sábado, 30 de abril de 2011

Sexo e Revolução

Um dos erros mais grotescos cometidos pelas religiões monoteístas dominantes é a demonização do ato sexual. O sexo é tratado como tabu, e virtualiza-se a "pureza" presente na abstinência, na negação dos impulsos sexuais, gerando uma ética que sacraliza o corpo ao ponto de planejar-se uma política da virgindade.

Isso é tão marcante que muitas agremiações religiosas defendem uma espécie de abstinência a dois, entre o casal (devidamente casados, claro). O casal que se "preserva", juntos iluminados sob a luz da negação da carne, dos impulsos do sexo. O que chamam de uma necessária abstinência no casamento, um absurdo ainda maior obviamente.

A sexualidade é desdenhada em escrituras sagradas, com Adão e Eva envergonhados de sua sexualidade após cometerem o pecado original de comer da árvore do conhecimento (a eterna glorificação da ignorância, em favor do mistério, do incompreensível, da fé cega e reprodutiva).

Mas, esqueçamo-nos da caretice religiosa predominante. Falemos de sexo entre os antigos e modernos, entre cerimoniais, culturas, que mantém o caráter religioso/ritualístico do sexo, mas ao contrário do que se vivencia hoje, lidam com o mesmo da forma mais natural possível - potencializando-o como ação humana, como mecanismo de prazer, e de transcendência pelas vias do orgasmo.

Entre os gregos antigos havia a festa conhecida como "bacantes", que depois dá origem ao termo, hoje pejorativo "bacanal" - que em homenagem e culto ao deus Baco (ligado ao vinho, à produção do vinho) realizavam-se orgias descomunais como cerimonial religioso.

Entre os praticantes de magia, seja negra (bruxos/caminho da mão esquerda) ou branca (magos/caminho da mão direita), são comuns os rituais que envolvem atos sexuais, e um dos gurus da magia moderna, Aleister Crowley (dizia-se ser o homem mais pervertido de seu tempo), aponta em seus livros uma série de procedimentos aonde o orgasmo humano é compreendido como uma força cósmica à parte, capaz de transcender o ser humano de sua materialidade em direção aos mistérios do Universo.

Se você que me lê já fez sexo, eu espero que já tenha feito (porque é uma das melhores coisas da vida, não sendo sem razão que a própria vida se inicia a partir do ato sexual) fica fácil identificar como o ato sexual, o gozo, o orgasmo, é um turbilhão psíquico-físico, como se explodíssemos internamente a partir do contato com o outro.

Nos anos 60 do século passado, uma das bandeiras revolucionárias bradadas pela juventude consciente foi à luta por uma nova postura ética frente à sexualidade humana: dai o feminismo, o movimento gay, a pílula anticoncepcional, a liberdade do ser humano de dispor de seu corpo como satisfação pessoal, o amor-livre, e slogans que diziam "faça amor, não faça guerra!". Claro que estes movimentos sociais tiveram uma importante fundamentação teórica, que já quebrava paradigmas dentro do pensamento ocidental - Marcuse com "Eros e a Civilização", Foucault e os volumes de "História da Sexualidade", isso sem falar na verdadeira guinada apontada pelos trabalhos psicanalíticos (que coloca o sexo e a sexualidade no cerne da formação do ser humano, da sua psique, da sua individualidade mais íntima e inconsciente) de Freud no início do século.

E assim, um dos mecanismos mais revolucionários que o ser humano dispõe é exatamente a sua sexualidade, porque esta quando é tratada com naturalidade e como potencialidade humana, potencialidade de liberdade humana e de vida, estaremos na contracorrente de ideologias, muitas delas de caráter religioso e extremamente conservadoras que ainda apregoam uma lógica platonista de existência, conservando-se um pseudo-espírito em detrimento do corpo, tido como foco de imperfeições e de todas as paixões humanas.

Dai o horror dos conservadores ao sexo, tido até como sujo. Como algo a ser feito, limitadamente, para fins de reprodução entre um casal matrimonialmente re-unido. E o sexo é tudo, menos uma limitação biólogo-teleológica. O sexo é ato de liberdade, é ato de afirmação de si, e hoje pode ser encarado até como ato político, revolucionário.

Nada mais distúrbico, anêmico, vazio, que uma pessoa que não se realiza sexualmente. A vida torna-se um tormento, marcada pela ode ao espírito distante, quase um autoflagelo. E é isso o que os senhores da religião querem! Quando dois jovens transam na traseira de um carro, no quarto as escondidas dos pais, no motel de centro da cidade, o argumento do padre, do pastor, da autoridade que reprime, perde força, afrouxa, perante a vida e a liberdade que demarcam aquela relação entre dois corpos.

O gemer de uma menina a liberta, a masturbação do rapaz debaixo do chuveiro o liberta, tudo isso é o desejo/vontade, força que move o Universo (como sempre afirmava Schopenhauer), que agindo liberta o ser humano e o faz transcender e revolucionar-se! Qualquer projeto ideológico que contradiz a isto procura reproduzir a ideia de resignação, de obediência, de ajoelhar-se, de exclusão e intolerância. Esta é a ética que impera, em especial atenção, a base judaico-cristã (decadente e contrária à vida, segundo conceito nietzschiano).

Portanto, abaixemos cuecas e calcinhas, e façamos amor/sexo, hoje e sempre!

Sermão do dia com Mr. Bean

terça-feira, 26 de abril de 2011

Amar é morrer, e depois renascer

Nos últimos dias tenho acompanhado o drama pessoal de um grande amigo, agora a sofrer uma decepção amorosa. Pela amizade grande que temos é claro que eu acabo também um pouco entristecido pelo fato, e além, acabo relembrando de quantas e quantas vezes eu sofri ou fiz alguém sofrer por amor.
O ser humano tenta, em vão, manter-se avesso a possíveis mudanças, e ninguém, ninguém mesmo, está preparado para perder. As perdas humanas sempre serão um dos maiores tormentos que qualquer indivíduo pode passar, e se pensarmos na sociedade atual, individualista, egocêntrica, toda perda passa a ser quase que uma dor insuportável, cruel demais.
O amor, as relações humanas, pressupõe sempre a possibilidade de uma perda. E esta, seja de que maneira for, é uma sensação de morte. Amar é saber que em dado momento você irá experimentar uma espécie de morte, que pode ser o fim da relação, a distância entre duas pessoas, ou mesmo a morte física. Isso ocorre porque o ser humano é um ser social por excelência, não somos "uma ilha" como já diziam poetas - e assim, precisamos e muito, do outro, da companhia do outro, da aprovação do outro, da satisfação do outro, do prazer do outro. 

Num curto período, pós separação, distanciamento, quando duas pessoas decidem, em conjunto ou não, seguirem rumos distintos na vida, passa-se por uma temporada, tórrida, de luto. Afinal, é como disse, sensação de morte. 

Não é inexplicável que muitas pessoas, doentes psiquicamente e socialmente, num momento de morte, típico do amor, acabam por destruir-se (na entrega aos vícios, como álcool - e dai o comum porre de dor de cotovelos, com aquela imagem popular do ébrio isolado na mesa do bar, chorando as suas mágoas), ou destruir a vida do outro por completo - vide os casos policialescos, violentos, a que chamam de "crimes passionais". Aqui mesmo, próximo de minha residência, ficou famoso o caso do ex-marido que matou com tiros à queima-roupa a ex-mulher dentro de um salão de beleza, na frente de clientes e demais funcionários do  lugar.

Nestas horas de dor, de luto, onde a sensação é fria, gélida, mórbida, onde somos tomados de uma rara e dolorosa sensação de niilismo, de inexistência, é que o ser humano age como uma tartaruga, coloca-se pra dentro de sua casca e deixa o tempo agir.

O tempo, sim, o tempo é o senhor de todas as feridas e perdas humanas. O tempo que nos reconstrói, a cada dia-noite, e que acaba por nos reestabelecer, até que somos tomados, novamente, pela vontade de respirar novos ares, e então, como que num milagre da natureza, colocamos a cabeça pra fora da casca de novo. E assim, um novo ciclo de vida se renova, um recomeço, um redespertar.

Assim é a vida humana, marcada por seus altos e baixos, e sobre o amor, força e necessidade humanas, este é como uma flor mesmo: bela e espinhosa. 
Inspirado nestas ideias, nestes momentos de luto e ressurreição de si, deixo abaixo uma de minhas canções favoritas de Roberto Carlos "As flores do jardim da nossa casa", que ilustra muito bem tudo o que fora dito acima.

 
As flores do jardim da nossa casa
Morreram todas de saudade de você
E as rosas que cobriam nossa estrada
Perderam a vontade de viver

Eu já não posso mais olhar nosso jardim
Lá não existem flores, tudo morreu pra mim
Não posso mais olhar nosso jardim
Lá não existem flores, tudo morreu pra mim

As coisas que eram nossas se acabaram
Tristeza e solidão é o que restou
As luzes das estrelas se apagaram
E o inverno da saudade começou

As nuvens brancas se escureceram
E o nosso céu azul se transformou
O vento carregou todas as flores
E em nós a tempestade desabou

Eu já não posso mais olhar nosso jardim
Lá não existem flores, tudo morreu pra mim
Não posso mais olhar nosso jardim
Lá não existem flores, tudo morreu pra mim

Mas não faz mal
Depois que a chuva cair
Outro jardim um dia
Há de reflorir

Eu já não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

Não posso mais, não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

domingo, 24 de abril de 2011

Crítica ao Marxismo Pragmático

Após a leitura de um artigo escrito pelo colega sociólogo Eduardo de Oliveira Santos, a quem recomendo a leitura de seu "Hipocrisia e Individualismo: o novo dualismo marxista da era contemporânea", faço uso de meu blog para rebater algumas ideias contidas no texto, especialmente quanto ao uso, inapropriado, do marxismo.
O marxismo ainda é uma ideologia muito atuante, em movimentos sociais, partidos políticos de esquerda, na academia universitária, na práxis de qualquer pensador interessado na compreensão da vida em sociedade, dos conflitos humanos numa realidade de divisão social e violência de classe. 

Se enganam os idiotas que relacionam o fim do dito "Socialismo Real" (implementado ao longo do século XX, numa série de governos autoritários, governados por partidões/núcleo duro) a uma desqualificação do marxismo como ideologia. Aqueles que leram Marx com a devida atenção sabem, com facilidade, que estes regimes políticos do século XX fazem uso da teoria marxista, mas não são, definitivamente, marxistas. O que houve foram uma série de desusos da teoria marxista, utilizada como meio, não como fim ou projeto político verdadeiro-igualitário.
 
Usaram e hoje os hipócritas usam o marxismo por compreenderem que este, em seu discurso, ainda é uma argumentação poderosa, ancorada na promessa de construção de um devir igualitário, libertando o povo de seus grilhões históricos: Estado, sociedade de classes, Igreja, proprieda privada, etc.

Mas o uso que hoje os hipócritas fazem de Marx, deturpado como fizeram Stalin, Mao, Fidel, Lenin, segue numa mesma direção, perversa: a teoria marxista como argumento teórico de conquista do poder, de tomada do Estado por partidos, seja numa lógica declaradamente autoritária seja sob o véu de uma democracia liberal falsificada.

É incorreto, como afirma o colega Eduardo, apontar possíveis Marxismos adulterados como "líquidos", "darwinista", o termo que melhor expõe este uso malogrado da teoria marxista, que contraditoriamente reforça a exclusão social e fortalece o Capital, seria "Marxismo Pragmático". E o que seria este pragmatismo? O uso do discurso marxista para a sedução das massas, sempre ávidas por lideranças interessadas em guiá-las nos caminhos da verdadeira libertação: a revolução social. Contudo, como falar em revolução social após a queda do "Socialismo Real" do século XX virou uma espécie de tabu, onde todas as utopias parecem corroídas pelo dito fim da História, resta aos pragmáticos utilizarem do discurso marxista, de caráter classista, igualitário, comunitário, socializante, de maneira a conquistar seus votos, cadeiras em Parlamentos, a cada período eleitoreiro, reafirmando a conquista do poder por oligarquias políticas travestidas de partidos (todos, digo todos, sem nenhuma base social real e sem ancoragem ideológica alguma, vide o novo partido kassabista, PSD, uma excrescência).

O que há nos dias de hoje é, por incrível que possa parecer, uma utilização weberiana (própria de uma racionalidade weberiana) da teoria marxista, tendo a conquista do poder como objetivo a ser alcançado (pela via democrático-liberal, de democracia representativa, do voto). E esta utilização do marxismo, pela via do discurso, ainda poderoso como essência, é um fenômeno puramente metodológico - não usa o marxismo mais no sentido em que este fora construído por Karl Marx ao longo do século XIX, de projeto político para a revolução social; não usa mais o marxismo para a chegada e tomada do poder por um partidão declaradamente autoritário, afinal o autoritarismo levado ao extremo nunca se sustenta (vide fascismos, à direita e a esquerda); usa-se o marxismo como discurso as massas, não para revolucionar as suas vidas, mas para convencê-los nas urnas, votando nos políticos, nos partidos ávidos por poder e por controle estatal (afinal a máquina de Estado oferece ganhos, posições, cargos, empregos, cabides, privilégios) de que eles serão sempre os mais capazes de gerenciar as coisas do Estado, as coisas do mundo do Capital, garantindo que o povo coma mais e melhor, que compre mais e melhor, mas nunca, nunca, que este se liberte das garras do Capital.

O pior de tudo isso é que o próprio Marx já vislumbrava este mau uso de suas ideias, e este mesmo, quando questionado em vida dizia-se não ser "marxista". A tomada do poder, a tomada do Estado, por forças revolucionárias, de origem proletária, de extensas e profundas raízes sociais, é apenas uma etapa do objetivo maior e essencial: do reestabelecimento da vida em comunas, sem Estado, sem autoridades, sem propriedades, ao que damos o nome de Comunismo, meta comum a todos os homens verdadeiramente de esquerda, sejamos socialistas ou não, anarquistas, etc.

E assim, a melhor maneira de desconstruir este marxismo pragmático, de renunciar ao velho marxismo-leninismo, é, sem revisionismos, fazer um exercício de retorno ao próprio Marx, trazendo a tona as suas máximas, válidas quando se trata de uma sociedade Capitalista: o Capital aliena, divide, reforça a vida em classes, vivemos sob a égide da dominação de classe e que a sua superação só se dará de forma violenta, com derramamento de sangue (lembremos, a violência como parteira da História), a propriedade é algo a ser abandonada, e que o homem só se realiza, inclusive suas potencialidades, através de sua existência coletiva, imersa no tecido social (sozinhos, praticamente inexistimos).

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Feliz Páscoa!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Experiência Ateísta - Programa Televisivo do Grupo Ateu de Austin (Canadá)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ozzy Osbourne - Dreamer Legendado

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Violência contra a mulher

A violência contra a mulher ainda é uma chaga que corrói a sociedade brasileira, todo dia, vide noticiários, e as vezes até exemplos bem próximos como na vizinhança, com amigos, alunos, etc.
O entendimento clássico desta violência é o "direito" masculino de agredir, o homem bate, tenta se impor diante da mulher apenas com aquilo que imediatamente o favorece: a força física. Mas por que ele se sente no "direito" de bater?

Na sociedade pós-moderna em que vivemos a violência contra a mulher extrapola o puro e simples machismo (mal postergado por milênios, e reforçado até por religiões como o cristianismo e o islamismo), ela hoje tem um caráter multifacetado que aponta para uma mesma direção: o macho impotente, pequeno, diante da nova mulher.

As mulheres estão nas fábricas/empresas/organizações, dentro dos veículos, nos esportes (inclusive o mundinho futebolístico), assumindo responsabilidades antes tidas como exclusivas do Universo masculino (dentre estas a manutenção de um lar, sustentando seus maridos e filhos).

Hoje as mulheres governam uma parte do mundo, inclusive o nosso país com a presidente Dilma Roussef. O macho está perdido, não sabe lidar mais com a mulher que se insurgira nos últimos tempos, e o que "lhe resta": a ação quase pré-histórica, brutal, de bater, agredir!

Você não me ama? Pancada! Você ganha mais do que eu? Pancada! Você não me dá a atenção que eu gostaria de ter? Pancada! Você não se comporta como uma "mãe"? Pancada! Você ousa querer gozar na cama? Pancada! Você toma o emprego dos meus iguais? Pancada! Você quer sair de casa? Pancada! Você quer tomar a iniciativa no jogo da sedução? Pancada! Você questiona os meus valores? Pancada! Você não quer ser mãe? Pancada! 
E não sejamos cegos, esta violência não faz distinção de classe, cor, credo; hoje, homens ricos e pobres, jovens e velhos, educados ou não, religiosos ou descrentes, não importa, em todos os nichos sociais você encontra uma mulher agredida, humilhada e deixada a própria sorte pela lei brasileira (ou alguém aqui ainda acredita na força da Lei Maria da Penha, por sinal morta/martirizada pelo marido?).

Quando leio a respeito, vejo os casos do dia-dia, sempre me revigora a certeza de que a fonte primordial de toda atitude intempestiva, bruta e covarde tem sua gênese na maldita ignorância humana. O homem que agride, bate, por simplesmente sentir-se perdido diante de um mundo em mudanças, é um covarde que desqualifica o gênero humano e nos rebaixa a condição de animais acéfalos.
Faço aqui apelo a você que me lê: denuncie. Não se cale diante de um casal que se agride, diante de uma atitude covarde. Isso se pensarmos nas estruturas legais em que a nossa sociedade se baseia, porque numa sociedade igualitária (autogestão), onde o fundamento maior é a condição horizontal entre os seres, a agressão covarde de um homem perante uma mulher seria punida de uma maneira severa e definitiva (me compreendem?).

E você, babaca, pensa que é macho por bater....sinto informá-lo, você não é homem, é um animal, e seu lugar é entre grades, comendo ração e dormindo no chão. Homem de verdade quando se sente pequeno diante de uma mulher deve, com serenidade, compreender:
  1. O mundo mudou, as mulheres finalmente estão inseridas com plenitude no tecido social.
  2. Levantar a cabeça e buscar compreender que novas mulheres são estas, o que pensam, como agem, seus desejos e angústias. Ou seja, menos transpiração, mais inspiração (cabeça pra funcionar sempre).
  3. O Universo não gravita em torno de você (enfie o orgulho e o egoísmo naquele lugar mesmo...); faça o seu melhor, viva o tempo presente e compreenda que as decepções são momentos naturais, as tristezas são eventos que vem e vão, e que não adianta querer impor a sua verdade, a sua pessoa, na base da pancada. Diálogo sempre.
  4. Autocrítica, autocrítica, sempre.
E pensemos: nada ainda mais prazeroso que conquistar uma mulher que está ali, livre, liberta, com desejos próprios, com atitude, com inserção na conjuntura da vida. A conquista agora ganha novos sabores, novos contornos. Ter uma mulher ao seu lado hoje é ter uma companheira legítima, uma pessoa disposta a estar ali construíndo uma trajetória em comum, uma pessoa que soma, uma pessoa que não está inerte, morta, vazia, pelo contrário, cheia de vida para lutarmos sempre juntos - como deve ser, sempre. Feliz o homem que tem uma mulher, livre e verdadeira, no seu caminhar da existência.

E como homem, como agitador, livre-pensador, o meu amor pelas mulheres é comparável ao meu amor pela vida. Sem vocês, flores de nossa estrada tortuosa, nada teria sentido.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Música, Anestesia e as Massas

Na noite do último sábado, 09/abril, no Ginásio do Mineirinho eu e  mais milhares de aficcionados pelo bom e velho rock'roll conferimos, ao vivo pela primeira vez em Belo Horizonte, um dos mestres do heavy metal: Ozzy Osbourne e banda com a turnê do álbum "Scream" (deixado meio de lado na apresentação, com uma única música tocada no set list, privilegiando os clássicos dos anos 70/80, enfatizando a fase Black Sabbath).
É como "chover no molhado" dizer o quanto o show foi sensacional, apesar da conhecida problemática técnica do ginásio mineiro (superada com a potência e vigor do som, ensurdecedores); e o show, o evento em si, a reverência ao ídolo imerso numa multidão diversificada mas unida em torno do rock'roll.
 
Ali se viam casais, jovens e mais maduros, grupos de amigos, bêbados, cavaleiros solitários como o amigo que vos fala, malucos-beleza de toda espécie, cabelos ao ar, gritos, pulos, suor, agressividade, em meio aos cânticos sagrados de um deus real chamado "música".
Como a música é poderosa, como a individualidade consegue se esvair tão facilmente em meio a uma multidão que se transforma em massa homogênea, delirante e irracional: não me contive, subi numa cadeira (com meus mais de 100 kg de peso, destruindo-a facilmente), pulei como um animal enjaulado, com sangue nos olhos e garras prontas para "matar". A voz saía, forte, forçada (chegando ao ponto da afonia), ao ritmo ditado pela música pesada, em canções que falavam de amor, da morte, da vida, da máquina-humana, da magia, dos nossos demônios diários a nos atormentar a existência.
 
Por quase duas horas de apresentação eu deixei de ser o Tiago, o educador, o professor, o filho, o homem, eu me dissolvi em meio a multidão, tornei-me massa, tornei-me muitos e milhares, e dai podemos, depois com a cabeça no lugar, perceber o quanto a coletividade, organizada e determinada é, com toda certeza, a maior força que existe neste planeta - não há como detê-la, nem com armas nucleares.


Hoje a anestesia passou, que voltem todos os meus demônios!

"Mr. Crowley" - Ozzy Osbourne (um tributo ao místico Aleister Crowley)

sábado, 9 de abril de 2011

A Loucura como Perigo!

O Brasil parou dias atrás. Um jovem entra em uma escola municipal do Rio de Janeiro e executa, friamente, cerca de 12 crianças, parando a carnificina após o tiro derradeiro que consumara seu ato final de covardia: o suicídio.
 
Nos primeiros comentários sobre o assunto, lamentável e aterrorizante, chega-se a conclusão mais obvia: tratava-se de um maluco, de um louco, um jovem insano com duas armas e munição nas mãos disposto a vingar-se contra a sociedade que lhe sufocava a existência.
Isso evidencia algumas coisas: a insegurança dentro de nossas escolas, eu mesmo um educador tenho consciência de que se um maluco qualquer quiser entrar no meu ambiente de trabalho e executar os alunos, funcionários, ele o fará sem a menor resistência (as escolas não possuem guardas armados em seu interior, não possuem estrutura mínima de segurança interna como detectores de metal, impedindo a entrada de jovens armados no recinto), e por fim a questão da loucura humana e como ela é encarada como perigo.
 
Diversos são os pensadores que trataram da loucura humana, e entre os filósofos destaco o renascentista Erasmo e por fim o contemporâneo Michel Foucault. E é sobre a análise foucaultiana que gostaria de me debruçar aqui.
Para Foucault co-habitam as estruturas de poder uma série de micro-poderes, pequenos gestos, lógicas, praticamente submersas em nossa vida cotidiana. No geral estes micro-poderes atuam em comum acordo para o objetivo comum que é disciplinar os corpos. Os corpos devem ser disciplinados para a manutenção e garantia da ordem vigente, do status quo desigual, excludente e epidermicamente intolerante.
 
Trabalhando sob perspectiva histórica Foucault percebeu que a disciplina dos corpos foi se aprimorando, se tornando mais sutil, complexa ao mesmo tempo em que as sociedades se modernizaram, industrializaram, cientificizaram-se. Hoje você não recorre a velha pedagogia da dor, como nos tempos antigos e medievais (com torturas ao ar livre, exibindo o terror da dor em praça pública), hoje você encarcera, você retira o bem  mais precioso do indivíduo inserido numa cultura liberal e egoísta - tirando-lhe a liberdade, não a vida (a liberdade vale mais que a própria existência, ou seja, viver sem liberdade é uma vida sem sentido e que não vale a pena ser vivida).
E neste contexto, quem é o louco? 
 
O louco é aquele indivíduo que por uma série de razões: sociológica, psicológica, política, acaba por demonstrar atos, pensamentos e comportamentos dissonantes ao que é eticamente aceito pela sociedade-racionalidade reinantes. Então o louco "rasgaria dinheiro" (para uma sociedade capitalizada em sua raíz), "andaria nu", "comeria lixo ou as próprias fezes", etc. O louco assim é aquele que sorrateiramente e naturalmente quebra todas as regras do tecido social e da convivência social tida como aceitável.
O que fazer com nossos loucos? Discipliná-los. Onde? Nos manicômios, nos sanatórios, apaziguando-lhes os instintos, os impulsos que literalmente desconsideram toda a ética: e dá-lhe eletrochoques, drogas, tratamentos violentos os mais diversos. Até ele chegar ao ponto de ficar em um pátio, solitariamente andando e babando, como um boneco inofensivo e disciplinado. Para a sociedade, garantia de limpeza social, de continuismo da ordem das coisas, tranquilidade.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Marx, Gramsci e Foucault - uma resposta.

Email recebido no dia 03/04/2011:
"Olá Professor, bom dia!
Sou de Goiânia, estudante de direito, gostaria de entender a relação entre Foucalt, Marx e Gramsci, pois tenho que desenvolver um trabalho Sobre "Mídia, Poder e Controle Social" a partir da percepção de obra destes autores.
Assisto seus vídeos do youtube sempre que posso e sou realmente seu fã!!!!
Muito Grato.
Hanleryo Arantes"

Olá, realmente é um trabalho de fôlego relacionar estes três grandes pensadores, lembrando:

Marx, filósofo alemão do século 19, ícone do pensamento socialista.

Gramsci, filósofo italiano do século passado, preso durante o governo de Mussolini, escreveu boa parte de suas obras dentro da prisão em meio a Itália fascista.

Foucault, filósofo francês do século passado, famoso por suas análises a respeito das diversas nuances do poder/próximo ao estruturalismo.

Marx nos traz ideias como materialismo histórico (movimento dialético da história, ancorada na luta de classes dentro de uma lógica de dominação de uma minoria sobre a maioria), alienação (produção de uma falsa consciência, a partir da ação-dominação burguesas, onde os objetos de consumo ganham vida, mortificando as pessoas pelas vias do fetichismo).

Gramsci, assim como Foucault, trabalha com a noção de poder e de cultura: em Gramsci isso se evidencia no conceito de "hegemonia" (um poder exercido a partir da cultura, cultura política, o que depois será explorado de forma mais contundente pelos filósofos alemães da Escola de Frankfurt). E Foucault, sob o método, utilizado por Nietzsche, da genealogia levada as últimas consequências, acaba por vislumbrar uma série de mecanismos, sutis e poderosos, de poder - evidenciados em hospitais, sanatórios, escolas, presídios, a sexualidade.

De forma um pouco sintetizadora podemos entender que são pensadores que trabalham, cada qual a sua maneira-olhar-método, as possíveis relações entre poder e cultura, Marx com uma análise economicista e sociológica, Gramsci com estas mesmas ferramentas metodológicas (afinal é um autor reconhecidamente marxista) e Foucault recuperando a genealogia nietzschiana.

Como indicação de leitura, recomendo:

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere (organizados em vários volumes).

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos.