Um dos primeiros críticos da Revolução Francesa, Edmund Burke (filósofo irlandês), já afirmava que para o Mal triunfar bastava que os bons nada fizessem, ou "cruzassem" seus braços. Claro que eu não observo a realidade da vida de forma tão "preto no branco", de mocinhos e bandidos, e quem me ensinou isso, oras, a musa Clio (deusa da memória, e da História).
Dos maiores desafios de um professor, sobretudo de ciências humanas, é não ter posições, ou seja, como um velho e corcunda positivista obcecado por uma pretensa objetividade. Já coloquei isso aqui, e inúmeras vezes, nas humanidades não é possível que 2+2=4, existem muitas, e muitas possibilidades. Falar em verdades, histórica, sociológica, filosófica, etc...é ser presunsoço demais.
O assunto gera polêmicas, talvez até mesmo brigas. E eu levanto a bola "o bolsonarismo tem elementos nazifascistas?".
O porquê da provocação surge na luz/da treva do vídeo divulgado pelo agora ex-secretário de Cultura (ou da ausência de) Roberto Alvim que anunciava, ao som de Lohengrin (utilizado pelos alemães nos campos de concentração enquanto os judeus eram vitimados à caminho do banho da morte), um Prêmio Nacional das Artes (20 milhões de reais), vociferando um discurso travestido de nacionalismo, baseado em falas do antigo ministro da propaganda nazista, Goebbels (1897-1945).
Assim dizia: a arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional.
Me apegando a frase, como ele poderia falar da arte da "próxima década", até onde eu saiba o mandato do atual presidente se encerrará em 2022. Heróica, oras, a arte tem por objetivo combater algum inimigo? Nacional, oras, a arte é expressão do indivíduo, do artista, que é parte de um contexto e uma sociedade, mas a arte seria um projeto de Estado?
Até na aparência do vídeo o antigo secretário encarna uma espécie de personagem.
Fala que a cultura, proposta pelo presidente, seria para salvar a juventude. De quem? Eu entendo que a educação, a boa condução da economia do país, o acesso a saúde, ou seja, o Estado quando cumpre com o seu papel de promoção do bem estar social realmente salva o jovem, dando-lhe dignidade e pelo menos evitando que afunde na miséria. A conversa liberalizante, que tem os seus argumentos, só serve aos senhores do mundo, a quem já concentra renda, oportunidades, trancafiados em suas bolhas sociais.
Apregoar valores tradicionais como "pátria, família, Deus" num discurso sobre política cultural é, no mínimo, esdrúxulo.
O governo, pressionado pela repercussão negativa, botou o rabo entre as pernas e mandou Alvim para o RH. O que assusta, de verdade, é observar que o Estado brasileiro hoje é comandado por pessoas não só despreparadas, mas de uma ignorância e ausência de bom senso nunca antes visto ou imaginado. Um secretário de Estado travestir-se de Goebbels, em pleno 2020, é um grande absurdo.
Mas, lembro Burke (no sentido de questionar até quando nós vamos cruzar os braços em meio a esta política regressista), esse governo já mostra que é o ovo da serpente, já é a serpente? Exagero meu, não sei. Isso que ocorreu é preocupante e inaceitável. O discurso de ódio, desde o período eleitoral, vai se tornar realmente uma política de ódio?
O Presidente Bolsonaro, se fosse um homem coerente com o cargo que ocupa, teria deixado as eleições pra trás e assumido a condição de representante dos brasileiros, na totalidade de nossa sociedade. Falar em inimigos internos, apontar armas com as mãos, escolher mal os seus ministros, todos eles (não há um só aceitável, nem mesmo Moro - cuja parcialidade num processo jurídico já o desqualifica pro cargo).
Eu espero, com sinceridade, não ver o governo do meu país abrir espaço para grupos e pessoas que ainda carregam pensamentos/ideologias que prezam pela violência, exclusão, estigmatização. Ou acordamos, de alguma forma, e a repulsa geral fez o governo agir, ou realmente um certo bolso-nazismo pode germinar e jogar o país numa crise social interna sem precedentes.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2020
O caso Alvim é uma ameaça à ordem social
Historiador e educador brasileiro. Nascido em São Paulo (12/08/1978), radicado em Belo Horizonte (onde viveu por 26 anos) e atualmente vivendo na cidade paulista de Atibaia (60km da capital São Paulo). Graduou-se (como bacharel e licenciado) como Historiador no ano de 2006 no UNIBH/ou FAFI-BH (recebendo prêmio em março de 2007 como destaque acadêmico do curso de História de sua universidade).
Atuou em projetos de pesquisa, na prefeitura (Centro de Referência Áudio-Visual)de Belo Horizonte sob coordenação da historiadora dra. Heloisa Greco/UFMG; além disso é um dos organizadores do acervo Carmela Pezzuti.
Como educador atuou na rede pública de ensino mineira desde 2004, quando ainda era universitário. Tivera experiências na escola da comunidade judaica de BH, e por mais de um ano fora professor-monitor do curso de História do UNIBH nas disciplinas História Medieval e Brasil República I. Desde 2014 é professor efetivo do Estado de São Paulo, e desde janeiro de 2015 tornou-se professor da educação básica do Colégio Atibaia, parceiro do Sistema Etapa de Ensino.
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