sábado, 9 de abril de 2011

A Loucura como Perigo!

O Brasil parou dias atrás. Um jovem entra em uma escola municipal do Rio de Janeiro e executa, friamente, cerca de 12 crianças, parando a carnificina após o tiro derradeiro que consumara seu ato final de covardia: o suicídio.
 
Nos primeiros comentários sobre o assunto, lamentável e aterrorizante, chega-se a conclusão mais obvia: tratava-se de um maluco, de um louco, um jovem insano com duas armas e munição nas mãos disposto a vingar-se contra a sociedade que lhe sufocava a existência.
Isso evidencia algumas coisas: a insegurança dentro de nossas escolas, eu mesmo um educador tenho consciência de que se um maluco qualquer quiser entrar no meu ambiente de trabalho e executar os alunos, funcionários, ele o fará sem a menor resistência (as escolas não possuem guardas armados em seu interior, não possuem estrutura mínima de segurança interna como detectores de metal, impedindo a entrada de jovens armados no recinto), e por fim a questão da loucura humana e como ela é encarada como perigo.
 
Diversos são os pensadores que trataram da loucura humana, e entre os filósofos destaco o renascentista Erasmo e por fim o contemporâneo Michel Foucault. E é sobre a análise foucaultiana que gostaria de me debruçar aqui.
Para Foucault co-habitam as estruturas de poder uma série de micro-poderes, pequenos gestos, lógicas, praticamente submersas em nossa vida cotidiana. No geral estes micro-poderes atuam em comum acordo para o objetivo comum que é disciplinar os corpos. Os corpos devem ser disciplinados para a manutenção e garantia da ordem vigente, do status quo desigual, excludente e epidermicamente intolerante.
 
Trabalhando sob perspectiva histórica Foucault percebeu que a disciplina dos corpos foi se aprimorando, se tornando mais sutil, complexa ao mesmo tempo em que as sociedades se modernizaram, industrializaram, cientificizaram-se. Hoje você não recorre a velha pedagogia da dor, como nos tempos antigos e medievais (com torturas ao ar livre, exibindo o terror da dor em praça pública), hoje você encarcera, você retira o bem  mais precioso do indivíduo inserido numa cultura liberal e egoísta - tirando-lhe a liberdade, não a vida (a liberdade vale mais que a própria existência, ou seja, viver sem liberdade é uma vida sem sentido e que não vale a pena ser vivida).
E neste contexto, quem é o louco? 
 
O louco é aquele indivíduo que por uma série de razões: sociológica, psicológica, política, acaba por demonstrar atos, pensamentos e comportamentos dissonantes ao que é eticamente aceito pela sociedade-racionalidade reinantes. Então o louco "rasgaria dinheiro" (para uma sociedade capitalizada em sua raíz), "andaria nu", "comeria lixo ou as próprias fezes", etc. O louco assim é aquele que sorrateiramente e naturalmente quebra todas as regras do tecido social e da convivência social tida como aceitável.
O que fazer com nossos loucos? Discipliná-los. Onde? Nos manicômios, nos sanatórios, apaziguando-lhes os instintos, os impulsos que literalmente desconsideram toda a ética: e dá-lhe eletrochoques, drogas, tratamentos violentos os mais diversos. Até ele chegar ao ponto de ficar em um pátio, solitariamente andando e babando, como um boneco inofensivo e disciplinado. Para a sociedade, garantia de limpeza social, de continuismo da ordem das coisas, tranquilidade.

Um comentário:

  1. Tiago, também postei sobre o ocorrido no meu blog Estudos Culturais em Educação.
    http://wwwestudosculturaisemeducacao.blogspot.com

    Beijos

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