segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Saudades da Imprensa Maratiana

Muito se tem debatido acerca do papel da imprensa na vida política brasileira, ainda mais agora durante as eleições presidenciais. É evidente que a imprensa possui um caráter ideológico e engajado, assumindo, uns mais outros menos, o seu posicionamento político.

Exemplos não nos faltam: de um lado a revista Carta Capital petista, de outro a demo-tucana Veja; aos mais radicais de esquerda poderíamos apontar a Caros Amigos.

Historicamente a imprensa sempre exercera papel preponderante nos eventos em questão, e não é sem razão que muitos estudiosos a apontam como o chamado "Quarto Poder", de certa maneira observando os caminhos percorridos pelo Judiciário, Legislativo e Executivo. Com a consolidação da ordem capitalista ao longo dos últimos três séculos, a mesma é agente ativa dentro da ordem de uma "Sociedade de Espetáculos" (conceito trabalhado pelo filósofo francês, dos anos 60, Guy Debord).

A imprensa que hoje te levanta, amanhã te derruba; segundo a sua conveniência, sem nenhum compromisso que não o lucro para seus empresários-proprietários. Isso hoje é medido pelo chamado Ibope (no caso a televisão, hoje maior veículo de imprensa), usando a maior cidade de nosso país, São Paulo, como referencial de audiência (trazendo ou não novos patrocinadores segundo os dados colhidos pelos aparelhos).

A mesma rede Globo que surgida no colo da Ditadura Militar fazia vistas grossas e não noticiava o Movimento Diretas Já em meados dos anos 80, a mesma Globo que condenava Lula em 1989 hoje morre de amores pelo sr. Presidente, e assim caminha, hipocritamente, a nossa imprensa.

Mas nem sempre a imprensa foi assim, voltada para o seu próprio umbigo, como mecanismo autômato de poder, querendo se impor sobre uma sociedade alienada; um dia ela já tencionou estar ao lado do povo, sendo revolucionária. E aqui a menção, necessária, a lenda chamada Jean-Paul Marat.

Marat, jornalista que de dentro de sua banheira homeopática escrevia-vociferava os rumos do governo da Convenção Nacional francesa (no final do século XVIII), com seu "Amigo do Povo" (nome do jornal), fazia rolar, a cada dia, as cabeças dos contra-revolucionários franceses, em especial as cabeças da nobreza e do clero (usurpadores sociais ao longo do Ancièn Regime).

E pagou, com a própria vida (apunhalado dentro de sua banheira por uma jovem conservadora), pelos seus ideais.

A Revolução Francesa nos seus primeiros anos enfrentava uma séria ameaça externa: toda Europa absolutista estava em seu percalço, em meio a uma guerra sangrenta contra austríacos e prussianos sobretudo. Muitos inimigos da revolução, oriundos das classes usurpadoras do clero e da aristocracia, já se encontravam presos. Sob o eminente ataque estrangeiro, e sob a ameaça de entrada destes a capital Paris, Jean-Paul Marat, com suas palavras insurgira os parisienses (em especial os san-culottes) a exterminar, de vez, os possíveis inimigos da Revolução Popular e Democrática; resultado: os sans-culottes invadem as prisões parisienses e dão cabo de todos os nobres e clérigos ali mantidos como prisioneiros, para horror dos absolutistas, em especial os ingleses.

Hoje, ao contrário do clássico exemplo francês, a imprensa não dialoga com o povo, não dialoga e não conclama as massas a lutar por justiça social; pelo contrário, a imprensa tenta somente reproduzir a voz das classes médias e dirigentes, segundo as conveniências do Capital e do mundo do Espetáculo, irrigados na lógica, alienada, do consumo.

Quanta saudade de jornais como "O Amigo do Povo" e de jornalistas como Jean-Paul Marat.

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