segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Tempos de Anarquia

Desde os eventos de "junho de 2013" o Brasil não é mais o mesmo, e não é porque o "gigante acordou" ou bobagens similares, mas porque estamos assistindo ao renascer da Anarquia, seja como teoria revolucionária ou como metodologia de ação, de fato os "vândalos" e seus quebra-quebras entraram na ordem do dia.
Isso sem ainda concluir se estes grupos "black blocks" (uma tática de enfrentamento criada por grupos anarquistas europeus, os blocos negros) são genuinamente grupos anarquistas brasileiros ou se são grupos políticos ligados a interesses de outros grupos políticos (como no possível caso PSOL). De qualquer maneira a Anarquia, mesmo que difamada pela mídia e pelo status quo, voltou a ser encarada como algo mais, além, do que preconceituamente sinal de "bagunça".
Assim como o Socialismo, a teoria anarquista não é uma massa ideológica homogênea, ela possui ramificações, visões, divisões, a partir de um mesmo objetivo: a construção de um devir autogestionário, sem classes e sem Estado.
Até o florescimento do socialismo marxiano, em meados do século 19, era a Anarquia a teoria política, e a ação política que efetivamente desafiavam os liames da democracia liberal consolidada da época. E a repressão contrária mostrava-se tão intensa quanto as ações de terror que o Anarquismo empreendeu no século 19 e no começo do último século (vide por exemplo que um Presidente norte-americano, William McKinley, foi assassinado por um anarquista em 1901).
Com Marx e Engels, vitoriosos nos debates da I Internacional (especialmente contrários ao russo Bakunin), o Anarquismo começa a ir para os rodapés de página das ideologias de esquerda, e após a segunda guerra mundial já parece ser carta fora do baralho diante da bipolaridade URSS x EUA.
Por que então, supor um renascer de movimentos anárquicos?
Porque o socialismo de Estado, proles do leninismo/stalinismo, deu mostras de que nada mais foi senão uma Ditadura à esquerda, vencido historicamente pelas "vias democráticas" do Capitalismo (como o Estado de Bem-Estar Social, hoje em frangalhos na Europa, a Social-Democracia que por exemplo impera no Brasil desde o Plano Real, e até mesmo as vias do puro Liberalismo na Inglaterra e nos EUA). Assim, restam aos mais radicais, àqueles que desejam lutar por transformar o mundo ou algo correlato recuperarem o Anarquismo como ideologia, talvez como o meio "correto" em direção ao tão sonhado igualitarismo.
No caso brasileiro, a cada manifestação nas ruas, fico pensando se um anarquista clássico brigaria com a polícia exigindo "saúde, educação, transporte".....?? Creio que nada mais equivocado. O anarquista não pode lutar por isto pois entende que o Estado, por sua natureza mesma, não vai proporcionar nada de digno ao bem estar geral. Com o Estado não há negociata, pois ele é "O Inimigo". Para o anarquista o Estado não tem que cuidar de nada, pois ele sequer deveria existir, sendo substituido por uma nova organização social amparada na autogestão dos povos, em pequenas comunidades (seria um desejo de voltar a andar sobre quatro patas, como diria Voltaire?).
Assim, atentos, vamos assistindo a "tempos interessantes" (parafraseando Hobsbawm)...