quarta-feira, 23 de março de 2011

É "Presidente" Dilma, porra!

Como pode a chefe do poder executivo cometer, impunemente, tamanho assassinato a nossa linguagem? Claro, a politicagem imbecil, que associa o "falar errado" com uma suposta aproximação popularesca, como se falando errado é meio de se estar alinhado aos setores mais carentes, e infelizmente, ignorantes-iletrados de nossa sociedade.
Faço meus os reclames da colega prof. Miriam Rita da UFPR, que abaixo nos aponta, com clareza, a maneira correta de se expressar "Presidente Dilma Roussef" e não esta infâmia "presidenta"...

Tenho notado, assim como aqueles mais atentos também devem tê-lo feito, que a candidata Dilma Roussef e seus apoiadores, pretendem que ela venha a ser a
primeira presidenta do Brasil, tal como atesta toda a propaganda política veiculada na mídia.

Presidenta???

Mas, afinal, que palavra é essa totalmente inexistente em nossa língua?

Bem, vejamos:

No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendigar é mendicante... Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.

Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.

Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta".

Um bom exemplo do erro grosseiro seria:

"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta.
Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".

Por favor, pelo amor à língua portuguesa, repasse essa informação...
Miriam Rita Moro Mine
UFPR

4 comentários:

  1. Olá.

    Eu não sei se concordo com a professora não. Na verdade, a palavra não é totalmente inexistente na língua Portuguesa!

    A explicação dela é diacronicamente apropriada. No entanto, um fenômeno muito comum na maneira como as línguas do mundo se estruturam é o que chamamos de entrincheiramento linguístico (Linguística Cognitiva... não Linguística Prescritiva).

    A idéia básica desse fenômento é que o uso (frequência de ocorrência e tipo) determina não só a semântica da palavra -- note como a semântica palavra "mineiro" é cognitivamente diferente da semântica da palavra "porteiro", mesmo sendo a formação sufixional das duas palavras a mesma -- como também determina a estrutura gramatical da lingua -- veja como o termo "going to" to inglês se tornou gramaticalmente marcado.

    Em outras palavras, o que a Linguística Cognitiva e outras abordagens baseadas no uso (e na maneira como a estrutura da linguagem reflete a maneira como nossa cognição funciona) preveem é que certas mudanças lingüísticas ocorrem para certos termos e não outros. Ou ocorre para os dois de maneira diferente. Essa determinação não é, obviamente, aleatória, e sim baseada na frequência de uso e em diversos outros fatores cognitivos. Mudanças na forma de "ente" e "presidente" serão necessariamente diferentes uma vez que a frequência de ocorrência e uso dos dois termos é diferente.

    O status semântico da palavra "presidente" é diferente de todas essas outras que a professora aponta. Não vejo, assim, a palavra "presidenta" como um "assassinato" à lingua portuguesa. Talvez o seja sim dentro de uma visão mais prescritiva da língua -- muito comum em áreas de conhecimento como a da professora. Mas acho legal ressaltar que, de um ponto de vista cognitivo e funcional, o uso da palavra presidenta não é tão problemático assim.

    Talvez o problema esteja na maneira como a língua é prescrita e na forma como conhecimento lingúístico é disseminado. :-)

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  2. Obrigado por problematizar ainda mais a questão André, contudo o sentido de ter postado isso é mostrar como o uso da linguagem pode ser tratado como estratagema político; claro que a linguagem é um fenômeno social, não está acima e muito menos distante deste, e se a sociedade quiser, e historicamente vemos isso, ela muda a gramática queiram ou não os catedráticos do assunto. Abraços.

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  4. Como pode essa notícia ainda constar de um blog mesmo a professora dizendo que não escreveu essa carta? Como pode um educador não consultar um dicionário (Aurélio, Houaiss, VOLP)onde consta esse feminino?Beatriz

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