terça-feira, 26 de julho de 2016

CURSO DE SOCIOLOGIA, Aula 6: As Instituições Sociais

domingo, 10 de julho de 2016

É possível uma escola (ensino) sem partido?

A partir da participação do colega historiador Leandro Karnal no último "Roda Viva", exibido em 04/07/2016, foi elencado um debate sobre a possibilidade ou impossibilidade de uma "Escola sem Partido", projeto que eu particularmente desconheço. Karnal posicionou-se extremamente contrário ao projeto, desafiando todos nós a apresentarmos uma aula, especialmente uma aula de História (que no particular é o meu ganha-pão) onde não estivesse presente algum componente político.

O filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., conhecido youtuber, rechaçou a argumentação de Karnal rememorando os exemplos culturalistas, especialmente os franceses da revista Annales, e até mesmo quando do trato com a história da ciência, etc.

Esta é uma questão polêmica. Toda aula de história tem algum componente político?

Corremos um sério risco, reduzindo a ciência histórica como parte de um fenômeno, seja político, cultural, narrativo.

Entendo que para desnudarmos adequadamente a questão devemos lembrar, sempre, onde afinal acontecem as aulas de História. Claro, no ambiente escolar. E sob duas características preponderantes: na modalidade da educação básica, e em escolas da rede pública de ensino.

E aqui está, no meu entendimento, a chave do "castelo" para responder se é possível ou não uma "escola sem partido" - ensinamos, eu, praticamente todos os professores brasileiros (mesmo que em algum momento da carreira docente) numa escola pública, que dados indicam reunir mais de 80% dos estudantes do país.

A escola pública é, essencialmente, parte componente do Estado, enquanto instituição, seja em níveis municipal, estadual ou federal. E se é parte do Estado, se mantém vínculos estruturais e institucionais com aquilo que politicamente definimos como Estado, logo, ela é parte do "poder".

E por esta qualidade, intrínseca ao Estado, a escola pode até pretender ser "sem partido", mas ela concretamente não o será, porque a educação não ocorre fora de uma estrutura social, ampla, e enraizada no poder, nas instituições.

A discussão vem à luz, nos dias que vivemos no Brasil, em face a uma espécie de luta contra a esquerda, que estaria se utilizando da cultura, e aqui inserida a escola, para doutrinar gerações de modo a perpetuar grupos no poder (vide os anos Lula-Dilma). E assim, se justificaria uma vigilância ou reorientação ideológica nas escolas, de maneira a torná-la sem partido. Mas, como isso é possível se a escola é ligada ao MEC, às secretarias de municípios e estados, recebe investimentos internacionais como do Bird, é organizada segundo interesses e visões de partidos e grupos de intelectuais ligados a partidos, que sustentam programas de governos de prefeitos, governadores, etc.

Caso a educação fosse um componente pessoal, do núcleo familiar preparando os seus jovens, talvez poderíamos pensar numa escola apolítica. Porém, a escola é serviço social, organizada numa rede, num sistema, que foram estruturados muito mais por burocratas do que por educadores. E aqui, como descartar a existência do componente político, mesmo se em sala de aula você está ensinando os hábitos culturais dos povos ameríndios pré-colombianos? Quem definiu que você deve ensinar isso? E quando? E por quanto tempo? E que informações passar? Como avaliar se os alunos aprenderam? Quais os sentidos de se aprender isso, para a realidade vivida pelos seus alunos?

Mesmo com toda a abordagem culturalista, marcante na historiografia das últimas décadas, o ensino é uma prática, sine qua non, política.