Não, eu não vou demonizar os jovens que se organizam no dito "rolezinho", muito menos torná-los anjinhos barrocos desfilando em centros de compras - me nego a politizar o que está ocorrendo.
O Brasil que vivemos mais parece os anos 60, como vocifera o músico João Luis "Lobão", e tudo agora é visto na base do "8 - 80", "direita - esquerda", simplificando os fenômenos sociais através de uma leitura neurótica da luta de classes e de conceitos marxianos, em especial. Me perdoe, mas não vivemos a Guerra Fria.
O que é o "rolezinho" então?
Um fenômeno de mídia, que foi completamente absorvido por parcelas até então excluídas do tecido social. A meninada da periferia compreendeu que pode utilizar-se das redes sociais como ferramenta de organização, não política ou engajada nisso ou aquilo, mas como ferramenta de mobilização para o culto semanal ao "seu grande deus": o consumo.
Trabalho com adolescentes, jovens, grande parte próximos de comunidades carentes e excluídas, e sei o fetiche que está amalgamado em suas mentes, tomadas pelo "ter", pelo aparente. O jovem quer aparecer, quer ser percebido. Quando o garoto, de visual grotesco até, liga o funk dentro do ônibus pra todo mundo ouvir é algo mais complexo do que "falta de educação", é dizer, melancolicamente "ei vocês, aqui, sou eu, eu existo, olhem pra mim...."...ou seja, há carência fundamentada na sua atitude de desafiar o bom gosto, o bom senso.
Hoje grande parte dos jovens de nosso país, independente de classe social, é essencialmente consumista. Grande parcela dos endividamentos pessoais em nossa economia advém de pessoas mais jovens, em especial as meninas. Gasta-se todo o salário mínimo mensal (comum entre aqueles que estão começando no mercado de trabalho) em tênis, bonés, roupas, joias, relógios, celulares, eletrônicos, etc. Seus ídolos, arraigados na sociedade do espetáculo, são muitas vezes jovens negros que hoje desfilam todo este ideário de felicidade-Capital (Neymar, Ronaldinho Gaúcho, rappers e funkeiros, pagodeiros, etc).
Assim, utilizando-se das redes sociais e das facilidades da virtualidade, eles se mobilizam, semanalmente, para cultuarem, juntos, o deus-dinheiro. E qual o melhor lugar, o verdadeiro templo, do deus-dinheiro: shopping centers. Então, 200, 300, 2.000 meninos e meninas, andam por entre brilhantes corredores, vislumbram e adoram todos os objetos de seus desejos, e excitados pelo momento, pela idade, abrem espaço para possíveis e mais viáveis conquistas (dai o ficar, paqueras, etc). Acredito que tudo isto poderia, e deveria ser melhor digerido pela sociedade brasileira, o problema é o que estamos vivendo: politização extremada entre setores da sociedade, que buscam a seu modo conquistar a classe média (a eterna insatisfeita, com medo da pobreza e com inveja dos ricos).
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
O rolezinho como culto
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Historiador e educador brasileiro. Nascido em São Paulo (12/08/1978), radicado em Belo Horizonte (onde viveu por 26 anos) e atualmente vivendo na cidade paulista de Atibaia (60km da capital São Paulo). Graduou-se (como bacharel e licenciado) como Historiador no ano de 2006 no UNIBH/ou FAFI-BH (recebendo prêmio em março de 2007 como destaque acadêmico do curso de História de sua universidade).
Atuou em projetos de pesquisa, na prefeitura (Centro de Referência Áudio-Visual)de Belo Horizonte sob coordenação da historiadora dra. Heloisa Greco/UFMG; além disso é um dos organizadores do acervo Carmela Pezzuti.
Como educador atuou na rede pública de ensino mineira desde 2004, quando ainda era universitário. Tivera experiências na escola da comunidade judaica de BH, e por mais de um ano fora professor-monitor do curso de História do UNIBH nas disciplinas História Medieval e Brasil República I. Desde 2014 é professor efetivo do Estado de São Paulo, e desde janeiro de 2015 tornou-se professor da educação básica do Colégio Atibaia, parceiro do Sistema Etapa de Ensino.
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