quarta-feira, 2 de julho de 2014

A filha de uma pedinte

Dias atrás estava, tranquilo, nas imediações da nova rodoviária de Campinas, à espera de um ônibus que me trouxesse para casa, aqui em Atibaia-SP. Após um almoço leve numa loja da rede "Subway", sentei-me próximo a lanchonete e estava arrumando alguns documentos quando, de repente, fui surpreendido por uma jovem grávida que segurava na mão direita uma menininha, de nome Talia, que devia ter entre seus 3 a 4 aninhos de idade.
A jovem inicialmente mendigou, pediu dinheiro, o que de pronto e objetivamente recusei. Insistente, a jovem me olhou nos olhos, com vergonha e certa melancolia, e disse: "moço, então paga alguma coisa pra minha filha comer"...
Se tem uma coisa que me deixa um pouco transtornado é ver crianças sofrendo, doentes, abusadas e violentadas, lances do tipo que a toda hora a gente se depara na televisão e nas ruas deste país pobre e desigual, muito desigual. Depois que a minha Catarina nasceu, hoje com pouco mais de 8 meses de vida, este meu transtorno e repulsa pelo sofrimento dos pequeninos multiplicou-se aos milhares. Essencialmente, idealmente, criança não poderia sofrer - contudo, sei que a realidade da vida humana é diferente!
Olhei pro lado, pouco dinheiro disponível, mas daria para comprar um bom sanduíche do dia na mesma lanchonete (em torno de R$ 7,90); e assim respondi a jovem "mãe, pode ir ali e comprar um sanduíche (apontando qual) daquele pra criança", e ela, com mais vergonha, dizia "mas moço, eu não sei pedir estas coisas não (porque o sanduíche é montado).
Me levantei, enfrentei novamente a fila de clientes, para espanto dos que estavam próximos de mim nas demais mesas, e após a espera montei um bom sanduíche pra pequena Talia, que comeu de imediato ao receber o pouco, mas era o que eu poderia fazer ali naquela circunstância.
Chamei a mãe, inclinei-me próximo da criança e perguntei seu nome, ela disse "Talia"....se não me engano nome de uma atriz mexicana destas novelas que vez ou outra o SBT passa pela centésima vez. E assim, comendo o sanduíche de mãos dadas a sua mãe, elas foram embora e ao retornar pra minha mesa veio a imagem da minha filhinha na mente, e eu chorei.
Pensei em Jesus quando diz no Evangelho de Mateus 25: 35-40
"Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar. Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar? Então o Rei lhes responderá: Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizerem isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que fizeram".
Voltei pra casa pensando na sorte e no infortúnio de milhões de criancinhas do Brasil, entregues a miséria, a desnutrição, a falta de oportunidades ou mesmo de amor e calor familiar. Pensei na pequena Talia, na minha Catarina, certo de que o Espírito Santo de Deus tomara posse do meu agir, retirando o egoísmo que há no meu ser, fazendo o bem, por menor que seja, ao próximo, de maneira a repetir, minimamente, a caminhada do nosso Senhor.

Um comentário:

  1. Eis a grande diferença entre a teoria e a prática: o amor que nos impulsiona a um agir positivo diante dessa realidade tão hostil e tão cheia de aberrações sociais.

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