terça-feira, 17 de maio de 2011

O que é Maturidade

Tempos atrás uma antiga namorada, em tom de "crítica" e decepção, dizia com ares proféticos "você é imaturo, você precisa deixar de ser criança!"....

Mas, o que é, terminantemente, ser maduro? O que é uma real maturidade?
Para pessoas de pouca visão, como a pobre mulher, é algo como ser um tipo de "self-made man", um faz-tudo, um cara independente, trabalhador, que dá duro diariamente pelo ganha-pão ou o "leite das criancinhas"...em síntese, a clássica projeção feminina do homem-provedor, o papai vendido como ideário nas publicidades americanofilas desde os anos 50.

É o homem que não sorri-não chora, que não tem horizontes senão aqueles tidos como realistas, pés no chão. É o homem que economiza, que pensa no amanhã, em constituir uma família nuclear. Mas, esquecemos o fundamental - tudo isso são possibilidades do Ser, e mais, são construções do Ser extremamente vinculadas ao modo de produção e reprodução capitalistas, onde todos são consumidores e batalham, diariamente e cegamente, pelas migalhas e ilusões vendidas por um sistema, antes de tudo, inumano e robótico.
Pois eu vos afirmo o contrário, a maturidade está longe de tudo isso. A maturidade, o homem adulto, real, é aquele que está acima de toda ilusão vendida na esquina, em suma, é o homem consciente, de si, para si, e que carrega consigo sentimentos de contrariedade frente a esta sociedade mentirosa e excludente.

O maduro é não se apegar a desejos mercadológicos (escravidão de modas, objetos, tecnologias, facilidades, confortos), não se tornar um ente alienado e alijado de si mesmo. O maduro é aceitar-se como é, com qualidades e defeitos. O maduro é aquele que não vira as costas pra realidade, mas nunca deixa de ter dentro de si um projeto de devir, uma utopia, um sonho, um ideal que transcenda as mentiras de todo dia.

Viver não se baseia em uma equação simples, muito difundida: nascer, crescer, multiplicar, morrer. Não é só papai e mamãe no apartamento criando os seus rebentos, nada disso. Isso é o que o sistema de exclusão quer. Viver é uma eterna possibilidade, repleta de escolhas, nada muito fechado, nada hermético.

A maturidade existe na coragem de afirmar que Deus não existe, na coragem de encarar a morte como ponto-final natural da dinâmica da vida, sem construir mitologias, histórias fantásticas, promessas de continuidade que não são mais do que vibrações biológicas/psicológicas que insistem em negar que morreremos (dai o suicídio como crime terrível, já que a vida é algo biologicamente desejosa); o próprio Freud, pai da Psicanálise, dizia que a religião era um elemento crucial de uma "civilização" infantilizada, ávida por construir um papai metafísico, como se a vida precisasse de um sentido senão na própria vida.

Maturidade é isso, saber que a existência não possui sentido algum. Ela está ai, como fenômeno cósmico, para ser vivida, dentro de uma gama de possibilidades. Nada mais que isso. Não há céus, infernos, almas, castigos, destinos, santos, demônios, nada disso.

Maduro é aquele que olha ao redor e sente nojo daquilo que vê: fome, miséria, crianças nas ruas em completo abandono, marginalidade, corrupção de Estado, mundo dividido em classes sociais, guerras, ódio, preconceitos, etc...aquele que naturaliza estas desgraças humanas é um imbecil completo, praticamente internalizando a lógica excludente do Capital e do egoísmo corrente.
Percebem como poucos são os homens e mulheres verdadeiramente maduros? 

Se amanhã lhe acusarem de imaturidade, desconfie. Do outro lado deve estar uma pessoa imersa na lógica da exclusão, alguém que está ai, perdida(o), a procura de um sentido, a procura de um salvador(a), a procura de um pai(mãe), a procura de um marido(esposa), simplesmente a procura de si mesma(o)! 

Porém se encararmos a maturidade com o olhar alienado corrente eu certamente serei e continuarei sendo uma eterna criança, imersa nos meus sonhos, desvarios, nas minhas contradições, na minha rebeldia que insiste em agredir, no meu sangue que não internalizou a ética de rebanho robotizado vendida por ai....

Nenhum comentário:

Postar um comentário