segunda-feira, 23 de maio de 2011

A Pornografia como Vingança Masculina

A mulher do século XXI é sujeito de si, para si, livre. Hoje está no mercado de trabalho, conquistando espaços importantes no mundo político, toma as rédeas de corporações, além é claro de continuar a ser mãe, esposa, namorada, tidos como clássicos papéis sociais destinados ao universo feminino.
 
Obviamente que nem tudo são flores, exemplo é o ganho salarial, em média ainda menor que os ganhos do homem e muitas vezes exercendo a mesma função! Contudo, o pior é aquilo que ainda sobrevive na contramão disso: violência doméstica, falta de amparo do Estado, falta de políticas públicas próprias, e alienação, sim a alienação.
Hoje a alienação, que Marx já dizia no século 19 ser a transformação do humano em mercadoria e a mercadoria em humano pelas vias do fetichismo (uma entrega ao mercado), se faz ainda muito presente em parte do Universo feminino, em especial nas mídias e no culto ao mundo das "celebridades" (dentro da lógica do espetacular, do efêmero) e por fim na pornografia.
 
A pornografia é um fenômeno da cultura aonde a mercadoria a ser vendida é o sexo sob diversas nuances: o vídeo, a fotografia, a literatura; muito diferente do erotismo, do deus do amor Eros, que se apresenta como possibilidade, sedução, chamamento, daquele que procura a atenção do outro. A pornografia não, é sexo, instintivo, com requintes de brutalidade, perversidade, descontrole de impulsos carnais, é antecipar ou mesmo simular o coito.
 
A pornografia vai se entrelaçar, e muito bem, com a lógica da selvageria capitalista: no pornô se vendem corpos/prazer, em especial o das mulheres. Dai a alienação e a consequente deturpação do feminino.
 
Creio eu que a pornografia que vivemos e vemos, muito amplificada pela difusão da era digital, possui, além do caráter alienante como mercadoria, que torna os corpos mercadoria pelas vias do sexo, um certo porquê sociológico carregado de machismos, uma vingança masculina contra esta nova mulher, hoje mais livre e atuante.
Se observarmos a maneira violenta pela qual se desenrola as relações sexuais nestes filmes, ou mesmo a maneira pela qual a mulher é representada durante o sexo (sempre em posição submissa, muitas vezes humilhada e até torturada), é fácil perceber que há algo de muito equivocado ali e você reflete "não é assim que faço sexo com uma mulher, nem mesmo com uma pobre prostituta" (em tese numa total situação de submissão frente o pagamento nu e cru).

É comum, ao final da maioria das cenas, que a mulher se ajoelhe diante do "Homem" (divinização do masculino, quase um culto ao falo como já fizeram antigos povos aborígenes e outras civilizações) e, como um relés faminto (quase que em mendicância), permanece em posição de maneira a receber sêmen em sua boca! Isso sem contar as inúmeras pancadas (no rosto, nas nádegas e até na genitália), puxões de cabelos, as palavras/adjetivos do tipo "puta, vadia, vagabunda, vaca, piranha, safada, gostosa, cachorra, bandida, etc"....
 
Dai a casos de violência doméstica, fácil perceber. Oras, se a cultura (produzida no mundo do Capital) representa o feminino como um ser a ser humilhado e torturado no ato sexual, tido como posse, como objeto de prazer no sentido egoísta do termo, e que o mundo das "celebridades", recheada de "gostosas, cachorras, etc" aparece como ideário de mulher mediana, logo teremos a reprodução de gerações e gerações de homens que irão lidar com a mulher de forma deturpada, violenta. 
 
E não nos enganemos, o universo masculino, ainda dominante, insiste em manter o feminino nesta condição de submissão, sendo a pornografia uma de suas vias de maior penetração cultural (muito presente no mundo dos adolescentes, ávidos por sexo, iniciando a descoberta sexual pelas vias da masturbação). E por incrível que pareça acabamos disseminando a figura masculina alienante típica: o homem que não sabe mais ser um homem diante de uma mulher, que mantém-se como um animal! 

Um animal que agride a fêmea, por temê-la....

Um comentário:

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