domingo, 31 de outubro de 2010

Parabéns e boa sorte Presidente Dilma Rousseff

Finalmente, após uma batalha eleitoral que se arrastara por meses, chegamos ao derradeiro resultado: eleita Dilma Rousseff,  do PT, a primeira  mulher presidente deste país.
Vitória de Dilma, vitória de Lula (anunciada a tempos quando vemos a aceitação presidencial chegar a aprovação de mais de 80% dos brasileiros); e claro, nova derrota demo-tucana (em especial do grupelho de Higienópolis, capitaneados pelo ex-presidente FHC), derrota das forças que insistem no conservadorismo (como setores direitistas vindos de movimentos religiosos, como o neopentecostalismo carioca ou a renovação carismática católica, além de setores da CNBB alinhados com a política medievalista de Bento XVI).
Apesar de reafirmar, sempre, que a democracia representativa é uma falácia, uma instituição demagógica e reprodutora de uma ordem social que promove desigualdade e injustiças, ainda assim, a escolha de Dilma Rousseff indicara que os brasileiros estão votando melhor, deixando para trás séculos de preconceito de gênero - do tipo que condenara as mulheres a vida domiciliar, como eternas amélias na beira do fogão a espera do  homem provedor.
Sem nunca abandonar o clamor revolucionário, o fulgor anarquista que não aceita a autoridade e o domínio do homem pelo homem, não posso, como cidadão, deixar de desejar boa  sorte a nossa Presidente e que ela, com toda sorte, faça do Brasil um lugar melhor para se viver.
Parabéns Dilma Rousseff! 

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ultraseven - Orquestrada

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Horrores do Neopentecostalismo





segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Saudades da Imprensa Maratiana

Muito se tem debatido acerca do papel da imprensa na vida política brasileira, ainda mais agora durante as eleições presidenciais. É evidente que a imprensa possui um caráter ideológico e engajado, assumindo, uns mais outros menos, o seu posicionamento político.

Exemplos não nos faltam: de um lado a revista Carta Capital petista, de outro a demo-tucana Veja; aos mais radicais de esquerda poderíamos apontar a Caros Amigos.

Historicamente a imprensa sempre exercera papel preponderante nos eventos em questão, e não é sem razão que muitos estudiosos a apontam como o chamado "Quarto Poder", de certa maneira observando os caminhos percorridos pelo Judiciário, Legislativo e Executivo. Com a consolidação da ordem capitalista ao longo dos últimos três séculos, a mesma é agente ativa dentro da ordem de uma "Sociedade de Espetáculos" (conceito trabalhado pelo filósofo francês, dos anos 60, Guy Debord).

A imprensa que hoje te levanta, amanhã te derruba; segundo a sua conveniência, sem nenhum compromisso que não o lucro para seus empresários-proprietários. Isso hoje é medido pelo chamado Ibope (no caso a televisão, hoje maior veículo de imprensa), usando a maior cidade de nosso país, São Paulo, como referencial de audiência (trazendo ou não novos patrocinadores segundo os dados colhidos pelos aparelhos).

A mesma rede Globo que surgida no colo da Ditadura Militar fazia vistas grossas e não noticiava o Movimento Diretas Já em meados dos anos 80, a mesma Globo que condenava Lula em 1989 hoje morre de amores pelo sr. Presidente, e assim caminha, hipocritamente, a nossa imprensa.

Mas nem sempre a imprensa foi assim, voltada para o seu próprio umbigo, como mecanismo autômato de poder, querendo se impor sobre uma sociedade alienada; um dia ela já tencionou estar ao lado do povo, sendo revolucionária. E aqui a menção, necessária, a lenda chamada Jean-Paul Marat.

Marat, jornalista que de dentro de sua banheira homeopática escrevia-vociferava os rumos do governo da Convenção Nacional francesa (no final do século XVIII), com seu "Amigo do Povo" (nome do jornal), fazia rolar, a cada dia, as cabeças dos contra-revolucionários franceses, em especial as cabeças da nobreza e do clero (usurpadores sociais ao longo do Ancièn Regime).

E pagou, com a própria vida (apunhalado dentro de sua banheira por uma jovem conservadora), pelos seus ideais.

A Revolução Francesa nos seus primeiros anos enfrentava uma séria ameaça externa: toda Europa absolutista estava em seu percalço, em meio a uma guerra sangrenta contra austríacos e prussianos sobretudo. Muitos inimigos da revolução, oriundos das classes usurpadoras do clero e da aristocracia, já se encontravam presos. Sob o eminente ataque estrangeiro, e sob a ameaça de entrada destes a capital Paris, Jean-Paul Marat, com suas palavras insurgira os parisienses (em especial os san-culottes) a exterminar, de vez, os possíveis inimigos da Revolução Popular e Democrática; resultado: os sans-culottes invadem as prisões parisienses e dão cabo de todos os nobres e clérigos ali mantidos como prisioneiros, para horror dos absolutistas, em especial os ingleses.

Hoje, ao contrário do clássico exemplo francês, a imprensa não dialoga com o povo, não dialoga e não conclama as massas a lutar por justiça social; pelo contrário, a imprensa tenta somente reproduzir a voz das classes médias e dirigentes, segundo as conveniências do Capital e do mundo do Espetáculo, irrigados na lógica, alienada, do consumo.

Quanta saudade de jornais como "O Amigo do Povo" e de jornalistas como Jean-Paul Marat.

sábado, 16 de outubro de 2010

Luto: José Ângelo Gaiarsa

Estes vídeos são uma homenagem ao psiquiatra brasileiro, jungiano e reichiano, dr. José Angelo Gaiarsa, que perdemos no dia de hoje, morto aos seus 90 anos de idade.





sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os Piores Stand-Ups do Mundo



Dia do Educador!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Serra Burns....

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Atuação Política

Durante minha juventude tivera eu duas pequenas e frustrantes experiências partidárias: primeiro no PSDB, no  final dos anos 90, e rapidamente pelo PFL no início deste novo século; ali, em ambos os partidos, pude conhecer um pouco como funciona o falso pensamento social-democrático e até as propostas liberalizantes vinculadas ao grande Capital.

Em ambos você se torna um partidário ativo somente e somente se:
- apadrinhamento político.
- dinheiro no bolso.
- liderança popular, como um líder comunitário, um pastor de igreja, um missionário, coisas afins.

Um jovem como eu, nos anos 90, cheio de ideias, e ainda sem formação  universitária (depois realizada entre os anos de 2003-2006, anos de verdadeira transformação pessoal) não tinha e continua não tendo o menor espaço nos partidos políticos, a não ser que você aceite ser mais um "cabo eleitoral" (segurando bandeirinha, colando adesivos, e nunca participando, efetivamente, de nada).

Hoje tornado professor,  amadurecido em todos os sentidos, liberto de todo conservadorismo, conscientizado e libertado pela junção: materialismo histórico+filosofia da práxis+teorias críticas+ofício de educador num país miserável e desigual; posso dizer que abracei o anarquismo como ideário, o ateísmo como concepção e visão de mundo (como dizia Sartre - estou condenado a ser livre, sendo eu, somente eu inteiramente responsável pelos meus atos); e um senso de posicionamento marcante: jamais alguém vai me ver em cima do muro, não mesmo.

E é dentro deste espírito, de não  ficar em cima do muro, de não ficar tão a margem das questões políticas, que estou abrindo conversações com o Partido  Comunista Brasileiro (PCB), de longa história (criado em 1922, como oposição a República Velha, e depois sendo galgado a representatividade com figuras ilustres como Luis Carlos Prestes e Jorge Amado) e assim espero reiniciar, com maior liberdade e representatividade, uma vida política mais atuante e menos acadêmica.

Tiago Menta para 2018? Por que não? Quero ver se a sociedade brasileira estará preparada para ouvir o que eu tenho a dizer, e mais, a propor.

Porque eu agora voto em Dilma

Esta campanha política, que já era marcada pelo  marasmo de sempre, discutindo sempre o velho feijão com arroz economicista (quem investiu onde e como, quem gerenciou melhor, quem fez mais pelo social, os juros e as dívidas, o Pré-Sal, as bolsas assistencialistas) agora, com a chegada deste segundo turno começa a afunilar em momento decisivo, e pior, onde os candidatos que representam as mesmas forças, passam a "jogar no ventilador" um  do outro - espécie de vale tudo político, na luta pela conquista do seu e do meu votos.

Dai a convocação de ambas as partes, de verdadeiros detetives políticos e ideológicos, no sentido de mostrar-se como o  partido do "bem" a partir da demonização infantil do outro. Por isso a questão do aborto está sendo a bola da vez, encontrada pelo tucanato para jogar contra a parede a candidata da situação (filiada a um partido que historicamente defende os direitos da mulher e isso se relaciona sim ao direito de fazer o aborto, que não é, definitivamente, uma forma de assassinato - a célula que depois poderá, digo, poderá, se tornar um novo ser, não é muito diferente de uma unha, que quando cresce demais você decide cortar).

Ao mesmo tempo o tucanato procurou reunir em torno de si, em especial dentro de uma semana de feriado religioso (mais um, jogando  por terra a ideia de que vivenciamos um estado brasileiro laico, pois ele não é), uma horda canalha e conservadora da pior espécie: CNBB + Renovação Carismática + Comunidades Evangélicas (em especial do Rio de Janeiro, redutos do pastor Silas Malafaia e do agora deputado, não menos infame, Anthony Garotinho).

Como todos sabem, sou anarquista por posição política,  não creio no estado como promotor de bem-estar social, e luto, diariamente e muitas vezes solitariamente, para plantar em cada jovem uma sementinha revolucionária, inerente a minha tarefa de educador, de alguém que está ao lado da juventude para junto dela conscientizar, transformar, um mundo que historicamente se mostra como um local de conflito, mas essencialmente de exploração e desigualdades gritantes.

O Comunismo não difere muito, como proposta, da Autogestão Anarquista, e são situações e formas de organização social que o nosso mundinho, pequeno, ainda não ousou experimentar; para isso é necessário, antes de tudo, repensar o papel do homem  no Universo - sem construções apoteóticas e metafísicas, sem confortos inúteis, sem autoritarismo, sem hierarquias, sem céus ou infernos.

O Socialismo dito "real" falhou, como já preconizava Bakunin durante a 1º Internacional, pois cairá nas tentações do poder, do Estado autoritário, que de Ditadura do Proletariado passou a ser uma Ditadura de esquerda e nada mais,  em  nome de algo que no dia-dia do poder, do  politburo, não era exercido e muito  menos posto em prática.

Muitos se esquecem que o Socialismo é um meio e não um fim; meio para a futura organização da sociedade mundial em escalas políticas menores, autosuficientes, sem classes, sem Estado, sem polícia, visto que não haverá mais propriedade a ser defendida, a ser subtraída, visto que tudo será de todos, e que sem o mercado não haverão razões para uma vida miserável de assalariamento, de escravidão sutil manchada numa carteira de trabalho que não liberta, nunca.

A ciência será compartilhada como conhecimento para a promoção do bem-comum, e sem o mercado, a mesma não será mecanismo de entidades de pesquisa, para fins lucrativos, como por exemplo a nojenta indústria farmacêutica. O homem irá desenvolver a técnica não para transformá-la em propriedade, mas para melhorar a qualidade de vida sua e dos demais, onde todos sairão ganhando.

Não haverão deuses, nem fé cega, e o homem caminhará solitariamente nestas terras, certo de que durante esta única oportunidade cósmica daquilo que chamamos "vida" ele terá as melhores condições de desenvolver-se a partir do desenvolvimento de todos, sendo a sua existência solitária um mecanismo de suporte para a existência em coletividade.  Que não precisamos de livros, profetas, milagres, metafísicas infantis criadas num momento infantil em termos históricos da humanidade (durante a antiguidade, no Oriente Médio). Ser bom, ser ético, é  condição sine qua non para a vida coletiva, e para a própria, valendo a lógica kantiana: fazer ao outro, a  mim  mesmo, algo que pode ser entendido como válido, enquanto ação, para todos (imperativo categórico ou ética do dever).

Eu não preciso de Jesus morto na cruz, eu não preciso de livros apocalípticos, eu não preciso orar resignadamente cinco vezes ao dia, eu não preciso querer uma vida que não esta aqui, latente e pulsante, no hoje-agora. Eu não preciso encarar a morte com medo, ela é eficaz, e torna a vida  no planeta algo sustentável (é preciso morrer).

Claro que depois de toda esta argumentação, beirando a devaneios político-filosóficos, eu tenho que reafirmar, a cada momento: o Brasil não será melhor, ou pior, com Dilma Roussef ou José Serra no comando da República (visto que os outros dois poderes estão com a bundinha empinada para o executivo); eles não mudarão os rumos deste país, muito menos da humanidade, serão mais um entre tantos "gerentes" do grande Capital que a tudo quer e a tudo ousa engolir.

Mas a união, medieval e conservadora a beira  do fascismo, entre Demo-Tucanos+CNBB+Renovação Carismática+Comunidades Evangélicas do Rio de Janeiro, supera e muito todo o projeto lacerdista (nos melhores dias da velha UDN dos anos 50), e assim só me resta dar o meu voto a candidata do PT, para dar um tapa na cara dessa burguesia aristocrática e hipócrita, presente em massa no Santuário de nossa (aliás suas) senhora aparecida.

Dia 31 de outubro eu voto 13, Dilma Presidenta.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Análise sobre a Democracia Brasileira

Domingo tivemos mais um exemplo, obvio, de como a nossa democracia é algo capenga, falsa. O jogo democrático dá mostras de desgaste, de fraquezas, e tenciono apontar as razões.
Vale lembrar que a democracia, como a nomenclatura grega diz, é o “governo do povo”, criada como modelo político na Atenas antiga, da administração da polis, também conhecida como “democracia direta” em Ciência Política. E mesmo no exemplo mais puro de democracia a mesma era uma falácia: mulheres, menores, estrangeiros, escravos, ou seja aqueles que não eram cidadãos atenienses não tinham direito de participar da administração de Atenas/de sua vida política.
Hoje em nosso país, como na maioria do mundo político conhecido, vivenciamos um segundo mecanismo democrático: a dita democracia representativa, aonde você, por meio do voto, elege representantes políticos que terão como encargo a administração pública e a promoção do bem-estar social.
Mesmo assim este modelo demorou, e muito, para ser implantado definitivamente em nosso Brasil. Nascemos como colônia portuguesa, depois de libertos já no século 19 vivenciamos um curto período de monarquia constitucional e por fim o governo republicano de 1889 – referenciado pelo modelo político norte-americano, independente desde 1776 e consolidado após a Guerra de Secessão.
Antes da década de 30 vivíamos um verdadeiro par-ímpar regionalista com a chamada República Velha, empreendida pelos ricos estados de São Paulo e Minas Gerais (em especial a partir do governo Campos Sales). Quando o restante do país queria se fazer representar, evitando um certo imperialismo  paulista, estourou uma “revolução” que colocara um governo autoritário e populista no poder: Getúlio Vargas, pai dos pobres e mãe dos ricos, entre 1930-1945 (a partir de 1937 escancarado com  o dito Estado-Novo).
Vargas fez, a maneira lulista de hoje, o seu sucessor nas eleições de 45: Dutra governa até 1950, quando o mesmo Getúlio retorna ao poder, agora sob a legitimidade de nossa democracia representativa. Sob intensa pressão de partidos conservadores, em especial a UDN do governador Carlos Lacerda, Getúlio comete suicídio e joga a oposição na lata do lixo, tornando o velho ditador gaúcho uma lenda política nacional.
Em seguida ascende ao poder o governante, boa praça, Juscelino K., marcado como governante desenvolvimentista, mesmo que jogando  o país numa dívida cruel, inflacionando a nossa economia por décadas – aqui em Minas Gerais parece proibitivo falar a respeito da herança maldita de JK, em especial causada pela infame  construção de Brasília, isolando o centro  do poder dos núcleos urbanos do país, sob a justificativa, esperta, de empreender uma espécie de bandeirantismo em plena década de 60, promovendo um interiorização de nosso país.
O país se atolou em tantos problemas econômicos que os partidos conservadores conseguiram colocar no poder o megalomaníaco Janio Quadros, que não completara sequer 1 ano de governo, jogando o país em crise institucional, e assim tivemos a nossa primeira e falsa experiência parlamentarista: com Jango no executivo e Tancredo como primeiro-ministro.
Porém a América Latina, continente satélite do Imperialismo norte-americano dentro da lógica implementada pós 45 (Guerra Fria), começa a sofrer intervenções  políticas diretas do Tio  Sam, temerosos de novas Cubas em seu quintal mais próximo: e assim demonizam o governo Jango, com apoio da Igreja Católica e do exército, que sob ideário de salvador da Pátria contra o perigo vermelho empreende golpe em 1964 – jogando o Brasil em 21 anos de Ditadura Militar (até 1985).
Em 1985, depois de fracassada tentativa popular de fazer retornar o voto para Presidente (Movimento Diretas Já), o Congresso dos panos quentes, que já havia empinado a bunda com a lei de anistia anos antes (anistiando torturadores, malucos, tão brutais quanto os nazistas) agora garantia uma reabertura sem quebrar ovos: pegaram o pelego-mor da política nacional, o velho Tancredo, como presidente civil (em votação empreendida no Colégio Eleitoral, dentro do próprio poder); quis o destino que o pelego não resistisse a uma doença cruel, e assim ascende ao poder o imortal José Sarney.
Anos depois o povo retorna as urnas para eleger o seu presidente, resultado: Fernando Collor, ex-governador de Alagoas e do nanico PRN, é impedido em 1992, dando lugar ao mineiro Itamar Franco, ex-prefeito de Juiz de Fora, como novo presidente.
Em 1994 dentro de uma nova ordem econômica, com a implementação do plano real – acabando com a superinflação brasileira, dinamitando a poupança nacional e elevando os juros a níveis estelares (para alegria dos banqueiros e donos do capital), o então presidente torna o seu ministro, sociólogo renomado (aprendiz de Florestan Fernandes), Fernando Henrique Cardoso governante do país, e tempos depois, na tentativa de copiar o modelo político norte-americano, é instituída a reeleição para os cargos do executivo, dando a FHC 8 anos de governo.
Em 2002 o Brasil parecia dar um salto qualitativo em termos políticos, dando a Lula a oportunidade de governar o país – ele um velho líder sindical, que dera origem ao Partido dos Trabalhadores no início dos anos 80, e que de certa maneira atingia o imaginário das pessoas na perspectiva dele ser o primeiro trabalhador, legítimo, oriundo do proletariado rural-urbano (de retirante nordestino e metalúrgico no ABCD paulista) a governar o país.
E hoje, voltando a nossa contemporaneidade, Lula tenciona colocar no poder a primeira mulher, Dilma Roussef, mineira radicada no sul do país, ministra das Minas e Energia, depois da Casa Civil, como governante para os próximos anos. E o que disseram as urnas, aliás, as escolhas do povo brasileiro no último domingo, dia 03 de outubro:

- o brasileiro gosta de continuísmo, algo contrário ao espírito democrático, e isso se vislumbra nos estados da federação. O PSDB governa São Paulo como um feudo medieval, em Minas Gerais o agora senador Aécio coloca no poder uma porta como governador, no Rio Sérgio Cabral se mantém amparado por política repressora de segurança pública, no Distrito Federal a mulher do governador ficha-suja vai ao segundo turno sem nem saber o que é administrar o próprio cérebro.

- o brasileiro está tão imerso na lógica debordiana da sociedade do espetáculo que elege cada vez mais, em especial para o poder legislativo, pessoas do dito mundo das celebridades: Romário, Bebeto, Tiririca, Jean do BBB, Marques, Túlio Maravilha, etc.

- o brasileiro é influenciado, na hora da escolha do voto, pelas tendências apontadas por pesquisas – esquecendo que as mesmas são pagas por partidos políticos e pela imprensa, tendenciosas até a raiz.

- o brasileiro não possui um voto de caráter ideológico; ou seja, se votam nas pessoas e não nas idéias, nos princípios, no partido em si. Isso culpa da profissionalização da política, como tanto preconizava o alemão Max Weber ainda no século 19, que acaba promovendo a dita geléia geral política – dando a impressão que todos são iguais, e pior, todos são realmente iguais.

- o brasileiro não acompanha o horário eleitoral, e ele está certo. São programas pasteurizados ao excesso, sob as mãos de marqueteiros; e isso já se reflete nos debates praticamente inexistentes, tudo pasteurizado, homogeneizado, sem embates, sem debates na acepção da palavra.

- o brasileiro, nitidamente, o brasileiro médio, não sabe, definitivamente, votar. Seja no campo, seja nos grandes centros urbanos. O brasileiro médio é um verdadeiro “analfabeto político” como então conceituava tão bem o alemão Bertold Brecht.

Vocês podem me perguntar: mas professor, qual a solução? Vocês sabem, a solução é o caminho mais difícil e que exigirá a participação de todos nós nas ruas, com armas em punho – a revolução social. Nada, efetivamente nada, mudará, se transformará, através do voto ou mesmo da democracia representativa, sem quebrar ovos não haverá omelete algum. 

sábado, 2 de outubro de 2010

Igreja e Dominação

Vida Careta - parte 2

Lua-de-mel encerrada inicia-se a tão sonhada vida em comum: apartamento pequeno, dois quartos, financiado pelo programa habitacional do governo. João é engenheiro, ganha aproximadamente R$ 1500,00 ao mês e Júlia é professora primária (hoje educação infantil), da rede municipal, com ganho pouco menor que seu maridinho.

Nos finais de semana do casal o divertimento se dá em alternância de programas: grupo de oração com os padrinhos de casamento, ir à missa, almoçar na casa dos sogros, ou então ficar em casa assistindo ao incrível Domingão do Faustão.

Passaram-se meses, o primeiro ano, e a vida sexual do casal continuava com o velho ritual: luzes apagadas, oração e papai-mamãe bem comportado, como diz o padre. Contudo em seu trabalho como engenheiro João convivia com homens bem diferentes, uns eram separados, outros eram protestantes, uns solteirões convictos e até ateus!

Numa sexta-feira à noite João é surpreendido pelos colegas:

“O João, meu caro! A turma toda hoje vai dar uma saidinha depois do expediente. Sei que o amigo não bebe, mas pode tomar uma coca-cola. Anima ai companheiro, vamos lá; afinal, você nunca saiu com a gente”

João ficou tentado com o convite, mas jamais, jamais mesmo, ele poderia dizer a sua esposa querida que estaria saindo com aqueles homens, à noite, e pior todos eles afastados do Senhor. O jeito, pensou ele, seria cometer o pior dos pecados: mentir! E sentiu calafrios quando lembrou que a mentira era a porta de entrada favorita de Satanás. Porém, ele questiona, era um ótimo cristão, devoto, temente a Deus, e certamente o papai-do-Céu iria perdoá-lo com tranqüilidade, bastava se confessar na semana seguinte e tudo certo.

“Amor, oh amor, hoje vou chegar tarde em casa meu anjinho. As coisas aqui no trabalho estão um aperto só, vou ter  que fazer hora extra, afinal temos prazo de entrega para um importante projeto”

Telefone desligado. João, em alegria, diz aos companheiros de trabalho que está tudo arranjado e que ele, pela primeira vez, sairia com a turma para o happy-hour.

“Onde vamos? Já definiram o lugar?”
“Sim, sim, nós vamos te levar para um lugar bacana, confie na gente”

Todos dentro do carro, João e a turma se deslocam pelo centro da cidade, e para espanto de João o lugar em que param é um ambiente escuro, quase escondido, porém com luzes intensas e escrito em neon “Pererecas Night Club”.

CONTINUA...