sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Monty Phyton "Quiz entre ilustres comunistas"

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ludwig Feuerbach

Educação Mineira - 18º do país (um vexame)

Esta matéria retrata, de forma fidedigna, a realidade da educação em Minas Gerais – uma vergonha nacional, contrariando as propagandas enganosas difundidas pelo governo estadual.
Leiam, reflitam, e indignem-se!

SALÁRIO DOS PROFESSORES: MINAS É O 18º NO RANKING DOS ESTADOS,
José de Souza Castro (*)

Este blog publicou no dia 8 de dezembro passado artigo intitulado “Professores mineiros pedem socorro”, no qual me baseei numa mensagem de professor não identificado que leciona Matemática para alunos do 3º ano do 2º grau da rede estadual de ensino e que disse receber piso salarial de 545 reais. Registrei que no fim de 2007 a secretária estadual de Educação, Vanessa Guimarães, afirmou ter encaminhado à equipe econômica do governador Aécio Neves proposta para elevar o piso salarial dos professores a 800 reais, a partir de janeiro de 2008. Qual, portanto, a minha surpresa, ao receber agora levantamento nacional sobre salários das redes estaduais de ensino, feito em setembro último, revelando que o salário pago pelo governo mineiro é de R$ 336,26 para professores de nível médio, de R$ 410,24 para professores com licenciatura curta e de R$ 500,49 para os com licenciatura plena.

O mais incrível é que a remuneração de todos eles é a mesma: R$ 850,00. (No site do Sebrae paulista, aprendo: “A remuneração pode ser definida como a somatória dos benefícios financeiros, dentre eles o salário, pago ao empregado por um empregador, em função de uma prestação de serviços. Tal remuneração será acordada através de um contrato assinado entre empregado e empregador. O salário é uma espécie de remuneração. Podemos utilizar como analogia a figura de uma cesta de frutas, na qual a remuneração representa a cesta e, o salário, uma das frutas”.) Pois, para fazer jus a essa expressiva remuneração, os professores precisam trabalhar 24 horas semanais. Suspeito que nessa conta não estão incluídas as horas que gastam em casa preparando aulas e corrigindo exercícios dos alunos.
O espantoso, nessa revelação, é que em 5 de agosto de 2004, em solenidade no Palácio da Liberdade, o governador Aécio Neves sancionou o tão esperado Plano de Carreira dos Profissionais da Educação Básica, prometendo que seriam beneficiados 234 mil servidores ativos e inativos da área da educação. Pode-se ler aqui trechos do discurso do governador:
“Peço que guardem este número: 234 mil servidores. Se o setor da Educação fosse uma empresa, seria hoje uma das maiores corporações mundiais, em número de funcionários. E todos eles serão beneficiados por este novo Plano de Carreira. Mais simples, mais direto, mais transparente e mais justo, o Plano oferece aos servidores maior número de opções e possibilidades de acesso, amplia a liberdade de escolha e elimina um cipoal de regras e regulamentos antes impostos aos profissionais do ensino.”
Depois de afirmar que a remuneração passaria a ser feita de acordo com a qualificação acadêmica do profissional – e não mais pelo seu nível de atuação – e de lamentar que “os professores das primeiras séries do ensino fundamental – responsáveis pela alfabetização – sempre tiveram remuneração inferior à dos professores de 5ª à 8ª série ou do ensino médio, mesmo que apresentassem vários títulos de pós-graduação”, admitiu Aécio Neves:
“Há clara defasagem salarial, com a qual ainda somos obrigados a conviver, mas estejam certos de que o Estado tem a visão clara de que esse problema também precisará e será superado com o trabalho sério que estamos fazendo na gestão das finanças públicas. E tenho a absoluta convicção de que, dentro de muito pouco tempo, nós estaremos também resgatando, do ponto de vista salarial, os profissionais da educação em Minas Gerais.”
Pois bem. Passaram-se mais de cinco anos, e o que verificou, em setembro de 2009, o Sindicato Apeoc, dos servidores da rede pública de educação do Ceará, ao fazer uma análise comparativa salarial dos professores das redes estaduais em todo o país?
Minas Gerais está em 18º lugar, no ranking dos estados sobre as remunerações para professores com licenciatura plena e jornada de 40 horas semanais, em início de carreira. A pesquisa completa pode ser vista aqui. O Distrito Federal é o que paga mais (R$ 3.227,87), seguido do Maranhão (R$ 2.810,36) e de Roraima (R$ 2.806,04), enquanto em Minas a remuneração não chega a 1.417 reais. Pior do que isso, só oito estados, embora nos orgulhemos de ter o terceiro maior PIB (Produto Interno Bruto) do país. A hora-aula para os professores mineiros vale apenas R$ 7,08, contra R$ 16,13 no Distrito Federal.
Só para comparar, veja este anúncio veiculado há seis dias no Banco Nacional de Empregos , oferecendo vaga para pedreiro em obra de construção de apartamentos em Belo Horizonte: Salário: R$ 1.100,00. Observações: Carteira assinada, salário + produtividade + benefícios: cesta básica + vale transporte + seguro de vida.
O que explica essa situação que envergonha os professores mineiros? É uma questão de prioridades. Aécio Neves preferiu gastar em obras, como a construção da Cidade Administrativa, e em infraestrutura, relegando para uma das últimas prioridades o investimento em professores.
O site do governo destaca, por exemplo, que 3.550 escolas estaduais foram atendidas com melhorias de mobiliário e equipamentos escolares, desde 2003. Entre esses equipamentos, não poderiam faltar os computadores, mas apenas 2.393 professores e técnicos escolares foram capacitados em informática.
Ninguém nega o esforço da maioria dos professores para superar essas dificuldades, mas o resultado pode ser visto no teste aplicado em 2008 pelo Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb). Em Matemática, apenas 3,8% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental apresentaram o resultado recomendado. No 9º ano, foram 18,8% e no 5º ano, 44,7%. Em Português, os resultados recomendados foram, respectivamente, de 30,4%, 28,0% e 31,5%. Os dados podem ser conferidos no site do governo.
O fato é que os professores, ao contrário dos pedreiros, perderam a capacidade de se organizar para exigir remuneração justa. Nem sempre foi assim. Quando Magalhães Pinto governava Minas, uma professora que participava de uma manifestação na Praça da Liberdade deu-lhe com uma sombrinha na careca. Isso ocorreu antes do golpe de 1964. Após o golpe, no governo Francelino Pereira, os professores fizeram duas greves de grande repercussão na imprensa, e delas nasceu o seu sindicato (Sind-UTE) que hoje parece ter sido cooptado pelo governo e não tem reagido a essa situação de vexame.
Ao discursar há mais de cinco anos, no lançamento do Plano de Carreira, Aécio Neves deixou transparecer um pouco de sua mentalidade, ao dizer: “Se o setor da Educação fosse uma empresa, seria hoje uma das maiores corporações mundiais”. Não há de se negar, o neto de Tancredo Neves tem um espírito empresarial. E dos mais tacanhos. Para esse tipo de empresário, empresa boa é aquela que lucra muito à custa, principalmente, dos baixos salários. E da qualidade, por consequência.
(*) Jornalista

Império Bizantino Parte 2 - Justiniano I

sábado, 20 de fevereiro de 2010

"Feiticeira" - Lindomar Castilho

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Eros Platônico e o Sexo Cristão

“Papai e mamãe” no escuro, mecanismo fisiológico criado tão somente para a reprodução humana, lavagem das genitálias com vinagre e orações pós-copula, tudo isso são manifestações típicas do que concebemos como “Sexo Cristão” ou mesmo atividade sexual cristianamente/moralmente aceita.

Qualquer indivíduo equilibrado logo percebe que estas são práticas que não somente disciplinam/dominalizam como discriminam toda prática sexual saudável (inclusos masturbação, fantasias sexuais, experienciações sexuais, prazeres sexuais como valor em si).

É de conhecimento geral que há uma relação de tensão, histórica, entre o Cristianismo e a sexualidade – e nunca é demais rememorar que milhares, em especial as mulheres, morreram sob as chamas e as espadas da intolerância quando acusados por práticas sexuais que não aquelas segundo o sexo cristão. Mas, aonde podemos encontrar a origem disso, de tamanha brutalidade contra a natureza humana? Na Bíblia, não! A resposta para esta questão está em outro lugar: a Grécia de Platão.

Nietzsche dizia “o Cristianismo é uma espécie de platonismo para os pobres”, e o filósofo alemão tem suas razões. Platonismo e cristianismo se misturam tão bem quanto o nosso tradicional “café com leite”, ambos estão inseridos numa lógica de dualidade do Universo: de um lado o mundo aparente e imperfeito da sensibilidade, de outro o mundo real e perfeito da idealidade.

Em Platão a oposição entre o mundo sensível e o mundo inteligível (ou mundo das idéias) deságua na valorização do espiritual (inteligível) em detrimento do carnal (sensível). E assim o dito popular prossegue afirmando “a carne é fraca” enquanto o “sangue de Jesus tem poder”. Por isso o Cristianismo é indiferente (mesmo que diga o contrário) quanto à miséria e a violência do mundo, já que as questões do mundo da carne não lhe dizem mais respeito por ser algo “menor” – e prosseguimos “dando a César o que é de César”. O olhar do cristão não está aqui, não está em lugar algum, está no devir metafísico.

Voltando ao sexo cristão esta lógica, que na realidade tira todo o valor do ato sexual, se iniciou nas idéias platônicas a respeito do amor (Eros), em especial na concepção de “graus de Eros” (apresentada em pormenores na obra Simpósio).

Segundo Platão o amor é dividido em escalas, em graus, partindo da pura sensibilidade (enamoramento, beleza dos corpos) tida como equívoco, até a ascese (subir em direção a algo) erótica que conduz a formas mais elaboradas de amor (beleza das obras, beleza do conhecimento) – até que então cheguemos à expressão superior de amor, que é atingir o “belo em-si”.

“...quando alguém, ao elevar-se deste mundo por meio de um reto amor pelos jovens, começar a distinguir esse belo, terá então quase alcançado o ápice da ascese. Este é, portanto, o caminho certo a ser seguido em direção a disciplina do amor, sozinho ou orientado por alguém: o ponto de partida são as coisas belas deste mundo, o ponto de chegada é o belo, até o qual subimos com a ajuda de, por assim dizer, degraus (...) É neste momento da vida, caro Sócrates, mais do que em qualquer outro, que vale a pena estar vivo: na contemplação do belo em si (...) O que pensar então da condição do homem que tivesse chegado a contemplar o belo em si mesmo, puro, imaculado, íntegro, e que, livre do peso da carne, das cores dos homens e de todas as outras vaidades mortais, pudesse ver em si mesmo o belo divino, na unicidade da sua forma”
PLATÃO (Simposio)

Platão quando fala em amor distingue a beleza dos corpos e das coisas, como expressão inferior e dissimulada, da idéia de beleza pura, ideal, da beleza em-si. Isso significa que a partir de Platão há uma concepção ideológica que desvaloriza o corpo, a carne, a beleza dos corpos, em detrimento da alma, das formas puras, do higiênico “mundo das idéias”. O que vale, segundo Platão, é amar o “belo em-si” e não os corpos belos ou muito menos um único corpo belo. Em Platão o sexo deixa de ser uma atividade, de ser algo desejável como atividade, e passa a ser um encontro metafísico, uma busca incessante por pureza (dando o primeiro passo rumo à sacralização do corpo).

E o que faz a ideologia cristã? Transpõe, a seu modo, esta mesma lógica em suas formulações morais diante do sexo. Daí a busca pela pureza sexual, pelo sexo condicionado a uma disciplina divina/metafísica. Resultado: tudo aquilo que amplifica a satisfação corporal passa a ser condenado como má prática/pecado; e tudo aquilo que castiga, pune, e causa dor ao corpo é beatificado como ato sublime e espiritual (aqui a aceitação de martírios, como o que Jesus sofrera, ou mesmo a loucura de uma Opus Dei com suas práticas de autoflagelo).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Império Bizantino

Dias da Semana e os Deuses Escandinavos

Hoje quando você olha para os nossos "dias da semana" observamos algo de cristão, de latinidade: 
Domingo = domini dei (dia do Senhor); em tese o dia em que o Deus cristão descansou.
2º feira, 3º feira, 4º feira, 5º feira e 6º feira = todos dias de trabalho, onde o Deus cristão construíra o Universo.
Sábado = única exceção a regra cristã, derivando do judaico Sabbath (dia sagrado dos judeus).

Esta estrutura dos "dias da semana" não se repete em países de língua germânica/saxônica, em suma alemães e ingleses. Fiquemos com o exemplo saxônico, de língua inglesa:
Sunday (Sunnudagr) = sun day (dia do Sol); elemento natural, o Sol.
Monday (Mánadagr) = moon day (dia da Lua); elemento natural, a Lua.
Tuesday (Týsdagr) = Tyr day (dia de Tyr); alusão ao Deus do Combate Individual, a Mitologia Nórdica/Escandinávia. Tyr é muitas vezes apontado como uma releitura nórdica do antigo Deus da Guerra Marte (entre os romanos).
Wednesday (Óõinsdagr) = Wöden day (dia de Odin); alusão ao governante de Asgard (morada dos deuses nórdicos) e mais cultuado dos deuses da Mitologia Nórdica/Escandinávia.
Thursday = Thor day (dia de Thor); alusão ao Deus do Trovão da Mitologia Nórdica/Escandinávia. Thor é sem dúvida o mais "cult" entre os deuses nórdicos, muito explorado em nossa cultura (exemplo disso os quadrinhos da Marvel e o personagem de Stan Lee). Em 2011 estreia nos cinemas o filme "Poderoso Thor".
Friday (Frjádagr) = Freyja day (dia de Freyja ou Freia); alusão a Deusa do Amor da Mitologia Nórdica/Escandinávia.
Saturday (Laugardagr) = Saturn day (dia de Saturno); manutenção do Deus romano da Agricultura, hoje também nome de um dos planetas de nosso sistema solar.


Freyja (Deusa do Amor)











Tyr (Deus do Combate Individual)













Odin (Governante da morada dos deuses ou Asgard)











Thor (Deus do Trovão) - no quadro é retratado lutando contra a Serpente de Midgard (Terra dos Homens), empunhando o seu martelo Mjollnir (na cultura nórdica/escandinávia as armas e objetos recebiam nomes, e tinham uma espécie de existência própria)







sábado, 13 de fevereiro de 2010

Justiniano I e a Revolta Nika (ano 532)



Quando o tema a ser estudado é o Império Bizantino logo vem à mente a figura de seu mais cultuado governante: Justiniano I (483-565). Figura centralizadora, cesaropapista[1], que entre seus grandes feitos podemos apontar vitórias militares contra muitos dos povos germânicos que naqueles tempos haviam se apossado dos restos mortais do que um dia fora o Império Romano Ocidental, e a construção de fenômenos arquitetônicos como a Catedral de Santa Sofia (Hagia Sofia, inaugurada em 537).

Em meio a este “boom” arquitetônico se insere a construção de um grande e imponente hipódromo, aonde se realizavam atividades políticas, cívicas, mas antes de tudo eventos esportivos (em especial as corridas de bigas/carroças militares guiadas por cavalos velozes e bem treinados). Constantinopla atingia a sua verdadeira “Era de Ouro”, em meio a um novo mundo que se construía, depois do derradeiro fim do mundo romano ocidental. E assim vislumbrava-se uma “nova Roma” na antiga Bizâncio (nome da cidade original e construída pelos gregos na Antiguidade – 600 a.C/como homenagem ao rei Bizas), depois nomeada e reconstruída pelo Imperador romano Constantino I (280-337) como Constantinopla (cidade de Constantino) e que agora era palco do Império Bizantino, comandado por Justiniano I.

Pois bem, para este fulgor todo, econômico e arquitetônico, o imperador Justiniano I recorria a uma saída fácil, porém perigosa: aumento constante de impostos, de maneira a sustentar toda aquela pompa que objetivava ressuscitar a velha Roma no Oriente. Isso aos poucos aumentava, substancialmente, o descontentamento da população bizantina (em todas as classes sociais) que desde o princípio já se escandalizava (já havia ali certo fulgor moralista e cristão) com a escolha de Teodora, uma antiga dançarina (prostituta para alguns) e artista de circo (há relatos de que ela mantinha relações sexuais ou mesmo números de cunho sexual com ursos), como esposa e imperatriz.

Durante os jogos esportivos do hipódromo era comum a presença de Justiniano I em uma espécie de “ala vip” reservada ao Imperador Bizantino, de modo que todos pudessem observá-lo presente.

Ali dentro as pessoas das mais diversas classes sociais se misturavam e se organizavam em verdadeiras torcidas, divididas em cores: verdes, azuis, brancos e vermelhos (cada qual com seus corredores de bigas).

Em certa feita um cavalo de nome “Nika” (vencer) ganhara uma das provas, por pouca ou quase nenhuma diferença sobre o adversário – que por decisão arbitrária de Justiniano I, presente a prova, fora considerado como vencedor, para contragosto da torcida, em especial os verdes e azuis.

Verdes e azuis que então gritavam por “Nika! Nika! Nika!” e aquilo foi se transformando em tumulto, e logo uma turba enfurecida partia para cima do imperador e demais membros da aristocracia reinante. Configurava-se uma revolta!

Justiniano I ameaçou fugir, e no caminho de sua fuga acabara convencido por Teodora a ficar ali e lutar, nem que fosse para ali perder a vida. Justiniano I então reúne seus generais e lhes ordena uma intervenção imediata do exército contra os revoltosos que ali estavam promovendo um quebra-quebra dentro do hipódromo.

O resultado foi devastador: o exército bizantino adentra ao hipódromo e massacra cerca de 30 mil pessoas, que no combate atingindo proporções de guerra civil chega a destruir com incêndios cerca de 1/3 da cidade de Constantinopla.

Tal evento, trágico para a cidade de Constantinopla, acabou por reafirmar o poderio de Justiniano I como imperador bizantino, dando-lhe plenos poderes. Poderes que aliados a um desejo de reconstruir em Constantinopla uma “nova Roma” segundo a lógica de manutenção de “um Estado, uma Lei, uma Igreja” acabaram por produzir em Bizâncio um governo centralizador e intolerante – culminando na perseguição aos judeus, pagãos, e até no fechamento da Academia de Platão em 529.




[1] Cesaropapismo é a junção de duas palavras: Caesar ou mesmo Cesare, título comum aos imperadores romanos, portanto um título de chefe/líder político-militar; e Papa que nos remete a uma liderança espiritual dentro da ordem cristã – em suma o cesaropapismo é quando uma única liderança reúne em si o comando político, militar e espiritual.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Pergunte para o Professor Tiago Menta!

Quer me fazer uma pergunta, qualquer uma? Entre no link abaixo e deixe a sua pergunta agora mesmo:

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Análise sobre "Disparada" de Vandré

Como já fizera em postagem anterior com a canção “Starway to Heaven” da banda Led Zeppelin desta vez apresentarei as minhas impressões sobre a canção nacional “Disparada” de Geraldo Vandré, permanecendo na lógica anterior de metalinguagem/inter-texto/sub-textual.

Para tanto juntamente com a letra da canção abaixo farei inserções de comentários, todos em itálico.

Disparada
Geraldo Vandré
Composição: Geraldo Vandré e Theo de Barros

Prepare o seu coração
Prás coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar...

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo prá consertar...

Prof. Menta: tudo fora do lugar pode ser entendido como a sociedade vivente ou mesmo a realidade objetiva da vida. Vale lembrar que Geraldo compõe em meio a uma situação de convulsão social e política em nosso país, as voltas com uma Ditadura Militar; viver para consertar pode ser compreendido sob dois prismas – ser “pau para toda obra”, trabalhador braçal mesmo, ou então ser alguém com alguma consciência (para si) e sabedor das mazelas em torno sempre se dispõe a mudar o mundo.

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu...

Prof. Menta: a boiada é uma metáfora para o grosso da população, o povo ou populacho mesmo (a maioria das pessoas). E montar-se seria assumir definitivamente a condição, marginal, de Ser-boi (mais um no extenso rebanho que compõe o tecido social).

Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei...

Prof. Menta: o boiadeiro vira rei quando sai da sua condição de “Ser-boi”, tomando as rédeas dos demais (como que no comando sobre os outros trabalhadores) a pedido de um fazendeiro; a princípio compreendo que o boiadeiro, assumindo novas responsabilidades, passa a adquirir uma nova posição dentro da boiada, vindo a ter, inicialmente, atitude similar a do fazendeiro (se sentir um rei).

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei...

Prof. Menta: aqui temos uma tomada de consciência, definitiva, por parte do boiadeiro, que de rei volta a se reconhecer como Ser-boi. E o acordar mostra isso perfeitamente (eu acordei para a realidade do mundo e para a minha realidade – a boiada e o Ser-boi).

Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente...

Prof. Menta: ruptura total com a ordem estabelecida! O boiadeiro, cônscio de sua condição existencial (dentro de uma sociedade de desprovidos e desigualdades), afirma que não pode mais ser um rei, aquilo ali não era ele. E a justificativa é simples e impactante: gente é gente, é ser humano (ele clama por sua humanidade, por sua condição de sujeito) e não gado (que a gente tange, ferra, engorda e mata – como o fazendeiro faz com seus trabalhadores, ou em sentido macro-cósmico como a burguesia global faz com a massa de trabalhadores).

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto prá enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu...

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei

Prof. Menta: por fim o boiadeiro chega a uma conclusão final – de que ele só será forte, verdadeiramente forte, se estiver em um reino onde não há mais um rei (anarquia).

Tem outra visão sobre esta mesma canção? Coloque aqui o seu comentário e vamos dialogar.




sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Hayek vs Keynes (Teoria Econômica em forma de Rap - traduzido)

Este vídeo, que mostra um duelo teórico característico da história do pensamento econômico na forma bem criativa e bem humorada de um rap, me foi apresentado pelo amigo idealizador do blog co-irmão "Academia Econômica" (você encontra o link para o site aqui na minha listagem de blogs); e tomei a liberdade de traduzir a música para a nossa linguagem.

O original da letra, em inglês, você encontra no "Academia Econômica".




Medo de Explosivas Falências – Hayek VS. Keynes

Estamos voltando um século à frente
[Keynes] Eu quero conduzir os mercados,
[Hayek] Eu quero eles livres
Há um ciclo de explosivas falências e temos razão em temê-las
[Hayek] Culpa dos impostos
[Keynes] Não...são os espíritos animais

[Keynes Canta:]
John Maynard Keynes, escreveu o livro da moderna macroeconomia
Você precisa do homem quando a economia sai fora da pista [whoa]
Depressão, recessão, agora suas questões estão em sessão
Tome assento e eu irei te ensinar uma simples lição

Explosão, 1929 a Grande Quebra
Não vamos saltar para trás – a economia está um lixo
Desemprego persistente, resultado de salários congelados
Esperando pela recuperação? Sério? Que ultrajante!

Eu tenho um plano realista, qualquer idiota pode compreender
O conselho é simples – impulsionar a demanda agregada!
C, I, G, tudo junto conseguiremos Y
Crescimento na certa, assista a economia voar

Estamos voltando um século à frente
[Keynes] Eu quero conduzir os mercados,
[Hayek] Eu quero eles livres
Há um ciclo de explosivas falências e temos razão em temê-las
[Hayek] Culpa dos impostos
[Keynes] Não...são os espíritos animais

Você vê todo mundo gastando, escute a registradora
Fluxo circular, dinheiro pra todo lugar
Então se o fluxo desacelerar, não importa a razão
Nós precisamos de mais gastos do governo, agora é a temporada de estímulos

Então esqueça a salvação, coloque-a para fora de sua mente
Faça o que digo, em longo prazo – nós estaremos todos mortos
Salvando-nos desta destruição, este é o paradoxo da poupança
Não mantenha dinheiro em seus bolsos, ou aquele crescimento nunca irá subir...

Porque...

Negócios são dirigidos por espíritos animais
O touro e o urso, e há razões para temê-los
Efeitos dos capitais investidos, renda e crescimento
Este é o porquê do Estado dever preencher as lacunas com estímulos...

Política monetária e fiscal, elas estão corretas em igualdade
Trabalhos públicos, escavando valas, a guerra tem o mesmo efeito
Igualar a janela quebrada ajudando o vidraceiro a ter alguma saúde
Multiplicando com superioridade a saúde econômica

E se o Banco Central taxar os tanques da polícia
Uma armadilha de liquidez, aquele novo dinheiro emperrado nos bancos!
Déficits pode ser a cura, você tem olhado
Deixe os gastos subir, agora que você conhece o resultado

Minha Teoria Geral deixou grande impressão
[uma revolução] Eu transformei a economia
Você me conhece, modéstia parte, eu ainda comando
Diga alto, diz com orgulho, nós somos keynesianos agora

Estamos voltando um século à frente
[Keynes] Eu quero conduzir os mercados,
[Hayek] Eu quero eles livres
Há um ciclo de explosivas falências e temos razão em temê-las
[Hayek] Culpa dos impostos
[Keynes] Não...são os espíritos animais

Hayek canta:

Eu irei começar em pinceladas, como o meu amigo Keynes
Sua teoria esconde os mecanismos de mudanças,
Aquela simples equação, agregando muito
Ignora a ação humana e a motivação

E já continuando com a justificação
Para salvamentos e acabar com maquinações
Você fornece-lhes proteção para vendê-los almoço grátis
Então tudo que nós deixamos são débitos, e um rebanho

Se você está pensando alto sobre créditos baratos
Não olhe para a cura vinda do cabelo de um cachorro
Salvações reais vem primeiramente se você querer investir
O mercado coordena tempo e interesses

Seu foco sobre gastos está empurrando as coisas
Em longo prazo, meu amigo, esta sua teoria estará morta
Me perdoe aqui, camarada, se aquele som de investimentos
Prepare-se para aprender com a minha perspectiva austríaca
Estamos voltando um século à frente
[Keynes] Eu quero conduzir os mercados,
[Hayek] Eu quero eles livres
Há um ciclo de explosivas falências e temos razão em temê-las
[Hayek] Culpa dos impostos
[Keynes] Não...são os espíritos animais

O lugar que você estudou não é o fracasso
É a explosão que fez você se sentir espertalhão, esta é a verdade
Em minha teoria, a estrutura do capital é a chave
Investimentos ruins são o náufrago da economia

A explosão começou com uma expansão do crédito
O Banco Central abaixou os impostos, como você quer que comece isso?
Aquele novo dinheiro foi confundido com fundos de empréstimos reais
Mas era a inflação que comandava tudo

Quem investe em novos projetos como construção de casas
A explosão plantou as sementes para a futura destruição
A salvação não era real, consumo demais
E a ganância por recursos revela que eram muito poucos

Então a explosão virou falências assim como os juros subiram
Com os custos da produção, os preços eram mentirosos
A explosão era o frenesi, o assunto, o fato
Agora o capital desvalorizado virava pó de carvão

Se tardiamente nos anos vinte ou em 2005
Crescendo maus investimentos, vemos que eles não vão prosperar
Você deve proteger o investimento, não use a máquina de fazer moeda
Ou uma falência irá se seguir, com a economia em depressão

Chamar por “estímulos” só irá piorar as coisas
É sempre o mais do mesmo, mais incentivos perversos
E aquele crédito mastigado não é uma armadilha de liquidez
Como um sistema bancário quebrado, eu encerro, eu me agasalho

Estamos voltando um século à frente
[Keynes] Eu quero conduzir os mercados,
[Hayek] Eu quero eles livres
Há um ciclo de explosivas falências e temos razão em temê-las
[Hayek] Culpa dos impostos
[Keynes] Não...são os espíritos animais

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ocultismo e Contracultura

José Saramago lança "Caim"

Caros generais, almirantes e brigadeiros/por Marcelo Rubens Paiva


Eu ia dizer "caros milicos". Não sei se é um termo ofensivo. Estigmatizado é. Preciso enumerar as razões?

Parte da sociedade civil quer rever a Lei da Anistia. Sugeriram a Comissão da Verdade, no desastroso Programa Nacional de Direitos Humanos, que Lula assinou sem ler. Vocês ameaçaram abandonar o governo, caso fosse aprovado.

Na Argentina, Espanha, Portugal, Chile, a anistia a militares envolvidos em crimes contra a humanidade foi revista. Há interesse para uma democracia em purificar o passado. 

Aqui, teimam em não abrir mão do perdão. E têm aliados fortes, como o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que apesar de civil apareceu num patético uniforme de combate na volta do Haiti. Parecia um clown.

Vocês pertencem a uma nova geração de generais, almirantes, tenentes-brigadeiros. Eram jovens durante a ditadura. Devem ter navegado na contracultura, dançado Raul Seixas, tropicalistas. Usaram cabelos compridos, jeans desbotados? Namoraram ouvindo bossa nova? Assistiram aos filmes do Cinema Novo?

Sabemos que quem mais sofreu repressão depois do Golpe de 64 foram justamente os militares. Muitos foram presos e cassados. Havia até uma organização guerrilheira, a VPR, composta só por militares contra o regime.

Por que abrigar torturadores? Por que não colocá-los num banco de réus, um Tribunal de Nuremberg? Por que não limpar a fama da corporação?

Não se comparem a eles. Não devem nada a eles, que sujaram o nome das Forças Armadas. Vocês devem seguir uma tradição que nos honra, garantiu a República, o fim da ditadura de Getúlio, depois de combater os nazistas, e que hoje lidera a campanha no Haiti. 

Sei que nossa relação, que começou quando eu tinha 5 anos, foi contaminada por abusos e absurdos. Culpa da polarização ideológica da época. 

Seus antecessores cassaram o meu pai, deputado federal de 34 anos, no Golpe de 64, logo no primeiro Ato Institucional. Pois ele era relator de uma CPI que investigava o dinheiro da CIA para a preparação do golpe, interrogou militares, mostrou cheques depositados em contas para financiar a campanha anticomunista. Sabiam que meu pai nem era comunista?

Ele tentou fugir de Brasília, quando cercaram a cidade. Entrou num teco-teco, decolou, mas ameaçaram derrubar o avião. Ele pousou, saltou do avião ainda em movimento e correu pelo cerrado, sob balas. 

Pulou o muro da embaixada da Iugoslávia e lá ficou, meses, até receber o salvo-conduto e se exilar. Passei meu aniversário de 5 anos nessa embaixada. Festão. Achávamos que a ditadura não ia durar. Que ironia...

Da Europa, meu pai enviou uma emocionante carta aos filhos, explicando o que tinha acontecido. Chamava alguns de vocês de "gorilas". Ri muito quando a recebi.

Ainda era 1964, a família imaginava que fosse preciso partir para o exílio e se juntar na França, quando ele entrou clandestinamente no Brasil.

Num voo para o Uruguai, que fazia escala no Rio, pediu para comprar cigarros e cruzou portas, até cair na rua, pegar um táxi e aparecer de surpresa em casa. Naquela época, o controle de passageiros era amador.

Mas veio a luta armada, os primeiros sequestros, e atuavam justamente os filhos dos amigos e seus eleitores - ele foi eleito deputado em 1962 pelos estudantes. 

A barra pesou com o AI-5, a repressão caiu matando, e muitos vinham pedir abrigo, grana para fugir. Ele conhecia rotas de fuga. Tinha um aviãozinho. Fernando Gasparian, o melhor amigo dele, sabia que ambos estavam sendo seguidos e fugiu para a Inglaterra. Alertou o meu pai, que continuou no País.

Em 20 de janeiro de 1971, feriado, deu praia. Alguns de vocês invadiram a nossa casa de manhã, apontaram metralhadoras. Depois, se acalmaram. Ficamos com eles 24 horas. Até jogamos baralho. Não pareciam assustadores. Não tive medo. Eram tensos, mas brasileiros normais.

Levaram o meu pai, minha mãe e minha irmã Eliana, de 14 anos. Ele foi torturado e morto na dependência de vocês. A minha mãe ficou presa por 13 dias, e minha irmã, um dia. 

Sumiram com o corpo dele, inventaram uma farsa (a de que ele tinha fugido) e não se falou mais no assunto. 

Quando, aos 17 anos, fui me alistar na sede do 2º Exército, vivi a humilhação de todos os moleques: nos obrigaram a ficar nus e a correr pelo campo. Era inverno.

Na ficha, eu deveria preencher se o pai era vivo ou morto. Na época, varão de família era dispensado. Não havia espaço para "desaparecido". Deixei em branco. 

Levei uma dura do oficial. Não resisti: "Vocês devem saber melhor do que eu se está vivo." Silêncio na sala. Foram consultar um superior. Voltaram sem graça, carimbaram a minha ficha, "dispensado", e saí de lá com a alma lavada.

Então, só em 1996, depois de um decreto-lei do Fernando Henrique, amigo de pôquer do meu pai, o Governo Brasileiro assumiu a responsabilidade sobre os desaparecidos e nos entregou um atestado de óbito.

Até hoje não sabemos o que aconteceu, onde o enterraram e por quê? Meu pai era contra a luta armada. Sabemos que antes de começarem a sessão de tortura, o brigadeiro Burnier lhe disse: "Enfim, deputadozinho, vamos tirar nossas diferenças."

Isso tudo já faz quase 40 anos. A Lei da Anistia, aprovada ainda durante a ditadura, com um Congresso engessado pelo Pacote de Abril, senadores biônicos, não eleitos pelo povo, garante o perdão aos colegas de vocês que participaram da tortura.

Qual o sentido de ter torturadores entre seus pares? Livrem-se deles. Coragem.

*Publicado em "O Estado de S.Paulo" de 30 de janeiro de 2010.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Uma análise de Starway to Heaven

“E enquanto corremos soltos pela estrada
Com nossas sombras mais altas que nossas almas
Lá caminha uma senhora que todos conhecemos
Que brilha luz branca e quer mostrar
Como tudo ainda vira ouro
E se você ouvir com atenção
A canção irá finalmente chegar a você
Quando todos são um e um é o todo
Ser uma rocha e não rolar”
Led Zepellin – Starway to Heaven (Escadaria para o Paraíso)

Primeiramente vamos analisar, com profundidade, os versos acima retirados da canção “Escadaria para o Paraíso” do grupo Led Zepellin, para então apresentar uma síntese central da mensagem da música.

A estrada em questão é a estrada da vida, este caminho longo, tortuoso, e que nos permite fazer uma centena de escolhas, de caminhos a seguir – seja para praticar o bem, seja para praticar o mal.

As sombras são reflexos luminosos, ou seja, algo produzido materialmente, ou mesmo um fenômeno natural. Se estas são mais altas que nossas almas isso nos remete a uma lógica materialista, apontando o real como o aqui/agora, do homem economicus, que age e transforma a natureza. Além disso, pode ser compreendido como na máxima sartriana de que não existem essências, mas tão somente a existência.

Durante a canção fica claro que a senhora que todos conhecemos, ou melhor, conheceremos é a morte – evento comum a todos os seres viventes, que passam pela estrada da vida.

O mais significativo é esta idéia, marxiana, da unidade das coisas na coletividade. Todos são um (a sociedade) e o um (sociedade) é o todo (a mesma sociedade) – em síntese, há uma igualdade essencial entre todos, que aponta para uma sociedade coletivista. Da mesma forma, em termos metafísicos poderíamos entender que somos todos iguais perante a imensidão do cosmos e que não há diferença real entre eu, você, a lua, os planetas, o mar, apontando para uma cosmologia onde o ser humano não possui nada de especial, sendo mais um elemento de uma única fonte, o Universo.

Por fim ser uma rocha é ser convicto, é manter-se forte, resistente, perante as perplexidades da vida (é não rolar, não sucumbir, não se deixar cair na lógica errada – que é comprar uma escada para o Paraíso).

Na canção o Led diz que uma mulher tem por intenção comprar uma escada para ir para o Paraíso, ou seja, adquirir o tão sonhado passaporte para os céus, junto aos justos e a Deus-Pai (na concepção clássica monoteísta, em especial cristã).

Mas ele avisa, as aparências enganam, e nem tudo que reluz é ouro, e o brilho desta escada, a luz que vem deste suposto Paraíso não passa de uma farsa. E mais, que esta busca é um erro. Durante a canção há um verso que cita o personagem clássico do folclore europeu do Flautista (que em conto da Idade Média toca sua flauta para atrair todos os ratos da cidade, hipnotizando-os, até levá-los para o derradeiro fim dentro de um rio) e quem seria este mesmo Flautista no contexto da canção? As religiões, os religiosos, que tocam suas flautas, mágicas, levando-nos a crer que devemos sempre procurar por esta escadaria, a escadaria que conduz ao Paraíso.

Daí a canção, necessária, proposta pelo Led, de que nos vários caminhos da vida podemos escolher simplesmente viver, intensamente, mesmo sabendo que devemos ser rochas para suportar a música tocada pelo Flautista (e se dermos ouvidos a esta vamos, mesmo sendo rochas, começar a rolar, a cair nesta busca pela escadaria). E o importante, nossas sombras são maiores que nossas almas! E todos são um e o um é o todo! 

Deus está morto? Também...


Uma das frases mais polêmicas e autênticas da história da filosofia é proferida por Friedrich Nietzsche em Assim falou Zaratustra “Deus está morto”.

A primeira coisa que se passa na cabeça do leitor é que o deus cristão estaria morto, materialmente morto ou mesmo inexistente. Mas poucos atentam para os sentidos múltiplos da palavra “Deus” nesta frase e no próprio pensamento nietzschiano.

Deus é o deus cristão, sim. Mas é mais que isso. Deus é a síntese de um fenômeno do pensamento humano, histórico inclusive: a Metafísica. Deus representa assim tudo àquilo que é essencialmente metafísico no pensamento humano, tudo que é construção imaginativa, tudo que ousa explicar a partir do desconhecido, daquilo que supostamente estaria além de nossas percepções ou análises mais simples.

E o que nos diz a história da filosofia, em especial a filosofia alemã na época em que Nietzsche vivera? De predomínio do pensamento metafísico, muitas vezes dotado de um romantismo característico do século XIX – a isso nós historiadores chamamos de “romantismo alemão” ou “idealismo alemão”; tradição iniciada anteriormente no século XVIII por Immanuel Kant[1], depois levada adiante nos oitocentos por pensadores como Fichte[2], Schelling[3], Schlegel[4], Schopenhauer[5], e em especial Hegel[6].

E quais as correntes de pensamento, dentro da Alemanha, irão se sobrepor, se rebelar contra a tradicional filosofia metafísica: o existencialismo (que não se resume a Sartre no século XX) e o materialismo. Mas onde Nietzsche se insere nisso? Oras, no primeiro grupo, dos existencialistas. E por fim, os representantes do materialismo alemão oitocentista: Feuerbach, e claro, a dupla dinâmica Marx-Engels (inicialmente partícipes do grupo conhecido como esquerda hegeliana ou neo-hegelianos, que acabaram por romper com a filosofia de Hegel).

Assim “Deus está morto” deve ter uma outra leitura: a Metafísica está morta! Tudo que era especulativo, imaginativo, que buscava dar explicações a partir do vazio, já não vale mais para o novo mundo que estava por ser gerado no século XIX e que vai desaguar no século XX, XXI, onde a metafísica é semelhante a histórias infantis – vindo à tona um mundo técnico, crítico, racionalizante, onde não há (e não cabe) mais essencialismos.

Se Deus morreu, se a Metafísica morreu, para compreender o mundo, das coisas, da natureza, dos homens, é necessário racionalizar, instrumentalizar, experimentar, e não simplesmente esperar a boa vontade e a ação de entidades que estariam além de nossa percepção.


[1] Immanuel Kant ou Emanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo alemão, geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna. Principais obras: Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática, Fundamentação da Metafísica dos Costumes.

[2] Johann Gottlieb Fichte (Rammenau, Saxônia, 19 de maio de 1762 — Berlim, 27 de janeiro de 1814) foi um filósofo alemão. Principal obra: Discursos à Nação Alemã.

[3] Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (Leonberg, 27 de Janeiro de 1775 — Bad Ragaz, 20 de Agosto de 1854) foi um filósofo alemão. Principais obras: Sistema do Idealismo Transcendental, Investigações Filosóficas sobre a Essência da Liberdade Humana, Sobre o Eu Como Princípio da Filosofia ou sobre o Incondicionado no Saber Humano.

[4] August Wilhelm von Schlegel (8 de Setembro de 1767 — 12 de Maio de 1845),poeta alemão, tradutor e crítico, nasceu em Hannover, onde seu pai, Johann Adolf Schlegel (1721-1793), foi um pastor luterano. Ele foi educado no Hannover Gymnasium e na Universidade de Göttingen. Com seu irmão Friedrich, o principal filósofo do romantismo alemão, fundou a Athenaeum (1798-1800), a revista chefe do movimento.

[5] Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de Fevereiro 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro 1860) foi um filósofo alemão do século XIX da corrente irracionalista. Sua obra principal é O mundo como vontade e representação, embora o seu livro Parerga e Paralipomena (1851) seja o mais conhecido. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o Budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou conhecido por seu pessimismo e entendia o Budismo como uma confirmação dessa visão.

[6] Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Stuttgart, 27 de agosto de 1770 — Berlim, 14 de novembro de 1831) foi um filósofo alemão. Recebeu sua formação no Tübinger Stift (seminário da Igreja Protestante em Württemberg).
Era fascinado pelas obras de Spinoza, Kant e Rousseau, assim como pela Revolução Francesa. Muitos consideram que Hegel representa o ápice do idealismo alemão do século XIX, que teve impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx.