sábado, 10 de dezembro de 2011

Alguns desafios do professor brasileiro

Como se não bastasse os baixos salários, a falta de condições de trabalho adequada, as incertezas do dia-dia, todo educador de escola pública acaba lidando com situações que muitas vezes o brasileiro mediano desconhece, muitos por alienação da realidade e outros por desinteresse com a educação nacional.
 
Eu, você professor que me lê, já exercemos dentro do ambiente escolar diversos papéis sociais tipo: médico, enfermeiro, psicólogo, pai/mãe, amigo(a), orientador sexual, orientador vocacional, delegado de polícia, juíz, testemunha, faxineiro, nutricionista, etc...
 
Quero, a título de ilustração, apontar algumas experiências que já vivi como educador, sem citar nomes ou escolas, ok:
 
- uma aluna passa mal em uma excursão, dias depois tomo ciência de que a mesma se encontra tomada por verminoses e subnutrição.
 
- alunos chegam a escola com uniformes rasgados, sujos, com chinelo de dedo nos pés, e muitas vezes com cabelos despenteados e mal tratados; a falta de higiene em alguns casos é tamanha que já dei aula para aluno coberto de urina, ou mesmo numa sala de aula em que após certo desconforto descobrimos que no fundo da sala se encontrava um monte de fezes acumulada.
 
- alunos são pegos fumando cigarros nos corredores, cheirando coca ou mesmo cola nos banheiros escolares, outros tantos são pegos com maconha; o problema das drogas é tão sério que até nos Ejas convivemos com alunos dependentes químicos, sendo mais comum o uso do álcool nestes casos.
 
- alunos e alunas se agridem dentro de sala de aula, xingamentos, brigas fúteis, ameaças, depredação do patrimônio público (quebram-se e danificam-se computadores, cortinas, vidraças, portas, ventiladores).
 
- alunos passam mal na escola e os serviços sociais de atendimento de urgência, como bombeiros e Samu, se negam a prestar socorro no ambiente escolar; professores e funcionários saem com alunos em desespero para o posto de saúde mais próximo.
 
- alunas abandonam os estudos devido gravidez indesejada na adolescência, a sexualidade é vivenciada de maneira deturpada entre os jovens - que não usam preservativos, não procuram orientação adequada (ginecologia, por exemplo) e são promíscuos em suas relações (há casos de meninas que desconhecem a paternidade devido a quantidade de parceiros mantidos, outras transam nos bailes, festas, carnaval, sob efeito de álcool).
 
- alunos vão a escola doentes, febris, mal-alimentados - muitos são os casos de piolhos e verminoses entre os mais novos do ensino fundamental; é comum o aparecimento de viroses, conjutivites, cachumba, doenças venéreas (HPV, Herpes), anemia, diabetes, doenças respiratórias e estomacais.
 
- alunos convivem com violência doméstica, uns são agredidos pelos pais, outros assistem os pais se agredirem continuamente, e há até casos em que os pais é que são os agredidos e não agressores. Para se ter uma ideia já tive que lidar com uma aluna que costumava ser queimada pela mãe (usando ferro de passar roupa), e uma vez uma mãe esbofeteou o aluno na minha frente e na frente de direção escolar quando chamada para intervenção disciplinar dentro da escola. Há colegas que até incentivam a violência entre pais e alunos, dizendo "tem que bater mesmo! Se fosse filha minha, etc...".
- é comum ao longo do ano letivo você perder alunos por óbito: acidentes de carro, briga de gangues, dívidas por drogas, problemas graves de saúde e assistência médica ineficaz; só neste 2011 já perdi dois alunos!

E tem gente que ainda desvaloriza o educador brasileiro.....vejam, estar em sala de aula transcende, e muito, o ato de "dar aulas"....

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