Um dos erros mais grotescos cometidos pelas religiões monoteístas dominantes é a demonização do ato sexual. O sexo é tratado como tabu, e virtualiza-se a "pureza" presente na abstinência, na negação dos impulsos sexuais, gerando uma ética que sacraliza o corpo ao ponto de planejar-se uma política da virgindade.
Isso é tão marcante que muitas agremiações religiosas defendem uma espécie de abstinência a dois, entre o casal (devidamente casados, claro). O casal que se "preserva", juntos iluminados sob a luz da negação da carne, dos impulsos do sexo. O que chamam de uma necessária abstinência no casamento, um absurdo ainda maior obviamente.
A sexualidade é desdenhada em escrituras sagradas, com Adão e Eva envergonhados de sua sexualidade após cometerem o pecado original de comer da árvore do conhecimento (a eterna glorificação da ignorância, em favor do mistério, do incompreensível, da fé cega e reprodutiva).
Mas, esqueçamo-nos da caretice religiosa predominante. Falemos de sexo entre os antigos e modernos, entre cerimoniais, culturas, que mantém o caráter religioso/ritualístico do sexo, mas ao contrário do que se vivencia hoje, lidam com o mesmo da forma mais natural possível - potencializando-o como ação humana, como mecanismo de prazer, e de transcendência pelas vias do orgasmo.
Entre os gregos antigos havia a festa conhecida como "bacantes", que depois dá origem ao termo, hoje pejorativo "bacanal" - que em homenagem e culto ao deus Baco (ligado ao vinho, à produção do vinho) realizavam-se orgias descomunais como cerimonial religioso.
Entre os praticantes de magia, seja negra (bruxos/caminho da mão esquerda) ou branca (magos/caminho da mão direita), são comuns os rituais que envolvem atos sexuais, e um dos gurus da magia moderna, Aleister Crowley (dizia-se ser o homem mais pervertido de seu tempo), aponta em seus livros uma série de procedimentos aonde o orgasmo humano é compreendido como uma força cósmica à parte, capaz de transcender o ser humano de sua materialidade em direção aos mistérios do Universo.
Se você que me lê já fez sexo, eu espero que já tenha feito (porque é uma das melhores coisas da vida, não sendo sem razão que a própria vida se inicia a partir do ato sexual) fica fácil identificar como o ato sexual, o gozo, o orgasmo, é um turbilhão psíquico-físico, como se explodíssemos internamente a partir do contato com o outro.
Nos anos 60 do século passado, uma das bandeiras revolucionárias bradadas pela juventude consciente foi à luta por uma nova postura ética frente à sexualidade humana: dai o feminismo, o movimento gay, a pílula anticoncepcional, a liberdade do ser humano de dispor de seu corpo como satisfação pessoal, o amor-livre, e slogans que diziam "faça amor, não faça guerra!". Claro que estes movimentos sociais tiveram uma importante fundamentação teórica, que já quebrava paradigmas dentro do pensamento ocidental - Marcuse com "Eros e a Civilização", Foucault e os volumes de "História da Sexualidade", isso sem falar na verdadeira guinada apontada pelos trabalhos psicanalíticos (que coloca o sexo e a sexualidade no cerne da formação do ser humano, da sua psique, da sua individualidade mais íntima e inconsciente) de Freud no início do século.
E assim, um dos mecanismos mais revolucionários que o ser humano dispõe é exatamente a sua sexualidade, porque esta quando é tratada com naturalidade e como potencialidade humana, potencialidade de liberdade humana e de vida, estaremos na contracorrente de ideologias, muitas delas de caráter religioso e extremamente conservadoras que ainda apregoam uma lógica platonista de existência, conservando-se um pseudo-espírito em detrimento do corpo, tido como foco de imperfeições e de todas as paixões humanas.
Dai o horror dos conservadores ao sexo, tido até como sujo. Como algo a ser feito, limitadamente, para fins de reprodução entre um casal matrimonialmente re-unido. E o sexo é tudo, menos uma limitação biólogo-teleológica. O sexo é ato de liberdade, é ato de afirmação de si, e hoje pode ser encarado até como ato político, revolucionário.
Nada mais distúrbico, anêmico, vazio, que uma pessoa que não se realiza sexualmente. A vida torna-se um tormento, marcada pela ode ao espírito distante, quase um autoflagelo. E é isso o que os senhores da religião querem! Quando dois jovens transam na traseira de um carro, no quarto as escondidas dos pais, no motel de centro da cidade, o argumento do padre, do pastor, da autoridade que reprime, perde força, afrouxa, perante a vida e a liberdade que demarcam aquela relação entre dois corpos.
O gemer de uma menina a liberta, a masturbação do rapaz debaixo do chuveiro o liberta, tudo isso é o desejo/vontade, força que move o Universo (como sempre afirmava Schopenhauer), que agindo liberta o ser humano e o faz transcender e revolucionar-se! Qualquer projeto ideológico que contradiz a isto procura reproduzir a ideia de resignação, de obediência, de ajoelhar-se, de exclusão e intolerância. Esta é a ética que impera, em especial atenção, a base judaico-cristã (decadente e contrária à vida, segundo conceito nietzschiano).
Portanto, abaixemos cuecas e calcinhas, e façamos amor/sexo, hoje e sempre!