Que tal pesquisar junto com seu filho quem foi a pessoa que nomeia a rua onde moram ou onde passeiam? "Descobrir o que ela fez, em que período viveu e o que acontecia nessa época, pode ajudar a criança a se interessar pelo passado, e consequentemente pela História", afirma a professora Elaine Rodrigues de Paula, nomeada Educadora Nota 10 pelo Prêmio Victor Civita da Editora Abril. Além disso, procure se informar, assistindo ao telejornal, por exemplo. "Se a pessoa se interessa pelas questões cotidianas o apelo da História é inevitável. Não há como tratar a desigualdade social brasileira sem pensar na escravidão, só para citar um exemplo", comenta o professor de História Marcus Vinícius Leite, de Belo Horizonte, Minas Gerais, que venceu em primeiro lugar o Prêmio Microsoft Educadores Inovadores, com o projeto Rádio História. Seus alunos tiveram que pesquisar e gravar noticiários de rádio como se estivessem acompanhando os fatos históricos, como a Queda do Muro de Berlim. "Muitos passaram a entender que o processo histórico é mais complexo e em muitos momentos bem mais interessante do que geralmente trabalhamos em sala de aula", finaliza o professor.