sábado, 14 de maio de 2011

A solidão do Ser-professor

Um dos grandes tabus pedagógicos é querer distanciar professor e alunos, educador e educandos. Aproximar-se dos alunos não significa, necessariamente, a perda de autoridade perante os mesmos, pelo contrário, é possível construir uma figura de autoridade a partir do companheirismo, de uma relação fraterna, aberta para com estes.
 
O ser professor é um pouco caminhar sozinho, contra a maré. A rotina semanal muitas vezes se resume a dar aula, voltar pra casa, dar aula e voltar pra casa. Os laços com colegas profissionais são frouxos, devido a diferenciações as mais diversas: horários, ideologias, questões classistas, gerações e idades diversas. E pior, dificilmente se passa muito tempo trabalhando numa mesma escola, ainda mais quando pensamos nos milhares de profissionais contratados - como eu, que exerço a profissão a apenas 4 anos.
 
O tempo pode ser cruel, e de muitas formas. Não só rugas, flacidez,  perda de potência muscular, cabelos brancos, mas o tempo é cruel porque com o passar dos tempos os professores vão sendo meio deixados ainda mais a margem, devido a falta de perspectivas, péssimas condições de trabalho, de salários, e vamos nos arrastando como zumbis ao longo de nossa vida adulta.

E o que resta ao educador senão procurar manter uma relação de abertura e amizade com seus alunos? A juventude que diariamente está ali diante de você, com seus problemas, dúvidas, anseios, curiosidades, repletos de vida. Se o professor agir diferente, como um militar, como um ser anacrônico, estabelecendo conflitos a todo instante, acabará por tornar a sua vida, hoje miserável, em algo ainda mais insuportável. Não é sem razão que muitos colegas se entregam ao alcoolismo, ao tabagismo, aos remédios anti-depressivos, horas e horas de terapias, meses de licenças médicas, etc.

Velhos amigos, colegas, vão tomando rumos na vida, construindo famílias, carreiras, e você, Ser-professor, está aqui preso a suas idas e vindas, sozinho, solitário. 

Hoje eu vejo o quanto Ser-professor é quase que um nietzschianismo auto-imposto, e quando você percebe, como eu, a sua vida social praticamente é uma inércia, desaparecendo semana após semana. Relações são iniciadas e posteriormente abandonadas, porque muitas das vezes a parceira ao lado não se mostrará disposta a dividir com você tantos pesos, ainda mais numa sociedade capitalista, voraz, que valoriza o sucesso, o ganho, a ascensão social, a aparência e o egoísmo, ah o egoísmo...

Dai, para não enlouquecer, de vez, você tem que buscar energia na juventude que lhe cerca. Em cada sorriso, piada, movimento rápido de seus corpos, em cada olhar curioso, eu consigo me reabastecer de forças para seguir adiante nesta estrada, terrível, que é a educação brasileira e o consequente Ser-professor.

Raras exceções, os meus únicos amigos são hoje os meus alunos, sentados num banco escolar ou numa cadeira de frente ao computador assistindo a meus vídeos no youtube. Claro, seria melhor que a vida não tivesse este panorama, mas começo a desconfiar que este é o preço a se pagar por ousar ser consciente em um país repleto de ignorantes e imbecis.

2 comentários:

  1. Olá Tiago,
    Escreve-lhe alguém, que sente o mesmo. Damos, mas nen sempre recebemos. Sou professora de História e sinto o mesmo vazio.
    Há cada vez menos regras, formas de contuda e tanta ignorância!
    Sou professora por paixão.
    Abraços com luz.

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  2. Obrigado camarada Luz...abraços do colega historiador.

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