sábado, 11 de junho de 2011

Produzir e Reproduzir História

Ao longo de minha formação como historiador, na universidade, lembro-me de como a História brasileira era apresentada de forma pouco valorizada, e pior, desmotivante.

Cada um de meus velhos professores, talvez com a mente presa as suas teses e dissertações pessoais, trabalhavam com a história brasileira de forma crítica ou cultural, ou mesmo ambas as coisas. Os eventos, o factual, eram aspectos pouco trabalhados em sala de aula. Mas como partir da crítica ou da cultura, pura e simplesmente, para a compreensão do todo dinâmico que é o conhecimento histórico? O factual, sim, o evento, é ainda combustível indispensável a compreensão histórica.

De que vale a um estudante o que pensa um Caio Prado Junior, Lilia Schwarz, Florestan Fernandes, Darci Ribeiro, Emilia Viotti, etc, se o mesmo nem ao menos conhece os eventos básicos da história nacional? A crítica perde sentido, vira argumento no vazio. E pior, acaba por estigmatizar a análise histórica como "bla bla bla" sem proposição alguma.

Os cursos de História, assim como as nossas licenciaturas, devem ser repensadas, especialmente no currículo e na seleção de profissionais. De nada adianta um professor centrado em si mesmo, em sua produção acadêmica. Ele deve manter a faceta de pesquisador, claro, até como produtor de conhecimento, mas nunca sobrepor a pesquisa sobre o ensino. Porque ai ele não ensina, apenas vocifera autores e análises, muito pobre para quem está sentado numa cadeira universitária querendo se tornar um profissional da educação.

Boa parte de nossa história nacional eu fui lidar, com profundidade, fora do ambiente universitário, já na prática diária de educador da educação básica e pública. Conhecia as análises, críticas, elementos da cultura, todos brandados na formação universitária, mas os eventos, os fatos, as pessoas, isso só na necessidade permanente do ser professor.

Longe de mim querer recuperar o Historicismo, típico do século 19, onde o factual e o documental imperavam a tal ponto que a história não abria a menor possibilidade para a crítica, transformando-se em entidade separada do tecido social, adquirindo status de "espírito" (como entendia Hegel por exemplo). A ideia é recuperar o factual e alinhá-lo as análises crítico-culturais, de maneira a se formar futuros educadores com uma bagagem mais sólida, aptos não só a produzir mas a reproduzir conhecimento (numa ação dialética, equânime). E que me perdoem os viajantes da pedagogia, mas a educação não se faz só na base da produção, mas da reprodução também - visto que esta é parte fundamental de toda socialização.

E reproduzindo, sob bases factuais, e produzindo sob bases analítico-crítico-culturais, é que formaremos professores de história mais próximos da excelência.

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