domingo, 15 de abril de 2012

Orar na escola? Não, orar no templo sim!

Tempos atrás tivemos o triste caso de uma "educadora" que reprimia estudante (Ciel  Vieira de 17 anos de idade) por este negar-se a orar o "pai-nosso" momentos antes da entrada em sala de aula, o que era prática comum daquela escola da rede pública no interior de Minas Gerais (Escola Estadual Santo Antônio, em Miraí - localizada a 335 km de Belo Horizonte na zona da mata), onde os alunos eram amontoados na quadra esportiva e obrigados a orar pouco antes do sinal de entrada em sala de aula).
Este caso é um bom exemplo de como ainda alguns "profissionais" encaram a educação ou mesmo o sentido de educação pública - de forma anacrônica. 
Muitos colegas, infelizmente, reproduzem em milhares de escolas públicas Brasil afora um modelo de educação arcaico, carcomido, rançoso e que tem por herança décadas de governo militar em nosso país (1964-1985); dai a mistureba religiosa com o dia-dia escolar, típica de uma educação conservadora, e que pertence a uma época onde o Estado brasileiro não só engatinhava como Estado, como também vivíamos uma época onde boa parte de nossa população tinha uma formação ou mesmo estava imersa em uma cultura predominantemente católica. Hoje, progressivamente, vivemos novos e melhores tempos.
Vivemos em um Estado democrático de direitos (mesmo que isso na prática, na vida concreta dos brasileiros, possa não transparecer fazer tanta diferença) e este pressupõe o respeito a diversidade, inclusive a religiosa (incluso o direito de não se posicionar religiosamente ou mesmo de se manter cético diante do fenômeno religioso, como eu que declaradamente manifesto-me enquanto ateu).
Obrigar um estudante a orar, reunir os estudantes para orar, é uma violência cultural, uma repressão psicológica, quando estamos diante de uma pluralidade, e oras, a escola pública é pluralidade pura! Dentro desta temos cristãos os mais diversos (testemunhas de Jeová, adventistas, batistas, neopentecostais, quadrangulares), seguidores de religiões africanas (eu mesmo já convivi por dois anos com colega professor de Geografia que cultuava a umbanda, e dava as suas aulas todo de branco, sendo um excelente profissional por sinal), agnósticos e ateus, como o jovem daquela escola mineira que se recusara a orar.
O que aconteceu naquela escola pública do interior poderia ser comparado a eu chegar em sala de aula e dizer categoricamente aos alunos que o "deus" em que eles e suas famílias depositam fé e culto não mais é que bobagem, idiotice, impondo aos meus estudantes as minhas convicções ateístas! Não, não.
A escola pública, como entidade do povo e para o povo, deve abraçar alunos, funcionários e comunidade na sua diversidade, encarando a mesma não como problema mas como fenômeno democrático e pluralista. Na escola, na sala de aula, trabalha-se com o conhecimento científico, cultural, e a fé das pessoas, as instituições religiosas devem ser trabalhadas em sala de aula sob este viés: laicidade, objetividade, e amparadas por fundamentação científico-cultural.
Em minhas aulas de História, com o ensino médio regular ou com os Ejas, a temática religiosa (casca de banana para qualquer educador) é tratada com rigor teórico e com o cuidado de não provocar proselitismos, como digo sempre "não estou aqui questionando a fé de ninguém, e sim trabalhando a religião de acordo com a ciência histórica, e pela ciência histórica ela é fenômeno social, político e principalmente cultural".
E assim, devemos sempre reafirmar o obvio: professar a sua fé, dividir e comungar experiências religiosas, reproduzir ritos, são coisas que tem lugar, ou seja, dentro do templo e perante a comunidade comum; no ambiente público, jamais!

 

2 comentários:

  1. PARABÉNS, PARABÉNS!
    Seu Blog, assim como seus vídeos no youtube, são lúcidos e incrivelmente bem explicados...
    um abraço!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado por prestigiar, abraços do amigo professor!

    ResponderExcluir