sábado, 10 de abril de 2010

Igreja, Pedofilia e Celibato

Antes de apresentar a matéria do portal Uai, relatando a falta de ação e até a conivência de João Paulo II em relação aos casos de padres pedófilos, em especial nos Estados Unidos, quero aproveitar a ocasião e tentar ilustrar um pouco o porquê da pedofilia como fenômeno católico.

Origem de Tudo: o Celibato Clerical.
No século XIII a Igreja romana instituiu o chamado "celibato clerical", proibindo aos homens da Igreja o ato sexual e a constituição de famílias, sob alegação (mantida até hoje) de que tais ações humanas impedem que o sacerdote possa exercer, com afinco, a sua profissão de fé. Em síntese: o padre não daria conta do trabalho de padre, pois estaria dividido entre a sua função de pai de família e de sacerdote.
Nós historiadores sabemos que tudo isso é grande papo furado, e a prova disto é a constatação material da decisão da Sé: a Igreja se tornou proprietária de 1/3 das terras européias, sendo considerada então a principal potência econômica e política da Europa ainda vivente sob tradições medievais.
Impossibilitando o casamento de padres, a procriação (aqui o sexo) dos padres, a Igreja impedia qualquer tipo de problemas em relação a heranças, transmissão de posses entre os padres e seus familiares (esposa, filhos). Muitas foram as mulheres e crianças abandonadas por seus pais, padres, que tiveram forçosamente que optar entre o sacerdócio e a vida familiar. Produto disso: os padres começam a perder a sua essência humana, tornando-os elementos estranhos e distantes da sociedade e da humanidade.

E nas outras religiões?
Não existe nada semelhante, pelo contrário. Pastores protestantes, desde Martinho Lutero (que se casou e tivera filhos com uma antiga freira) continuam sendo homens, até hoje.
Xeiques muçulmanos, mostrando ter posses, podem se casar até com várias esposas, em sociedades onde a poligamia é uma prática social aceita.
Rabinos judaicos, espíritas, e tantas outras manifestações religiosas não desumanizam os seus sacerdotes - retirando-lhes o direito de ser homem, tendo uma vida sexual ativa e mantendo ou constituindo uma família.

De onde vem esta pedofilia?
Para responder esta questão vou assumir um argumento "religioso": Deus nos criou, e além, disse para que nos multipliquemos; e como multiplicar a espécie? Oras, fazendo sexo.
O sexo, não só pela lógica biológica, mas até pela essência religiosa, é visto como algo inerente, natural ao homem, e portanto algo "bom".
Com o desenvolvimento da psicologia, em especial com a psicanálise freudiana, podemos observar que a nossa relação com o sexo não é um fenômeno simples, pelo contrário, em nossa sexualidade podem estar escondidos segredos, desejos, anseios, que habitam a nossa inconsciência. 
Fica evidente que um ser humano, nunca assexuado (anatomica e psicologicamente), precisa do sexo, caso contrário poderão haver desconexões psicológicas profundas, e logo comportamentos nada "cristãos" - o sexo antes natural, bom, agora reprimido, tratado moralmente, transcende em anomia psicológica.
Para amenizar a dor que é a ausência de sexo, a Igreja historicamente tentou difundir entre os seus duas lógicas: uma, que vê o sexo (entre os não-sacerdotes) como algo a ser disciplinado (sob a lógica de sacralização do corpo) e como algo teleológico; e por fim a lógica destinada aos sacerdotes, de que a privação do mesmo é ato de fé, de vitória do espírito sobre a carne, sempre imunda e suja - rota certa ao pecado.
Porém esqueceram que o ser humano é complexo demais, como ser, como ente-psicológico, que tem necessidades, naturais, que transcendem qualquer lógica religiosa ou ideológica. O corpo sofre sem sexo, a mente sofre, a psique sofre, e muitas vezes a consequência é a mais sórdida depravação, a anomia psicológica e comportamental que faz com que o sacerdote, utilizando de  seu poder social e autoridade, acabe por abusar um indivíduo puramente indefeso: a criança e o adolescente.

Por que João Paulo II e Bento XVI negam tudo isso?
O histórico conservador e medroso de ambos já responde a questão. Medo? Sim, pois ambos sabem que estes eventos, deploráveis, acelera o processo em curso de destruição do Catolicismo - que caminha, a velocidade considerável, para se tornar uma religião puramente romana, latina. A Europa já não é católica (exceção aos latinos italianos, espanhóis e portugueses), a América do Norte não é católica, a Ásia não é católica, restando as miseráveis América Latina e África como focos finais do respirar católico.
Como o conservadorismo entra nesta questão: a negação, o colocar "debaixo do tapete", segundo uma ideia, aliás dogmática, de que a Igreja é infalível, de que está acima dos problemas causados pelos homens que a representam.
Isso é comum até entre os leigos, ortodoxos e fervorosos, como o engenheiro Felipe Aquino, liderança "intelectual" entre os carismáticos, que justifica a Inquisição como ação e erros dos homens da Igreja e não da instituição Igreja, essa não, essa nunca erra!
Bento XVI, o outrora João Paulo II, pensam da mesma maneira, e agem escondendo os erros dos ditos homens da Igreja para preservar a instituição - contudo erram, e erram feio, pois agindo assim decepcionam a todos, mostrando que as lideranças católicas são incapazes de exemplo, incapazes de reconhecer erros, incapazes de fazer justiça social. Dai o afastamento acelerado das pessoas diante de "la putana de Roma".

Qual a solução?
Primeiro Bento XVI deveria repensar e acabar de vez com o celibato clerical, portanto agindo revolucionariamente, rompendo com grilhões ideológicos de séculos.
Em seguida deveria reconhecer os erros, da instituição Igreja, pedir perdão, e dar nome aos bois - indicando as autoridades nomes de todos os padres envolvidos em caso de abuso sexual, e além, apoiando integralmente a ação policial e judicial sobre estes criminosos.

João Paulo II era contra expulsão de padres pedófilos
AFP - Agence France-Presse
Publicação: 10/04/2010 17:46

 - (AFP PHOTO/Paolo COCCO)

Um ex-bispo da diocese de Oakland, que na década de 1980 escreveu ao Vaticano para pedir a expulsão de um padre californiano acusado de pedofilia, garantiu que o Papa João Paulo II se opunha nessa época a expulsar sacerdotes, revela neste sábado o jornal New York Times.

O ex-bispo John Cummins explicou que nesse período a Igreja enfrentava a saída de muitos sacerdotes, o que fez com o que o então Papa "retardasse o processo" contra os acusados de pedofilia, segundo o jornal.

Uma série de cartas entre o Vaticano e a diocese californiana de Oakland, das quais a AFP obteve uma cópia na sexta-feira, questionavam o atual papa, Bento XVI, por sua falta de ação na década de 1980 contra o padre californiano denunciado, mas não mencionavam o então Papa, João Paulo II.

Segundo as cartas, o padre Stephen Kiesle pediu para ser expulso após reconhecer seus abusos sexuais de menores, pedido enviado ao Vaticano pelo então bispo Cummins em 1981.

O Vaticano respondeu que desejava ter mais informações sobre o assunto. Cummins assim o fez e as enviou em fevereiro de 1982 ao cardeal Joseph Ratzinger - hoje o papa Bento XVI -, então chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.

Apesar das repetidas solicitações da diocese de Oakland, no dia 6 de novembro de 1985 Joseph Ratzinger respondeu ao bispo John Cummings.

Em sua carta, escrita em latim, o cardeal Ratzinger reconhece a "gravidade" da situação, mas se mostra reticente em tomar uma decisão imediata, preocupado com os efeitos que isso poderia causar na Igreja.

Para o futuro Papa, o assunto deveria ser objeto de "uma atenção particular, que requer muito tempo".

Ao ler a carta, o padre George Mockel, da diocese de Oakland, considerou que o Vaticano "se sentaria sobre o assunto até que Steve (Kiesle) envelhecesse". "Creio que é lamentável", afirmou.

O padre Kiesle foi finalmente expulso em 1987.

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