quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Ser "normal"


Janeiro é tempo de perder o sono com o IPTU, IPVA, compra de material escolar, os boletos referentes aos gastos natalinos. Porém, é tempo de reflexão, da campanha que recebe o nome de "janeiro branco", cuja temática recai sobre as questões que envolvem a saúde mental.



As doenças da alma, posso assim dizer, são incapacitantes. Prejudicam o convívio social, destroem carreiras profissionais. Como professor, há pelo menos 15 anos, observo com tristeza como a Burnout, por exemplo, tem afastado bons profissionais da sala de aula. Entre as categorias profissionais, no Brasil, professores, policiais e médicos, são os "campeões" de afastamentos em decorrência de fatores e patologias psicossomáticas.

Urge, e muito, a necessidade de profissionais da saúde mental dentro do ambiente escolar regular. Projeto que infelizmente o governo Bolsonaro recrimina, e pelos motivos errados - de caráter ideológico.

Mas, nesse texto, aproveitando o mote da campanha (saúde mental), é sempre interessante debater afinal de contas o que é ser "normal". A música composta por Arnaldo Baptista e Rita Lee, Balada do Louco, do álbum de 1972 "Mutantes e seus cometas no país do baurets" diz:

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim, sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz


O ser normal de certa forma dialoga com uma série de aspectos sociológicos. Afinal, quem pode definir o que é ou não é "normalidade". O normal é aquilo que é esperado dentro de um conjunto de regras e normas de conduta, e tal normalidade é, sim, imposta socialmente. Daí a racionalização e construção de um espaço destinado àqueles que fogem ou desafiam a normalidade: os sanatórios, por exemplo...o hospital (no sentido foucaultiano).

Normalizamos tudo, no caminhar do processo civilizatório, e então definimos, enquanto sociedade o que são uma família normal, uma criança normal, um relacionamento amoroso normal, um trabalho normal, uma relação sexual normal...

Tudo tão normal, tão fechado em modelos, que o resultado de tanta normalidade só poderia ser patológico. Vivemos em sociedades, modernas, tecnológicas e informatizadas, civilizadas, porém doente.

Daqui há algumas décadas talvez nenhum sorriso ou sensação de bem estar não sejam acompanhadas de pílulas, comprimidos, terapias. Teremos vidas artificiais, existências artificiais.

Portanto, neste janeiro branco, convido à todos debater esta complexa questão "o que é ser normal?".

DICAS DE LEITURAS (que dialogam com o tema):
FOUCAULT, Michel. História da loucura/Col. Estudos vol. 61. Ed. Perspectiva.
FREUD, Sigmund. Freud (1930-1936) o mal-estar na civilização e outros textos. Ed. Companhia das Letras.

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