sábado, 18 de setembro de 2010

Malegnoseologia - compreendendo o Mal segundo o prof. Tiago Menta

Vou tocar em  assunto espinhoso, coisa para poucos:  o Mal. Para início de análise não estou tratando aqui do mal como efeito devastador de uma sociedade desigual, que divide os homens, gerando crimes de toda ordem ou mesmo patologias das mais diversas e  perversas.
Aqui  o "Mal" é substantivado mesmo, como uma entidade cultural, como uma construção da cultura  humana e não como possibilidade de existência metafísica de caráter religioso (que está mais do que submersa na categoria-cultura).
O mais interessante sobre o "Mal", ao contrário do que ditaria a ética do senso comum, rasteira, é que este exerce e continua exercendo verdadeiro fascínio sobre as pessoas. Em poucos segundos qualquer um seria capaz de enumerar uma série de personagens, eventos, pessoas, alinhados com o que se convenciona apontar como o Mal - e mais, em número infinitamente maior se compararmos com o adjetivo bom, ou o substantivo  o Bem.
Pensando assim pode parecer-nos que o mundo é todo mal, que  o homem  é todo mal, e coisas do gênero; mas isso é simplificar demais algo que de  forma complexa se  apresenta em nossa natureza psíquica-corporal  - ou seja, há algo de Mal em cada um de nós, hoje, ontem, e sempre. O segredo, útil para a sociedade, é desenvolver mecanismos que saibam abrandar este impulso interno, que evitem a transformação do Mal em maldade, com sérios apontamentos sobre a vida em sociedade, tornando-a impossibilitada (uma sociedade aonde o impulso do Mal prevaleça de  maneira exacerbada é uma sociedade fadada a sua própria aniquilação).
De onde vem o fascínio pelo Mal? Que categorias, atitudes, poderiam caracterizar o que chamamos de Mal? Por que tantos jovens, principalmente em países de origem germânica ainda mantém um certo fascínio pelo Nacional-Socialismo hitleriano, ícone  do século XX quando se pensa no Mal (encarado por entidades judaico-cristãs como o segundo anticristo, sucessor de Nero, imperador romano associado ao número bestial: 666).
Aponto para os seguintes elementos-chave, responsáveis pelo fascínio causado pelo Mal:
1- Poder (político, econômico, conhecimento, físico,  militar, oratório-argumentativo, controle, domínio).
2- Rebeldia e Transgressão (inquietação, insatisfação, transformação, revolução, enfrentamento, personalidade, individualidade).
3- Sensualidade (erotismo, conquista, posse, prazer, narcisismo, egoísmo,  hedonismo).
4- Paixão, Desejo e Vontade (impulsão, gula, posse, orgulho, descontrole, obsessão).
5- Descontrole.
A época da vida em que mais deixamos o instinto do Mal aflorado, constante, presente, é a adolescência, momento tumultuado, intra e extra corporalmente, aonde a  personalidade vai sendo formada, aonde os questionamentos se tornam latentes, aonde o indivíduo passa a construir a imagem de si  mesmo como único, como ser único, que não só já não depende,  psicologicamente, dos pais como passa a questionar os seus valores e até mesmo a sociedade que representam. Por isso qualquer estratégia político-filosófica que se pretenda verdadeiramente revolucionária deve, essencialmente, buscar conquistar a juventude, propensa e aberta ao desejo de transformações (porque estas já ocorrem dentro de si) - aos velhos, de coração sobretudo, devemos deixá-los minguar abraçados ao velho mundo que construíram, e que tencionamos destruir.
Em minha adolescência (que  hoje estudos apontam em seu prolongamento, para quase os 25 anos de idade) sempre me fascinaram personagens como Darth Vader (símbolo de poder, domínio e força, apontando  para a existência de um lado negro da Força), Drácula (o vampiro, morto-vivo, capaz de manter-se vivo  para além da vida, e que com sua sensualidade e poder de convencimento, beirando a hipnose, sugava o sangue de belas garotas, quando não as tornava suas escravas pessoais, ávidas e propensas a saciar a sua sede de vida e de  prazer), o Lobisomen (homem que por via de uma maldição transformar-se em um animal feroz sob a  luz do luar, deixando translúcida toda a nossa animalidade, o nosso vínculo com um estado  primordial, junto a natureza), Hannibal Lecter (o assassino antropófago, utilizando como mecanismo de atração a sua inteligência sagaz, o seu modo cordial e sua erudição).
E por fim o mais clássico dos personagens, o símbolo maior da rebeldia: Lúcifer, o anjo das Trevas, caído ao reino infernal por enfrentar o Criador. Não foi sem razão que Bakunin, ícone do pensamento anárquico, citara o anjo das Trevas como uma espécie de primeiro anarquista, questionando  a autoridade de deus - uma algema sobre a liberdade humana.


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