quinta-feira, 2 de maio de 2013

Misericórdia indianista e preconceito racial no Brasil colonial

Em sala de aula tenho debatido com alunos do sétimo ano do ensino fundamental as razões que levaram à escravização dos africanos, e não dos indígenas brasileiros (aqui viventes e em grande número) dentro do processo de acumulação primitiva de capital desenvolvida pela empresa colonialista portuguesa.

Uma das possíveis razões para esta escolha, que condenou milhões de negros a uma humilhante condição e por mais de século, foi a proteção recebida pelos indígenas de parte do catolicismo - em especial da Companhia de Jesus e seus jesuítas (ávidos por evangelizar os nativos ameríndios).

A minha análise é de que ao vislumbrar os nativos do Brasil em toda a sua simplicidade, e até mesmo ingenuidade, dentro de um ambiente tropical e de diversidade ambiental-natural, os padres jesuítas devam ter visto um pouco do Gênesis bíblico diante de seus olhos.

O indígena, em relação umbilical à natureza, andava praticamente nu. Sua nudez sendo encarada com naturalidade, e portanto sem vergonha desta condição. Vide o primeiro homem criado por Deus, Adão, que andou por sobre o Paraíso em completa nudez, sem vergonha alguma ou mesmo consciência de um julgamento moral mais profundo ou deturpado (aqui a ingenuidade adônica). O pecado, incrustado na árvore do fruto proibido, e motivado por Satanás, é o fato que desencadeia em Adão o sentimento de vergonha.

E assim, os olhos de padres jesuítas ao vislumbrarem nossos nativos ameríndios em solo tropical enxergavam nestes uma espécie de reflexo do que foi Adão vivente no Paraíso. E aos negros, qual a postura destes mesmos homens tementes a Deus?

Com certa perplexidade os alunos reconhecem que a igreja romana, no que tange à empresa escravista moderna, tivera uma posição de contraditória indiferença. Silenciou-se, como silenciará no século XX com a solução final hitlerista que jogou milhões de judeus nos campos de trabalho forçado. Ou seja, ao índio proteção e romantização (que encontrará ápice na literatura indianista do século XIX, marcadamente influenciada pela filosofia das Luzes, em especial nas ideias de Jean-Jacques Rousseau), e ao negro africano indiferença e silêncio (essencialmente racialistas).

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