sábado, 3 de setembro de 2011

Direito de ser Ateu

Ser ateu em um dos países mais crédulos, multiculturais e místicos do mundo nunca foi ou será tarefa das mais fáceis. 
Brasil que herdou, na porrada mesmo (vide 322 anos de Colonização lusitana), o Catolicismo como crença ainda dominante, ontem mais de 90%, quase uma oficialidade religiosa, depois 70% e poucos, hoje pouco mais de 67% - queda eminente, resistente e que insiste em não mudar (para horror do medieval Bento XVI e seus velhinhos conservadores de batina).
Dados recentes apontam crescimento do protestantismo clássico, não o pentecostal (da turma barra pesada Edir Macedo, RR Soares, Silas Malafaia, etc) e sua pobre "teologia" da prosperidade; além de um crescimento dos "não-religiosos": dai englobados agnósticos, ateus e mesmo pessoas que creem em Deus mas que não frequentam ou abraçam uma instituição religiosa (beirando o deismo iluminista do século XVIII, com seu Deus-Natural).
Assim, o Brasil é um país cristão, porém menos do que outrora. E isso aponta para uma ética religiosa fundamental: nós, os não-crentes, temos o direito de ser respeitados no nosso ceticismo.
Numa sociedade marcada por histórica diversidade não é possível aceitar argumentos tolos, pueris, vulgares, que inquisitorialmente apontam os ateus como alheios a moralidade, e para surpresa geral, sinto dizer, mas a moralidade presente em cada ateu é elevadíssima pelo simples fato que, desde a filosofia kantiana do século XVIII, sabe-se que a religião não funda a moral, e sim o seu contrário. Dai, moralidade nada tem a ver com religiosidade ou crença em deus, etc.
A moral, uma razão pura transformada em prática, o fazer o bem porque fazer o bem é o mais adequado a se fazer racionalmente e não porque se não fizer x, y ou z estarei condenado a sofrer torturas metafísicas pela eternidade. 
Você é bom porque racionalmente é melhor ser bom, a vida em sociedade torna-se possível com a bondade racional de cada um. Não é necessário inserir neste contexto entidades metafísicas que lhe obriguem à bondade.
Falo isso porque pululam nos meios de comunicação uma infinidade de personagens caricatos travestidos de apresentadores, jornalistas, que vociferam intolerância para com os descrentes - intolerância esta que por exemplo reforça a violência que um pai sofreu ao ser "confundido" como pedofilo (apenas por demonstrar afeto pelo filho ao caminharem juntos na rua).
Se Deus existisse certamente estaria com vergonha de muitos, muitos, dos que se dizem fiéis seguidores. 

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