terça-feira, 29 de março de 2011

Amor e Religião, um tempero amargo.

A VIDA COMO ELA É, by Tiago Menta
 
Episódio I : Amor e Religião, um tempero amargo.
Muitos imaginam que a minha crítica, ácida, feita a religião como instituição, tem origem tão somente em minhas leituras universitárias, em meu caminhar como educador e ser pensante. Não, não, a religião já "bateu de frente" comigo em muitas ocasiões, isso desde menino.
 
Lembro da insistência familiar em colocar "o menino" no catecismo (eu tenho origens paterno-calabresas, onde o catolicismo reina absoluto), que era um absurdo eu não fazer, isso e aquilo outro. Como toda criança, orientado por um instinto (como também dizia Nietzsche, por não acreditar em Deus a partir de um instinto pessoal) eu batia os pés e me recusava a ir no tal catecismo, como um pequeno rebelde diante da família e sua lógica repressora por excelência.
 
Venceu a minha negativa insistente, logo não fizera o catecismo - minha irmã não tivera o mesmo ímpeto, cinco anos mais nova, e acabara por fazer o tal catecismo anos depois. Mas o ponto deste episódio, vívido de minha história, é a relação mortífera entre o amor e a religião, digo o amor carnal.
Namorei algumas vezes na minha vida, até hoje 3 relacionamentos que posso dizer "sérios" (o último encerrado ano passado após mais de 5 anos juntos), e muitas, muitas, muitas, aventuras amorosas: pequenos sopros de relacionamentos, encerrados precocemente pelas mais diversas razões.

Um destes relacionamentos precoces me marcou, não pela pessoa em si, mas pela circunstância que envolvera a nossa relação: eu um ateu praticante, universitário (estava em pleno curso de História) e ela, também universitária, iniciando curso de Letras, porém cristã e testemunha de Jeová (um tipo de seita cristã, criada nos Estados Unidos no século 19 e mantida por uma instituição conhecida por Torre da Vigia/Watch Tower) praticante.
 
Claro que primeiro nos envolvemos, conversas em biblioteca universitária, aquela aproximação natural entre duas pessoas. Depois vieram os primeiros beijos nos intervalos de aulas, nos corredores mais sombrios da universidade, e dai vieram os primeiros papos sérios: um imperativo - ou eu aceitava a religião dela de maneira completa, indo a cultos e frequentando assiduamente, ou seria melhor interromper aquela relação, já que eu era alguém do "mundo" (forma idiota e religiosa de dizer que eu sou normal).
Tomei uma ducha de água fria, obviamente manifestei a minha posição: respeito o seu credo mas não abro mão de minhas convicções, nada religiosas por sinal. O jeito era virar "amigos" e tocar, cada um no seu canto, a vida adiante.

Ela ficou contrariada, engoliu a decepção e começamos a cada um ir pro seu canto: nada de beijos, nada de encontros nos corredores, só um olhar ou outro mais distante e cumprimentos comedidos.

A gente ia levando as coisas, até que numa tarde eu me senti mal na universidade (tive um acesso de hipoglicemia) e fui parar na enfermaria. Correram até ela e lhe contaram da minha condição, viera a garota correndo e cuidara de mim como uma mãe durante toda aquela tarde (com cafunés, mãos dadas, carinhos e carinhos). Ou seja, o lance de "amigos" parecia não se sustentar...

Voltei a insistir com ela, pra deixar essa ortodoxia de lado e ficar comigo de maneira a nós dois continuarmos a ser o que somos: eu ateu, ela cristã, e cada qual com suas ideias e convicções, porém juntos e vivenciando aquele amor que insistia em aflorar. Parecia coisa de novela mexicana, ela contra-argumentava de diversas maneiras a tentar me convencer a pelo menos frequentar os cultos, depois me trouxe livros sobre a torre da vigia, livros sobre a crença em si, etc. 

Para você leitor ter ideia das dificuldades que aquela relação impusera, me era terminantemente proibido: manter relações sexuais com ela antes do casamento, ir a cinemas e outros lugares com ela sozinha (sempre tinha que levar os irmãos juntos), e de forma alguma ligar na casa dela (o pai dela me via como um demônio que tentava tirar a filhinha dele dos caminhos do Senhor, e bla bla bla).

Falando em pai, pois bem o velho percebia a aflição da garota em casa (apaixonada por alguém do mundo); e tomou a posição que todo homem ignorante e alienado tomaria: retirou a filha da universidade, com a mesma iniciando um  intenso processo depressivo (o que depois as amigas dela passaram a me culpabilizar) e não preciso nem ser mais claro: tudo entre nós estava definitivamente encerrado.

Vocês podem se perguntar "que fim levou a garota?"; bom, as últimas vezes que falei com ela (me ligou em casa, de forma sempre surpreendente) a mesma se dizia bem, feliz, e me convidava para seu casamento (com um irmão da comunidade, dizia ela), se ela dizia a verdade ou não, não saberia responder ao certo.

Esta história pessoal, me preservo de dizer nomes (evitando qualquer problema), é elucidativa para demonstrar a minha resistência quanto a institucionalização das crenças humanas ao qual damos o nome de religiões: na verdade a fonte primordial da crença dela, a figura pessoal de Jesus, em nenhum momento dizia a esta para não manter comigo uma relação amorosa, pelo contrário, a base ética de sua crença seria o amor, amor incondicional. Quem vai colocar na cabeça dela que não pode isso, não pode aquilo outro, fazendo imergir a intolerância, o medo do outro e do diferente, o conservadorismo pedante e ignóbil, são os pastores, padres, homens ligados umbilicalmente as lógicas institucionais. Em suma, se ela seguisse o seu próprio desejo, o seu coração, teria vivido uma história de amor no mínimo mais rica, ao invés de ouvir todas as boçalidades institucionais bradadas por bonecos infames como o pai e pastores.
Você que me lê tem uma história interessante, parecida, divulgue, conte-nos...

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