sábado, 13 de fevereiro de 2010

Justiniano I e a Revolta Nika (ano 532)



Quando o tema a ser estudado é o Império Bizantino logo vem à mente a figura de seu mais cultuado governante: Justiniano I (483-565). Figura centralizadora, cesaropapista[1], que entre seus grandes feitos podemos apontar vitórias militares contra muitos dos povos germânicos que naqueles tempos haviam se apossado dos restos mortais do que um dia fora o Império Romano Ocidental, e a construção de fenômenos arquitetônicos como a Catedral de Santa Sofia (Hagia Sofia, inaugurada em 537).

Em meio a este “boom” arquitetônico se insere a construção de um grande e imponente hipódromo, aonde se realizavam atividades políticas, cívicas, mas antes de tudo eventos esportivos (em especial as corridas de bigas/carroças militares guiadas por cavalos velozes e bem treinados). Constantinopla atingia a sua verdadeira “Era de Ouro”, em meio a um novo mundo que se construía, depois do derradeiro fim do mundo romano ocidental. E assim vislumbrava-se uma “nova Roma” na antiga Bizâncio (nome da cidade original e construída pelos gregos na Antiguidade – 600 a.C/como homenagem ao rei Bizas), depois nomeada e reconstruída pelo Imperador romano Constantino I (280-337) como Constantinopla (cidade de Constantino) e que agora era palco do Império Bizantino, comandado por Justiniano I.

Pois bem, para este fulgor todo, econômico e arquitetônico, o imperador Justiniano I recorria a uma saída fácil, porém perigosa: aumento constante de impostos, de maneira a sustentar toda aquela pompa que objetivava ressuscitar a velha Roma no Oriente. Isso aos poucos aumentava, substancialmente, o descontentamento da população bizantina (em todas as classes sociais) que desde o princípio já se escandalizava (já havia ali certo fulgor moralista e cristão) com a escolha de Teodora, uma antiga dançarina (prostituta para alguns) e artista de circo (há relatos de que ela mantinha relações sexuais ou mesmo números de cunho sexual com ursos), como esposa e imperatriz.

Durante os jogos esportivos do hipódromo era comum a presença de Justiniano I em uma espécie de “ala vip” reservada ao Imperador Bizantino, de modo que todos pudessem observá-lo presente.

Ali dentro as pessoas das mais diversas classes sociais se misturavam e se organizavam em verdadeiras torcidas, divididas em cores: verdes, azuis, brancos e vermelhos (cada qual com seus corredores de bigas).

Em certa feita um cavalo de nome “Nika” (vencer) ganhara uma das provas, por pouca ou quase nenhuma diferença sobre o adversário – que por decisão arbitrária de Justiniano I, presente a prova, fora considerado como vencedor, para contragosto da torcida, em especial os verdes e azuis.

Verdes e azuis que então gritavam por “Nika! Nika! Nika!” e aquilo foi se transformando em tumulto, e logo uma turba enfurecida partia para cima do imperador e demais membros da aristocracia reinante. Configurava-se uma revolta!

Justiniano I ameaçou fugir, e no caminho de sua fuga acabara convencido por Teodora a ficar ali e lutar, nem que fosse para ali perder a vida. Justiniano I então reúne seus generais e lhes ordena uma intervenção imediata do exército contra os revoltosos que ali estavam promovendo um quebra-quebra dentro do hipódromo.

O resultado foi devastador: o exército bizantino adentra ao hipódromo e massacra cerca de 30 mil pessoas, que no combate atingindo proporções de guerra civil chega a destruir com incêndios cerca de 1/3 da cidade de Constantinopla.

Tal evento, trágico para a cidade de Constantinopla, acabou por reafirmar o poderio de Justiniano I como imperador bizantino, dando-lhe plenos poderes. Poderes que aliados a um desejo de reconstruir em Constantinopla uma “nova Roma” segundo a lógica de manutenção de “um Estado, uma Lei, uma Igreja” acabaram por produzir em Bizâncio um governo centralizador e intolerante – culminando na perseguição aos judeus, pagãos, e até no fechamento da Academia de Platão em 529.




[1] Cesaropapismo é a junção de duas palavras: Caesar ou mesmo Cesare, título comum aos imperadores romanos, portanto um título de chefe/líder político-militar; e Papa que nos remete a uma liderança espiritual dentro da ordem cristã – em suma o cesaropapismo é quando uma única liderança reúne em si o comando político, militar e espiritual.

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