terça-feira, 31 de maio de 2011

Nossos Heróis

Dizia uma canção do poeta Cazuza "meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder, ideologia - eu quero uma pra viver!" evidenciando que todos nós, em algum momento da vida, especialmente aquele em que estamos formando o nosso caráter, o nosso ser enquanto sujeito social ativo e consciente, acabamos por construir a nossa identidade, os nossos vários "eus", a partir de exemplos de homens e mulheres que por razões peculiares tratamos e lidamos como nossos "heróis".
 
A figura do herói é histórica, encontrada em mitologias, em lendas as mais diversas, em toda literatura universal, nas artes midiáticas, etc. O herói é aquele sujeito que de alguma maneira nos redime com suas ações, que nos traz exemplos de como agir, como pensar ou mesmo enxergar o mundo e a realidade da vida. 

O herói acaba sendo uma figura comum da cultura humana inclusive pela inclinação ética do olhar humano: na crença de que há forças boas e ruins, assim como heróis e vilões, num dualismo ético mais do que milenar. 

Além de fenômeno ético o herói sempre recai numa essência também teleológica, marcado por finalidades e objetivos - uma razão de ser. O herói está ali por uma causa, luta por uma causa, o seu exemplo exerce uma funcionalidade, nunca sendo um sujeito desprovido de motivações. 

Hoje, dentro da loucura pós-moderna e líquida, é comum as pessoas se envergonharem de dizer que já tiveram ou tem uma admiração por "heróis", ou mesmo de forma cética e fria afirmam que vivemos numa era aonde o heroísmo é coisa de ficção/imaginação humanas - dentro da lógica fatalista e anestesiada de que "a História acabou" (como aventava o norte-americano Fukuyama após o colapso do mundo socialista).

E como diz a letra de Cazuza o herói e as ideologias são elementos complementares, sendo o primeiro um ente a serviço desta última. A "ideologia" é exatamente este caráter teleológico do herói, a sua causa, a razão de suas ações. E não há niilismo maior que por nada lutar, por nada sonhar, em atitude resignada perante o destino que em tese pareceria traçado.

Uma das críticas mais vorazes contrárias ao fenômeno religioso debatem especialmente este caráter resignado, manso, da cultura judaico-cristã, e Jesus acaba, pela via crítica, sendo descaracterizado como herói - afinal resignadamente morreu na cruz (o argumento de sacrifício em nome da humanidade é abstrato e puramente metafísico, próximo da metáfora e distante do real). Não lutou, não enfrentou seus opositores, não liderou as massas para uma vida de libertação real.
 
Por estas razões, sem nenhuma resignação, que na minha construção de si mesmo carrego comigo, aos ombros, todos os meus gigantes (como citava Isaac Newton ao se referir aos seus próprios heróis) - como esquecer.....
- na música: um Wagner, Mozart, Elvis, Beatles, John Lennon, Pink Floyd, Michael Jackson, aqui no Brasil com Chico Buarque, Villa-Lobos, Adoniran Barbosa, Roberto Carlos, etc...
- na literatura: um Voltaire, Edgar Allan Poe, Goethe, Dostoievski, Tolstoi, Baudelaire, José Saramago, Bertold Brecht, aqui no Brasil um Nelson Rodrigues, Carlos Drummond, Mário de Andrade e todos os modernistas, Álvares de Azevedo, Guimarães Rosa, Clarice Linspector.
- no pensamento social: um Gilberto Freyre, Claude-Levi Strauss, Darci Ribeiro, Roberto da Matta, Max Weber, Karl Marx, Theodor Adorno, Erich Fromm, Hebert Marcuse, Michel Foucault, Maquiavel, Antonio Gramsci, Norberto Bobbio.
- na vida política: um D. Pedro I, Napoleão Bonaparte, Alexandre da Macedônia, Júlio César, Ciro da Pérsia, Solon de Atenas, Leônidas de Esparta, Robespierre, Lenin, Fidel Castro, D. Pedro II, George Washington, Abraham Lincoln, Henrique VIII.
- nos movimentos sociais: um Moisés, o profeta Muhammad, Martin Luther King, Chico Mendes, Zumbi dos Palmares, Gandhi, Lula.
- no cinema: um Chaplin, Wood Allen, Marlon Brando, Stanley Kubrick, Pedro Almodovar, Alfred Hitchcock, George Lucas, Lars von Trier, José Mojica, Glauber Rocha, José Padilha, Fernando Meirelles, Francis Copolla, Quentin Tarantino, Paolo Pasolini.
- nas artes plásticas: um Goya, Leonardo da Vinci, Rafael, Michelângelo, Picasso, Salvador Dali, Munch, Debret.
- nos esportes: um Diego Maradona, Mike Tyson, Airton Senna, Messi, Romário, Michael Schumacher, Michael Jordan, Magic Johnson, Ronaldo, Éder Jofre, Maria Ester Bueno.
- na filosofia: um Nietzsche, Descartes, Freud, Sartre, Guy Debord, Derrida, Walter Benjamin, Baudrillard, Aristóteles, Epicuro.

Ufa! E ai, faça a sua lista e divida conosco...

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