terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Abraham Lincoln, corrupção e libertação jurídica dos negros

Nesta virada de ano consegui um tempo para assistir ao bom filme-político "Lincoln", dirigido pelo consagrado Steven Spielberg, onde o presidente estadunidense é representado pelo genial Daniel Day-Lewis.
Centralizando as atenções é representada toda a politicagem em torno da aprovação ou não-aprovação da 13º Emenda Constitucional que colocava na ilegalidade o trabalho servil-escravo em todo o país, sob os interesses do 16º Presidente (republicano) Abraham Lincoln (1809-1865) - já em início de segundo mandato e líder nortista em meio a guerra civil ou "Secessão" (1861-1865).
Até então pouca novidade, e o interessante desta película faz-se pelo seguinte:
A desmitologização de Lincoln, apresentado como um marido ausente *, infeliz em seu casamento (casado com Mary Todd), e também um político mais pragmático do que idealista (ele arquiteta na Câmara dos Deputados um verdadeiro xadrez movido pelo velho toma lá dá cá ** institucional, negociando cargos no novo governo em troca dos votos favoráveis de parte da bancada democrata).
A colagem um pouco forçada para a contemporaneidade do governo democrata de Barack Husein Obama, interligando a luta pela liberdade jurídica (não racial ou etnica) dos antes escravos negros para os tempos de hoje, onde um "negro" governa a superpotência global. Vale o texto de Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinícius de Morais que afirmam:
"Mesmo se constituindo como dois mundos bastante diferentes, um, ao Norte, e o outro, ao Sul, a ideia da superioridade do homem branco era comum e inquestionável em ambos. Nos dois mundos, os negros estavam fora das decisões políticas e eram vítimas de preconceito, principalmente no Sul, onde a escravidão era garantida por lei." História dos Estados Unidos - das origens ao século XXI. ed. Contexto, p. 129

Notas:
*A ausência de Abraham pode ser entendida seja devido a sua posição política ou até mesmo por problemas de relacionamento com a esposa mais velha, evidenciados na perda de um dos filhos, em que ela acusa o marido de negligência com a doença e morte do menino - com o pai tomado pelas questões da guerra civil. Lincoln chega a cogitar interná-la em uma clínica de repouso/psiquiátrica.
** O uso de cargos na administração pública, garantia de boa posição e salários, como troca por apoio político em importantes debates nacionais faz-nos rememorar, espontaneamente, a "realpolitik" brasileira de posse do lulopetismo.
A mitologia democrática construída em torno de Abraham Lincoln, monumentalizada em Washington DC, parece-nos incompatível com o jogo sujo da política institucional apresentado na película. Na obra de Spielberg Lincoln sai da auréola de mito e veste a cartola preta de homem pragmático e calculista.



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