sábado, 2 de outubro de 2010

Vida Careta - parte 2

Lua-de-mel encerrada inicia-se a tão sonhada vida em comum: apartamento pequeno, dois quartos, financiado pelo programa habitacional do governo. João é engenheiro, ganha aproximadamente R$ 1500,00 ao mês e Júlia é professora primária (hoje educação infantil), da rede municipal, com ganho pouco menor que seu maridinho.

Nos finais de semana do casal o divertimento se dá em alternância de programas: grupo de oração com os padrinhos de casamento, ir à missa, almoçar na casa dos sogros, ou então ficar em casa assistindo ao incrível Domingão do Faustão.

Passaram-se meses, o primeiro ano, e a vida sexual do casal continuava com o velho ritual: luzes apagadas, oração e papai-mamãe bem comportado, como diz o padre. Contudo em seu trabalho como engenheiro João convivia com homens bem diferentes, uns eram separados, outros eram protestantes, uns solteirões convictos e até ateus!

Numa sexta-feira à noite João é surpreendido pelos colegas:

“O João, meu caro! A turma toda hoje vai dar uma saidinha depois do expediente. Sei que o amigo não bebe, mas pode tomar uma coca-cola. Anima ai companheiro, vamos lá; afinal, você nunca saiu com a gente”

João ficou tentado com o convite, mas jamais, jamais mesmo, ele poderia dizer a sua esposa querida que estaria saindo com aqueles homens, à noite, e pior todos eles afastados do Senhor. O jeito, pensou ele, seria cometer o pior dos pecados: mentir! E sentiu calafrios quando lembrou que a mentira era a porta de entrada favorita de Satanás. Porém, ele questiona, era um ótimo cristão, devoto, temente a Deus, e certamente o papai-do-Céu iria perdoá-lo com tranqüilidade, bastava se confessar na semana seguinte e tudo certo.

“Amor, oh amor, hoje vou chegar tarde em casa meu anjinho. As coisas aqui no trabalho estão um aperto só, vou ter  que fazer hora extra, afinal temos prazo de entrega para um importante projeto”

Telefone desligado. João, em alegria, diz aos companheiros de trabalho que está tudo arranjado e que ele, pela primeira vez, sairia com a turma para o happy-hour.

“Onde vamos? Já definiram o lugar?”
“Sim, sim, nós vamos te levar para um lugar bacana, confie na gente”

Todos dentro do carro, João e a turma se deslocam pelo centro da cidade, e para espanto de João o lugar em que param é um ambiente escuro, quase escondido, porém com luzes intensas e escrito em neon “Pererecas Night Club”.

CONTINUA...

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