terça-feira, 26 de abril de 2011

Amar é morrer, e depois renascer

Nos últimos dias tenho acompanhado o drama pessoal de um grande amigo, agora a sofrer uma decepção amorosa. Pela amizade grande que temos é claro que eu acabo também um pouco entristecido pelo fato, e além, acabo relembrando de quantas e quantas vezes eu sofri ou fiz alguém sofrer por amor.
O ser humano tenta, em vão, manter-se avesso a possíveis mudanças, e ninguém, ninguém mesmo, está preparado para perder. As perdas humanas sempre serão um dos maiores tormentos que qualquer indivíduo pode passar, e se pensarmos na sociedade atual, individualista, egocêntrica, toda perda passa a ser quase que uma dor insuportável, cruel demais.
O amor, as relações humanas, pressupõe sempre a possibilidade de uma perda. E esta, seja de que maneira for, é uma sensação de morte. Amar é saber que em dado momento você irá experimentar uma espécie de morte, que pode ser o fim da relação, a distância entre duas pessoas, ou mesmo a morte física. Isso ocorre porque o ser humano é um ser social por excelência, não somos "uma ilha" como já diziam poetas - e assim, precisamos e muito, do outro, da companhia do outro, da aprovação do outro, da satisfação do outro, do prazer do outro. 

Num curto período, pós separação, distanciamento, quando duas pessoas decidem, em conjunto ou não, seguirem rumos distintos na vida, passa-se por uma temporada, tórrida, de luto. Afinal, é como disse, sensação de morte. 

Não é inexplicável que muitas pessoas, doentes psiquicamente e socialmente, num momento de morte, típico do amor, acabam por destruir-se (na entrega aos vícios, como álcool - e dai o comum porre de dor de cotovelos, com aquela imagem popular do ébrio isolado na mesa do bar, chorando as suas mágoas), ou destruir a vida do outro por completo - vide os casos policialescos, violentos, a que chamam de "crimes passionais". Aqui mesmo, próximo de minha residência, ficou famoso o caso do ex-marido que matou com tiros à queima-roupa a ex-mulher dentro de um salão de beleza, na frente de clientes e demais funcionários do  lugar.

Nestas horas de dor, de luto, onde a sensação é fria, gélida, mórbida, onde somos tomados de uma rara e dolorosa sensação de niilismo, de inexistência, é que o ser humano age como uma tartaruga, coloca-se pra dentro de sua casca e deixa o tempo agir.

O tempo, sim, o tempo é o senhor de todas as feridas e perdas humanas. O tempo que nos reconstrói, a cada dia-noite, e que acaba por nos reestabelecer, até que somos tomados, novamente, pela vontade de respirar novos ares, e então, como que num milagre da natureza, colocamos a cabeça pra fora da casca de novo. E assim, um novo ciclo de vida se renova, um recomeço, um redespertar.

Assim é a vida humana, marcada por seus altos e baixos, e sobre o amor, força e necessidade humanas, este é como uma flor mesmo: bela e espinhosa. 
Inspirado nestas ideias, nestes momentos de luto e ressurreição de si, deixo abaixo uma de minhas canções favoritas de Roberto Carlos "As flores do jardim da nossa casa", que ilustra muito bem tudo o que fora dito acima.

 
As flores do jardim da nossa casa
Morreram todas de saudade de você
E as rosas que cobriam nossa estrada
Perderam a vontade de viver

Eu já não posso mais olhar nosso jardim
Lá não existem flores, tudo morreu pra mim
Não posso mais olhar nosso jardim
Lá não existem flores, tudo morreu pra mim

As coisas que eram nossas se acabaram
Tristeza e solidão é o que restou
As luzes das estrelas se apagaram
E o inverno da saudade começou

As nuvens brancas se escureceram
E o nosso céu azul se transformou
O vento carregou todas as flores
E em nós a tempestade desabou

Eu já não posso mais olhar nosso jardim
Lá não existem flores, tudo morreu pra mim
Não posso mais olhar nosso jardim
Lá não existem flores, tudo morreu pra mim

Mas não faz mal
Depois que a chuva cair
Outro jardim um dia
Há de reflorir

Eu já não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

Não posso mais, não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

2 comentários:

  1. Maravilhoso texto caro colega, Parabéns e obg por nos disponibilizar!

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  2. Obrigado ao amigo por prestigiar o meu trabalho, grande abraço aqui de BH!

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