domingo, 1 de agosto de 2010

Reflexões sobre Casamento e Sexo

Nos últimos dias  me deparei com um  palestrante que vociferava na  televisão "quem casa dizendo que se não der certo depois separa deveria ser preso (...) o amor não é um sentimento, uma emoção,  é um  compromisso", claro que eu ri imediatamente tamanha a bobagem que ali estava sendo  dita, mas também ali era a rede de televisão católica, sabemos como funciona.

Depois fui saber que  a ovelha em questão se chama Márcio Mendes, e dai  então as palavras vociferadas me levam a escrever e refletir sobre o casamento.

O que é o casamento?
É um contrato social, e como qualquer contrato ele é assinado em comum acordo, na presença de testemunhas, no sentido de que diante da sociedade aquele homem/mulher (em alguns  países,  como na Argentina, já há casamentos homoafetivos) oficializam/legalizam a formação de um núcleo parental.

A ideia equivocada.
Todo  contrato prevê cláusulas que definem uma possível "quebra",  apontando consequências, etc. Seria então de um enorme anacronismo, de uma prepotência e até ingenuidade defender a ideia que o correto, o normal, seria  que este contrato social vigorasse pela eternidade, e  pior, com o argumento pobre/metafísico de que aquele ato  legal/social fora realizado por  uma entidade cósmica e Criadora.

Qual a utilidade  do casamento na instituição Igreja?
O casamento, o dito "sagrado matrimônio", tido no Catolicismo como sacramento nada mais é que  uma artificialidade sócio-política onde a Igreja garantiria o "controle" sobre aquela família recém organizada, perpetuando a sua condição hegemônica a partir dos núcleos familiares. Tudo é realizado de modo a intimidar o casal, com suas juras eternas perante um suposto "Pai Raivoso e Vingativo".
A Igreja "defende" o núcleo familiar porque sabe que historicamente ali é o  locus do domínio sobre  as pessoas, ou seja, dar  legitimidade a família através do sacramento religioso é uma garantia de permanência daquela família na lógica imposta pela instituição  Igreja (por isso  façam filhos, muitos filhos, não usando camisinha, para rapidamente vir batizar as criancinhas aqui tornando-as, desde bebês, ovelhas obedientes  ao Senhor).
A Igreja quando perde as famílias, quando  ela não legitima mais  a existência destas (graças ao progresso do  pensamento humano,  mais libertário) certamente é o prenúncio para o fim, com o surgimento de uma nova era totalmente secular.

Igreja  - Casamento e Sexo.
Dai o entendimento para outras práticas do controle religioso como na  proibição ao sexo antes do casamento; ou seja, sabedora da força de nossos instintos sexuais ela busca legitimá-lo  amarrando  o ato sexual ao casamento, transformando o sexo em um compromisso semelhante ao casamento, contudo a essência  do ato sexual, até em termos  biológicos,  não é o  compromisso sendo o seu contrário eu diria.
E ai a briga, artificial  por excelência, entre a consciência  humana e os hormônios sexuais que te dizem "faça sexo, se reproduza, perpetue a sua espécie"; se houvesse mesmo a existência de um Criador ele certamente  não puniria ninguém por transar antes do casamento, afinal a máquina humana, supostamente criada por Ele fora feita para transar como para beber, comer, dormir, sem limitações de ordem ética.
O sexo é bom, é gostoso, é  prazeiroso, para que  possamos não só fazer  uma vez, mas milhares de vezes. Isso  é uma artimanha  do  organismo, ele cria prazer de maneira a incentivá-lo a fazer mais, mais, porque afinal não é em toda relação que ocorre gravidez, sendo esta sempre uma possibilidade e nunca uma certeza, dai é  preciso, fisiologicamente, mecanicamente, transar e transar  muito ao longo da vida - garantindo a continuidade do homo sapiens sapiens.
Percebem  porque a  Igreja quer controlar o sexo? Porque ele é um artifício poderoso demais, afinal ele garante a continuidade da espécie humana enquanto ser vivente neste planeta. E para isso ele vincula a sexualidade ao  contrato social  acordado entre casais de homens/mulheres, entre a criação de famílias e a sexualidade; olhe ao redor, no mundo animal, você  vê um núcleo familiar com  papai e mamãe rinoceronte, papai e  mamãe leão? Não, claro que não,  pois a natureza, mais sábia que o homem, deixa o sexo fluir como mecanismo natural, ainda mais em animais que possuem uma expectativa de vida  bem menor  que a nossa.

Eu e o que penso  do casamento.
A  minha posição é  que  o casamento deve ser o que é na essência: um acordo, um contrato, que pode ser quebrado  ou não por uma  série de razões, que cada casal terá e construirá a sua  própria  história.
Casamento não é feito  "para  dar certo",  isso não existe. Casamento é vontade, é desejo  do  outro,  de estar  com o outro e compartilhar com ele. Todo desejo, todo interesse, da mesma forma que surge amanhã ele pode desaparecer.
O importante  é as pessoas se respeitarem, procurar fazer e dar o melhor de si, e se o acordo tiver que ser desfeito, no interesse de  um  ou de ambos (o que não vale é manter-se infeliz diante de alguém que não se quer mais perto, de quem mais não se quer compartilhar) que assim seja.
Digo  para quem quiser ouvir: a separação dos  meus pais foi uma das melhores coisas  que podiam  ter acontecido comigo, isso nos idos de 1985  quando  eu tinha apenas 7 anos de  idade e minha  irmã 2 aninhos. Se tivessem mantido aquela coisa doentia, distante, agressiva, desrespeitosa, simplesmente porque impera o medo do  castigo divino, do dedo em riste  do padre  que insiste em dizer que o casamento será salvo  milagrosamente sob a intervenção mágica do "Espírito Santo"  (espécie de força criada por George Lucas na saga  Star Wars), teriam  apenas estendido uma agonia familiar, perpetuando uma lógica de esperanças falsas e muito sofrimento; dai eu afirmo, com experiência própria: foi o melhor que pode acontecer, para  mim, minha  irmã, e meus pais.

As dicas.
Case com quem você ama, pensa em estar junto. Case  com  quem é gostoso conversar, com quem se deseja.
Faça sexo, com camisinha, sempre, não importa  - isso é um pedido do seu  corpo e da sua mente, da sua  natureza, não o transforme em um  monstro de sete cabeças ou em uma estátua de preservação eterna.
Se o casamento se mostrar um erro, não pense duas vezes: procure o seu caminho, estar sozinho não  é ruim, é estar aberto para novas possibilidades de construir a  sua felicidade.
Não dê ouvidos a padres,  pastores, instituições religiosas, textos religiosos,  quando o assunto é amor, sexo, esse  pessoal lida  com isso de maneira conservadora e autoritária, buscando sempre dominar a sua  consciência e  logo a sua pessoa e os  que estão próximos a você.

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