terça-feira, 9 de novembro de 2010

O sexo no Brasil Colonial

Brasil colonial, ciclo econômico do açúcar, nordeste brasileiro. Este é o contexto de uma típica casa-grande colonial, comandada a mãos de ferro pelo colono português a quem chamamos de senhor de engenho, acompanhado de seu núcleo familiar (a sinhá/esposa, a sinhazinha e o sinhozinho que acabava indo estudar nas universidades européias).

Junto aos membros reinantes e dominantes da casa-grande há um verdadeiro "mar negro" ao redor, seja nos trabalhos forçados em meio ao cultivo da cana ou mesmo dentro da casa como domésticos.

E é nesta dinâmica econômico-social bem delineada, marcada pela dominação racial e classista, que encontramos uma comunidade entregue aos prazeres do corpo, transbordando sexualidade (como preconizava o sociólogo Gilberto Freyre).

O senhor encontrava um "problema" na vida colonial: pequena disponibilidade de mulheres brancas na colônia brasileira, dominada pela negritude africana, com seus contornos, quadris arredondados, seios fartos, bocas enormes. Aqui vivia-se um espécie de utopia "sargentélica".

Sua sinhá, na qual se casou ainda jovem, é uma mulher de função delimitada, reforçada ideologicamente pela mentalidade cristã: produzir, rapidamente, uma série de crianças. E ao passar dos anos, ainda jovem, a sinhá se via como uma matrona (mulher flácida, gorda, geratriz de crianças, presa a casa e aos filhos).

Vendo a radical transformação de sua jovem sinhá em matrona, não encontrando brancas ao seu redor, e fazendo-se impor o seu direito de proprietário de seres humanos, o senhor logo se entregará, de maneira luxuriosa a toda espécie de atos sexuais com suas escravas (algumas vendo nisso uma espécie de benefício, já que acabariam por gerar filhos mestiços ou mesmo favores de seus senhorios-amantes/abrandamento da condição de escrava).

A sinhá, matrona, cercada de criadas negras, mucamas, sem nada a fazer em casa, sem nada a produzir senão filhos periodicamente e mecanicamente, acabara por tornar-se elemento esquecido por seu senhorio - perdido em meio a suas loucuras sexuais. Contudo, a sinhá ainda mantinha, até pela condição de jovialidade biológica, todo um desejo sexual pulsante, ardoroso e guardado dentro de si. E ela, assim como o marido, irá procurar suas escravas como mecanismo de prazer, fazendo florescer no ambiente colonial e açucareiro imagens do mais puro ardor lésbico.

Eventos estes, lascivos, dentro de uma sociedade dita conservadora, cristã e católica fervorosa, para horror dos homens da igreja que sempre tiveram repulsa ao sexo, tentando sempre, ao longo dos tempos, encarcerá-lo numa ética antinatural e fadada ao insucesso.

Isto é o Brasil colonial, marcado pelo sangue negro escorrendo no pelouro e seus açoites, mas também marcado pelo sangue negro imiscuído de sexualidade, na forma de líquidos vaginais e sêmen.

Um comentário:

  1. Professor, seu artigo é excelente e explica muita coisa deste Brasil... Parabéns

    ResponderExcluir