terça-feira, 5 de outubro de 2010

Análise sobre a Democracia Brasileira

Domingo tivemos mais um exemplo, obvio, de como a nossa democracia é algo capenga, falsa. O jogo democrático dá mostras de desgaste, de fraquezas, e tenciono apontar as razões.
Vale lembrar que a democracia, como a nomenclatura grega diz, é o “governo do povo”, criada como modelo político na Atenas antiga, da administração da polis, também conhecida como “democracia direta” em Ciência Política. E mesmo no exemplo mais puro de democracia a mesma era uma falácia: mulheres, menores, estrangeiros, escravos, ou seja aqueles que não eram cidadãos atenienses não tinham direito de participar da administração de Atenas/de sua vida política.
Hoje em nosso país, como na maioria do mundo político conhecido, vivenciamos um segundo mecanismo democrático: a dita democracia representativa, aonde você, por meio do voto, elege representantes políticos que terão como encargo a administração pública e a promoção do bem-estar social.
Mesmo assim este modelo demorou, e muito, para ser implantado definitivamente em nosso Brasil. Nascemos como colônia portuguesa, depois de libertos já no século 19 vivenciamos um curto período de monarquia constitucional e por fim o governo republicano de 1889 – referenciado pelo modelo político norte-americano, independente desde 1776 e consolidado após a Guerra de Secessão.
Antes da década de 30 vivíamos um verdadeiro par-ímpar regionalista com a chamada República Velha, empreendida pelos ricos estados de São Paulo e Minas Gerais (em especial a partir do governo Campos Sales). Quando o restante do país queria se fazer representar, evitando um certo imperialismo  paulista, estourou uma “revolução” que colocara um governo autoritário e populista no poder: Getúlio Vargas, pai dos pobres e mãe dos ricos, entre 1930-1945 (a partir de 1937 escancarado com  o dito Estado-Novo).
Vargas fez, a maneira lulista de hoje, o seu sucessor nas eleições de 45: Dutra governa até 1950, quando o mesmo Getúlio retorna ao poder, agora sob a legitimidade de nossa democracia representativa. Sob intensa pressão de partidos conservadores, em especial a UDN do governador Carlos Lacerda, Getúlio comete suicídio e joga a oposição na lata do lixo, tornando o velho ditador gaúcho uma lenda política nacional.
Em seguida ascende ao poder o governante, boa praça, Juscelino K., marcado como governante desenvolvimentista, mesmo que jogando  o país numa dívida cruel, inflacionando a nossa economia por décadas – aqui em Minas Gerais parece proibitivo falar a respeito da herança maldita de JK, em especial causada pela infame  construção de Brasília, isolando o centro  do poder dos núcleos urbanos do país, sob a justificativa, esperta, de empreender uma espécie de bandeirantismo em plena década de 60, promovendo um interiorização de nosso país.
O país se atolou em tantos problemas econômicos que os partidos conservadores conseguiram colocar no poder o megalomaníaco Janio Quadros, que não completara sequer 1 ano de governo, jogando o país em crise institucional, e assim tivemos a nossa primeira e falsa experiência parlamentarista: com Jango no executivo e Tancredo como primeiro-ministro.
Porém a América Latina, continente satélite do Imperialismo norte-americano dentro da lógica implementada pós 45 (Guerra Fria), começa a sofrer intervenções  políticas diretas do Tio  Sam, temerosos de novas Cubas em seu quintal mais próximo: e assim demonizam o governo Jango, com apoio da Igreja Católica e do exército, que sob ideário de salvador da Pátria contra o perigo vermelho empreende golpe em 1964 – jogando o Brasil em 21 anos de Ditadura Militar (até 1985).
Em 1985, depois de fracassada tentativa popular de fazer retornar o voto para Presidente (Movimento Diretas Já), o Congresso dos panos quentes, que já havia empinado a bunda com a lei de anistia anos antes (anistiando torturadores, malucos, tão brutais quanto os nazistas) agora garantia uma reabertura sem quebrar ovos: pegaram o pelego-mor da política nacional, o velho Tancredo, como presidente civil (em votação empreendida no Colégio Eleitoral, dentro do próprio poder); quis o destino que o pelego não resistisse a uma doença cruel, e assim ascende ao poder o imortal José Sarney.
Anos depois o povo retorna as urnas para eleger o seu presidente, resultado: Fernando Collor, ex-governador de Alagoas e do nanico PRN, é impedido em 1992, dando lugar ao mineiro Itamar Franco, ex-prefeito de Juiz de Fora, como novo presidente.
Em 1994 dentro de uma nova ordem econômica, com a implementação do plano real – acabando com a superinflação brasileira, dinamitando a poupança nacional e elevando os juros a níveis estelares (para alegria dos banqueiros e donos do capital), o então presidente torna o seu ministro, sociólogo renomado (aprendiz de Florestan Fernandes), Fernando Henrique Cardoso governante do país, e tempos depois, na tentativa de copiar o modelo político norte-americano, é instituída a reeleição para os cargos do executivo, dando a FHC 8 anos de governo.
Em 2002 o Brasil parecia dar um salto qualitativo em termos políticos, dando a Lula a oportunidade de governar o país – ele um velho líder sindical, que dera origem ao Partido dos Trabalhadores no início dos anos 80, e que de certa maneira atingia o imaginário das pessoas na perspectiva dele ser o primeiro trabalhador, legítimo, oriundo do proletariado rural-urbano (de retirante nordestino e metalúrgico no ABCD paulista) a governar o país.
E hoje, voltando a nossa contemporaneidade, Lula tenciona colocar no poder a primeira mulher, Dilma Roussef, mineira radicada no sul do país, ministra das Minas e Energia, depois da Casa Civil, como governante para os próximos anos. E o que disseram as urnas, aliás, as escolhas do povo brasileiro no último domingo, dia 03 de outubro:

- o brasileiro gosta de continuísmo, algo contrário ao espírito democrático, e isso se vislumbra nos estados da federação. O PSDB governa São Paulo como um feudo medieval, em Minas Gerais o agora senador Aécio coloca no poder uma porta como governador, no Rio Sérgio Cabral se mantém amparado por política repressora de segurança pública, no Distrito Federal a mulher do governador ficha-suja vai ao segundo turno sem nem saber o que é administrar o próprio cérebro.

- o brasileiro está tão imerso na lógica debordiana da sociedade do espetáculo que elege cada vez mais, em especial para o poder legislativo, pessoas do dito mundo das celebridades: Romário, Bebeto, Tiririca, Jean do BBB, Marques, Túlio Maravilha, etc.

- o brasileiro é influenciado, na hora da escolha do voto, pelas tendências apontadas por pesquisas – esquecendo que as mesmas são pagas por partidos políticos e pela imprensa, tendenciosas até a raiz.

- o brasileiro não possui um voto de caráter ideológico; ou seja, se votam nas pessoas e não nas idéias, nos princípios, no partido em si. Isso culpa da profissionalização da política, como tanto preconizava o alemão Max Weber ainda no século 19, que acaba promovendo a dita geléia geral política – dando a impressão que todos são iguais, e pior, todos são realmente iguais.

- o brasileiro não acompanha o horário eleitoral, e ele está certo. São programas pasteurizados ao excesso, sob as mãos de marqueteiros; e isso já se reflete nos debates praticamente inexistentes, tudo pasteurizado, homogeneizado, sem embates, sem debates na acepção da palavra.

- o brasileiro, nitidamente, o brasileiro médio, não sabe, definitivamente, votar. Seja no campo, seja nos grandes centros urbanos. O brasileiro médio é um verdadeiro “analfabeto político” como então conceituava tão bem o alemão Bertold Brecht.

Vocês podem me perguntar: mas professor, qual a solução? Vocês sabem, a solução é o caminho mais difícil e que exigirá a participação de todos nós nas ruas, com armas em punho – a revolução social. Nada, efetivamente nada, mudará, se transformará, através do voto ou mesmo da democracia representativa, sem quebrar ovos não haverá omelete algum. 

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