Janeiro é tempo de perder o sono
com o IPTU, IPVA, compra de material escolar, os boletos referentes aos gastos
natalinos. Porém, é tempo de reflexão, da campanha que recebe o nome de
"janeiro branco", cuja temática recai sobre as questões que envolvem
a saúde mental.
As doenças da alma, posso assim
dizer, são incapacitantes. Prejudicam o convívio social, destroem carreiras
profissionais. Como professor, há pelo menos 15 anos, observo com tristeza como
a Burnout, por exemplo, tem afastado bons profissionais da sala de aula. Entre
as categorias profissionais, no Brasil, professores, policiais e médicos, são
os "campeões" de afastamentos em decorrência de fatores e patologias
psicossomáticas.
Urge, e muito, a necessidade de
profissionais da saúde mental dentro do ambiente escolar regular. Projeto que
infelizmente o governo Bolsonaro recrimina, e pelos motivos errados - de
caráter ideológico.
Mas, nesse texto, aproveitando o
mote da campanha (saúde mental), é sempre interessante debater afinal de contas
o que é ser "normal". A música composta por Arnaldo Baptista e Rita
Lee, Balada do Louco, do álbum de 1972 "Mutantes e seus cometas no
país do baurets" diz:
Dizem que sou
louco por pensar assim
Se eu sou muito
louco por eu ser feliz
Mas louco é quem
me diz
E não é feliz, não
é feliz
Eu juro que é
melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar
que Deus sou eu
Sim, sou muito
louco, não vou me curar
Já não sou o único
que encontrou a paz
O ser normal de certa forma
dialoga com uma série de aspectos sociológicos. Afinal, quem pode definir o que
é ou não é "normalidade". O normal é aquilo que é esperado dentro de
um conjunto de regras e normas de conduta, e tal normalidade é, sim, imposta
socialmente. Daí a racionalização e construção de um espaço destinado àqueles
que fogem ou desafiam a normalidade: os sanatórios, por exemplo...o hospital
(no sentido foucaultiano).
Normalizamos tudo, no caminhar do
processo civilizatório, e então definimos, enquanto sociedade o que são uma
família normal, uma criança normal, um relacionamento amoroso normal, um
trabalho normal, uma relação sexual normal...
Tudo tão normal, tão fechado em
modelos, que o resultado de tanta normalidade só poderia ser patológico.
Vivemos em sociedades, modernas, tecnológicas e informatizadas, civilizadas,
porém doente.
Daqui há algumas décadas talvez
nenhum sorriso ou sensação de bem estar não sejam acompanhadas de pílulas,
comprimidos, terapias. Teremos vidas artificiais, existências artificiais.
Portanto, neste janeiro branco,
convido à todos debater esta complexa questão "o que é ser normal?".
DICAS DE LEITURAS (que
dialogam com o tema):
FOUCAULT, Michel. História da
loucura/Col. Estudos vol. 61. Ed. Perspectiva.
FREUD, Sigmund. Freud
(1930-1936) o mal-estar na civilização e outros textos. Ed. Companhia das
Letras.
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