segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Governo Itamar Franco (1992-1994)

Não faço o tipo que lamentará a morte de um político, ainda mais brasileiro - fruto de nossa classe política burocrática, clientelista, conservadora, sem contornos ideológicos e de puro pragmatismo. Sendo assumidamente anarquista, fato mais que obvio. Porém há o lado do educador, do historiador, do profissional da História que deve sim se posicionar e buscar informar a juventude em especial.

O governo Itamar Franco (1992-1994), de curta duração (fenômeno comum na história política do Brasil o chamado mandato tampão), realmente tivera lá os seus méritos, contudo o mesmo período e sua figura histórica não devem ser supervalorizados e tratados como boa parte da imprensa mineira, sempre ela, vem realizando.

Itamar até que se prove o contrário, e isso é sempre uma possibilidade se tratando de história política do Brasil, foi um político ímpar no quesito ético: mostrava personalidade, comando e defendia como poucos aquilo que acreditava ser o melhor para o país, tudo sob a mais límpida ficha de serviços prestados (sem envolvimentos com corrupção e infamias do tipo - o que não deveria ser nem digno de nota, visto ser esta uma pré-condição básica demais para aquele que quiser galgar a administração pública).

Seu governo é iniciado num momento dos mais relevantes de nossa história republicana: o impedimento do ex-Presidente Fernando Collor, acusado por envolvimento em complexos esquemas de corrupção. Isso depois de eleito num pleito presidencial (1989) realizado após décadas do regime de exceção e de um governo eleito indiretamente cujo ocupante do cargo executivo foi postulado ao cargo após a morte do mineiro "eleito" Tancredo Neves (governo José Sarney 1985-1990).

Itamar contou com a sorte do momento: após o trauma do impedimento presidencial de Collor o Congresso Nacional optara por fazer um governo de coalisão política, dando uma "mãozinha" para o presidente "mineiro" (nasceu na Bahia e criou-se na mineira Juiz de Fora). Se engana quem acredita que Itamar garantira o Estado de Direito porque o mesmo já estava mais do que consolidado ao final do governo Sarney e das eleições presidenciais de 1989.

O grande xeque-mate de seu  governo viera na condução da política econômica e quando da opção pelo sociologo Fernando Henrique Cardoso (4º ocupante do cargo de homem-forte da Economia brasileira) como ministro da pasta econômica e com uma missão nada agradável: lutar contra o monstro inflacionário nacional que a décadas vinha corroendo a microeconomia e a vida dos trabalhadores (herança dos 21 anos de governos militares e de pacotes mal sucedidos construídos no governo Sarney como o Cruzado).

A estabilização viera pela condução do complexto Plano Real (iniciado como URV - unidade real de valor) que dera a economia brasileira uma nova cartilha, conservadora e liberalizante: câmbio flutuante, juros altíssimos, privatizações de setores estratégicos, enxugamento da máquina estatal, corte de gastos. Elementos que hoje o FMI recomenda aos gregos, portugueses e demais países europeus que sofrem profunda crise econômica! A receita é velha, como podemos ver.

Assim com o sucesso relativo da política econômica de seu governo Itamar acabou por conduzir o seu homem-forte ao posto de presidente da República, e FHC (1994-2002)assim governou por oito anos após criar o mecanismo de reeleição para cargos do executivo (ainda em vigor).

Evidentemente Itamar Franco e seu curto governo não significaram transformações profundas na vida do país: a infraestrutura permaneceu deficitária, a concentração de renda manteve-se a mesma, a educação e a saúde não se tornaram dignas, a carga tributária nacional continuou se transformando no monstro gigante que ainda é e a reforma agrária é um sonho que até hoje só não está congelado em grupos corajosos como o MST!

Findo o seu governo Itamar Franco comprou uma série de desafetos políticos, como o próprio FHC e o tucanato que tanto deviam a ele. Entre 1998-2002 governou Minas Gerais e como governador de Estado comprou briga com o governo federal de FHC contra o privatismo direcionado ao setor energético mineiro (o caso de Furnas), e quem é funcionário público como muitos colegas professores tiveram o desabor de trabalhar sob a condução austera e nada dialética do governador (que continuou desvalorizando o magistério mineiro).

Como fez no governo federal, Itamar conduziu ao governo mineiro um sucessor: Aécio Neves, do PSDB (governador entre 2002-2010), e no último pleito legislativo caminharam juntos numa campanha ao Senado Federal.

Esta é uma parte, a mais conhecida, da trajetória política do ex-Presidente Itamar que durante a Ditadura foi dos poucos políticos a vencer a Arena em eleições como a que o conduziu a prefeitura de Juiz de Fora nos anos 70 pelo MDB.

Não lamento a sua morte. Fez um bom governo a frente do país, cumpriu com seu dever ético e nada mais que isso. O dito Plano Real tirou o país de um problema sério, ok, mas nos conduziu a outros em especial de caráter social.

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