quarta-feira, 1 de junho de 2011

Greve em Minas e Educação Nacional

Em assembléia realizada ontem pela categoria os professores mineiros iniciam um novo movimento grevista a partir do dia 08 de junho, próxima quarta-feira, tendo como reivindicação primordial o cumprimento da chamada "lei do Piso" estabelecido pelo governo federal e que o governo do Estado, através de maquinarias matemático-financeiras, não vem honrando.
Nos últimos anos tivemos movimentos grevistas em nosso estado, em 2010 e 2008, e isso está se transformando em ação corrente devido a incapacidade dos estados brasileiros de vislumbrarem a educação como política real de desenvolvimento humano, a médio e longo prazo, e isso passa, para horror dos "educadores" contratados por Veja (Claudio Moura, Gustavinho, etc), sobre a questão mais que urgente e vergonhosa de uma política de valorização efetiva de todo magistério.
Não dá para conviver com uma realidade que lhe obriga a dar aulas em duas, até três escolas simultaneamente e em horários distintos; não dá para conviver com salas de aula abarrotadas de jovens, as vezes beirando 50, tratados como gado; não dá para fechar os olhos a todas as formas de violência praticadas e existentes no ambiente escolar (agressão, drogas, autoritarismo, bullyng); não dá para querer que hoje um jovem estudante deseje ser um educador com salários de fome (o próprio piso já é um salário de fome, ou alguém pode ter uma vida tranquila, digna, condizente com as necessidades de um educador com por exemplo pouco mais de R$ 900,00 mês?!).
Toda greve é um momento de exceção para o educador, é o último recurso, em desespero, diante de quadro tão vexaminoso. Encarar uma greve, deixar de dar suas aulas, é transtorno certo: pela falta de entendimento da sociedade, pelo individualismo dos pais, pela pressão exercida por governos como no corte de pagamentos e até demissão de muitos educadores contratados, o medo de ficar sem rendimentos para os meses seguintes e os fantasmas da inadimplência, atraso de aluguéis e em muitos casos até falta de comida na mesa de famílias.
Hoje o estado de Minas Gerais, governado por Antonio Augusto Anastasia (tecnocrata levado ao poder pelo padrinho Aécio Neves), é mais um exemplo, e não por acaso governado pelo PSDB (partido alinhado com lógicas empresariais no trato com a coisa pública, trazendo de baixo do braço o chamado choque de gestão - que significa enxugar, enxugar, enxugar, especialmente nas políticas sociais, e é um partido desvinculado aos problemas sociais que afligem a maioria/hoje tratados como pessoas diferenciadas) de como não se promove justiça social, dai o movimento de greve dos professores, dos policiais militares e civis, dos servidores da saúde, dos servidores do IPSEMG (previdência e saúde dos servidores mineiros).
Lidamos com governos que tratam a educação com números, só números. Mais crianças nas escolas, menor reprovação, ok. Mas, qualidade de ensino? Isso inexiste. Os educandos saem de nossas escolas, em sua boa parte, totalmente despreparados para a vida e para o mercado de trabalho, cada dia mais exigente. Não é sem razão que o nosso empresariado reclama que falta mão-de-obra qualificada.
O estado de Minas Gerais no que tange ao ensino médio, um dos objetivos mais nítidos de política educacional atual (depois da universalização do ensino fundamental e o combate ao completo analfabetismo), realiza uma organização curricular perversa: poucas são as escolas integrais, poucas são as escolas com políticas de formação profissional, e ainda por cima promovem uma diluição de conteúdos mesmo sabedor que os alunos serão cobrados em concursos vestibulares ou mesmo o exame do ENEM, exemplo:
- na escola onde trabalho, EE. Zilda Arns Neumann, o ensino médio regular é organizado assim
1º anos: 11 disciplinas.
2º anos: 9 disciplinas (saem Artes e Física).
3º anos: 8 disciplinas (saem Artes, Geografia e História).
Eu pergunto: como o educando irá recuperar estes conteúdos? Não recuperam...e dá-lhe defasagem. Rememorando que cada escola tem autonomia para alterar a distribuição dos conteúdos, mas sempre nesta estrutura deturpada de 11 disciplinas no 1º, 9 no disciplinas no 2º e 8 disciplinas no 3º!!
Se aqui a situação é de incompetência geral, em outros estados de nossa federação a situação não muda, e muitas vezes até piora como quando pegamos os exemplos de camaradas nordestinos (com merenda escolar desviada ou mesmo sub-utilizada, falta de transporte escolar, salários pagos abaixo do salário mínimo) e até mesmo de colegas que trabalham nas periferias de grandes centros como São Paulo (com escolas latão, horários de fome, discriminação na contratação de professores obesos) e Rio de Janeiro (onde se paga R$ 700,00 a um educador e ainda se convive diariamente com poderes paralelos!!).
O pior é que o modelo sindical brasileiro também não é uma garantia de lutas pelos reais interesses dos trabalhadores, afinal desde a Era Vargas (1930-1945) que qualquer sindicato é reconhecido e legalmente válido se vinculado ao Ministério do Trabalho, ou seja, os sindicatos estão emprenhados no corrupto e excludente Estado brasileiro, dai o peleguismo histórico das mais diversas categorias, usadas como manobra política e muitas vezes eleitoreira. 
Assim, toda e qualquer mobilização real pela educação nacional só será vitoriosa se tiver em seu núcleo o apoio e participação populares, não só com os professores e suas famílias na rua, mas com você que me lê, independente da condição social, o Brasil precisa urgentemente que o seu povo se mobilize pela educação, dando um passo verdadeiramente revolucionário em nossa história.

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