quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ateus X Datena - mais um vídeo esclarecedor

Napoleão Bonaparte - Parte Final

O vídeo abaixo encerra o documentário tratando da história de Napoleão Bonaparte ou Napoleão I (1769-1821), o mesmo é apresentado em língua espanhola, e mesmo sem que o amigo(a) domine este idioma, vale a pena conferir abaixo esta série de vídeos que formam um grande documentário.
O documentário está subdividido aqui em 6 pequenos vídeos, portanto bom proveito deste material.
Em breve deverei publicar em meu canal de vídeos e aqui neste blog uma série de vídeo-aulas sobre o tema, fundamental inclusive para a compreensão da geopolítica europeia do século 19 e até mesmo o desenrolar político de nosso Brasil colonial (que em 1808 receberá a corte portuguesa, fugida da ameaça napoleônica e amparada pelos ingleses).


Napoleão Bonaparte parte 5

Napoleão Bonaparte parte 4

Napoleão Bonaparte parte 3

Napoleão Bonaparte parte 2

Napoleão Bonaparte parte 1

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

CICLO DO OURO 1690-1792

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Albert Hammond - It Never Rains In Southern California

That Mitchell and Webb Look - Abrahan e Isaac

Texto de Rubem Fonseca causa furor na escola

Esta semana em minhas atividades como educador presenciei uma colega de Língua  Portuguesa ser advertida pela direção da escola e alguns pais de alunos sobre a aplicação do texto "Feliz Ano Novo" de Rubem Fonseca, no primeiro ano do ensino médio, portanto com educandos com seus 15 anos de idade em média.

Alguns estudantes me passaram o texto durante minhas aulas, e percebi que a professora utilizava daquele material para tratar com os alunos sobre um tipo de linguagem muito conhecido: do cotidiano, cheio de gírias e palavrões, como os próprios estudantes estão "carecas" de utilizar. O problema é que existem alunos(as) e especialmente alguns pais que por desconhecimento logo acreditam que o educador estaria ali ensinando coisas "chulas" aos seus filhos(as) - o que seria um desastre pedagógico e ético.

Deixo aqui o texto do Rubem Fonseca e abro o debate com você meu leitor, e ai, a professora errou em usar este texto com seus alunos de 15 anos de idade?

Feliz Ano Novo
Rubem Fonseca

Vi na televisão que as lojas bacanas estavam vendendo adoidado roupas ricas para as madames vestirem no reveillon. Vi também que as casas de artigos finos para comer e beber tinham vendido todo o estoque.

Pereba, vou ter que esperar o dia raiar e apanhar cachaça, galinha morta e farofa dos macumbeiros.

Pereba entrou no banheiro e disse, que fedor.

Vai mijar noutro lugar, tô sem água.

Pereba saiu e foi mijar na escada.

Onde você afanou a TV, Pereba perguntou.

Afanei, porra nenhuma. Comprei. O recibo está bem em cima dela. Ô Pereba! você pensa que eu sou algum babaquara para ter coisa estarrada no meu cafofo?

Tô morrendo de fome, disse Pereba.

De manhã a gente enche a barriga com os despachos dos babalaôs, eu disse, só de sacanagem.

Não conte comigo, disse Pereba. Lembra-se do Crispim? Deu um bico numa macumba aqui na Borges de Medeiros, a perna ficou preta, cortaram no Miguel Couto e tá ele aí, fudidão, andando de muleta.

Pereba sempre foi supersticioso. Eu não. Tenho ginásio, sei ler, escrever e fazer raiz quadrada. Chuto a macumba que quiser.

Acendemos uns baseados e ficamos vendo a novela. Merda. Mudamos de canal, prum bang-bang, Outra bosta.

As madames granfas tão todas de roupa nova, vão entrar o ano novo dançando com os braços pro alto, já viu como as branquelas dançam? Levantam os braços pro alto, acho que é pra mostrar o sovaco, elas querem mesmo é mostrar a boceta mas não têm culhão e mostram o sovaco. Todas corneiam os maridos. Você sabia que a vida delas é dar a xoxota por aí?

Pena que não tão dando pra gente, disse Pereba. Ele falava devagar, gozador, cansado, doente.

Pereba, você não tem dentes, é vesgo, preto e pobre, você acha que as madames vão dar pra você? Ô Pereba, o máximo que você pode fazer é tocar uma punheta. Fecha os olhos e manda brasa.

Eu queria ser rico, sair da merda em que estava metido! Tanta gente rica e eu fudido.

Zequinha entrou na sala, viu Pereba tocando punheta e disse, que é isso Pereba?

Michou, michou, assim não é possível, disse Pereba.

Por que você não foi para o banheiro descascar sua bronha?, disse Zequinha.

No banheiro tá um fedor danado, disse Pereba. Tô sem água.

As mulheres aqui do conjunto não estão mais dando?, perguntou Zequinha.

Ele tava homenageando uma loura bacana, de vestido de baile e cheia de jóias.

Ela tava nua, disse Pereba.

Já vi que vocês tão na merda, disse Zequinha.

Ele tá querendo comer restos de Iemanjá, disse Pereba.

Brincadeira, eu disse. Afinal, eu e Zequinha tínhamos assaltado um supermercado no Leblon, não tinha dado muita grana, mas passamos um tempão em São Paulo na boca do lixo, bebendo e comendo as mulheres. A gente se respeitava.

Pra falar a verdade a maré também não tá boa pro meu lado, disse Zequinha. A barra tá pesada. Os homens não tão brincando, viu o que fizeram com o Bom Crioulo? Dezesseis tiros no quengo. Pegaram o Vevé e estrangularam. O Minhoca, porra! O Minhoca! crescemos juntos em Caxias, o cara era tão míope que não enxergava daqui até ali, e também era meio gago - pegaram ele e jogaram dentro do Guandu, todo arrebentado.

Pior foi com o Tripé. Tacaram fogo nele. Virou torresmo. Os homens não tão dando sopa, disse Pereba. E frango de macumba eu não como.

Depois de amanhã vocês vão ver. Vão ver o que?, perguntou Zequinha.

Só tô esperando o Lambreta chegar de São Paulo.

Porra, tu tá transando com o Lambreta?, disse Zequinha.

As ferramentas dele tão todas aqui.

Aqui!?, disse Zequinha. Você tá louco.

Eu ri.

Quais são os ferros que você tem?, perguntou Zequinha. Uma Thompson lata de goiabada, uma carabina doze, de cano serrado, e duas magnum.

Puta que pariu, disse Zequinha. E vocês montados nessa baba tão aqui tocando punheta?

Esperando o dia raiar para comer farofa de macumba, disse Pereba. Ele faria sucesso falando daquele jeito na TV, ia matar as pessoas de rir.

Fumamos. Esvaziamos uma pitu.

Posso ver o material?, disse Zequinha.

Descemos pelas escadas, o elevador não funcionava e fomos no apartamento de Dona Candinha. Batemos. A velha abriu a porta.

Dona Candinha, boa noite, vim apanhar aquele pacote.

O Lambreta já chegou?, disse a preta velha.

Já, eu disse, está lá em cima.

A velha trouxe o pacote, caminhando com esforço. O peso era demais para ela. Cuidado, meus filhos, ela disse.

Subimos pelas escadas e voltamos para o meu apartamento. Abri o pacote. Armei primeiro a lata de goiabada e dei pro Zequinha segurar. Me amarro nessa máquina, tarratátátátá!, disse Zequinha.

É antiga mas não falha, eu disse.

Zequinha pegou a magnum. Jóia, jóia, ele disse. Depois segurou a doze, colocou a culatra no ombro e disse: ainda dou um tiro com esta belezinha nos peitos de um tira, bem de perto, sabe como é, pra jogar o puto de costas na parede e deixar ele pregado lá.

Botamos tudo em cima da mesa e ficamos olhando. Fumamos mais um pouco.

Quando é que vocês vão usar o material?, disse Zequinha.

Dia 2. Vamos estourar um banco na Penha. O Lambreta quer fazer o primeiro gol do ano.

Ele é um cara vaidoso, disse Zequinha.

É vaidoso mas merece. Já trabalhou em São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Vitória, Niterói, pra não falar aqui no Rio. Mais de trinta bancos.

É, mas dizem que ele dá o bozó, disse Zequinha.

Não sei se dá, nem tenho peito de perguntar. Pra cima de mim nunca veio com frescuras.

Você já viu ele com mulher?, disse Zequinha.

Não, nunca vi. Sei lá, pode ser verdade, mas que importa?

Homem não deve dar o cu. Ainda mais um cara importante como o Lambreta, disse Zequinha.

Cara importante faz o que quer, eu disse.

É verdade, disse Zequinha.

Ficamos calados, fumando.

Os ferros na mão e a gente nada, disse Zequinha.

O material é do Lambreta. E aonde é que a gente ia usar ele numa hora destas?

Zequinha chupou ar fingindo que tinha coisas entre os dentes. Acho que ele também estava com fome.

Eu tava pensando a gente invadir uma casa bacana que tá dando festa. O mulherio tá cheio de jóia e eu tenho um cara que compra tudo que eu levar. E os barbados tão cheios de grana na carteira. Você sabe que tem anel que vale cinco milhas e colar de quinze, nesse intruja que eu conheço? Ele paga na hora.

O fumo acabou. A cachaça também. Começou a chover. Lá se foi a tua farofa, disse Pereba.

Que casa? Você tem alguma em vista?

Não, mas tá cheio de casa de rico por aí. A gente puxa um carro e sai procurando.

Coloquei a lata de goiabada numa saca ele feira, junto com a munição. Dei uma magnum pro Pereba, outra pro Zequinha. Prendi a carabina no cinto, o cano para baixo e vesti uma capa. Apanhei três meias de mulher e uma tesoura. Vamos, eu disse.

Puxamos um Opala. Seguimos para os lados de São Conrado. Passamos várias casas que não davam pé, ou tavam muito perto da rua ou tinham gente demais. Até que achamos o lugar perfeito. Tinha na frente um jardim grande e a casa ficava lá no fundo, isolada. A gente ouvia barulho de música de carnaval, mas poucas vozes cantando. Botamos as meias na cara. Cortei com a tesoura os buracos dos olhos. Entramos pela porta principal.

Eles estavam bebendo e dançando num salão quando viram a gente.

É um assalto, gritei bem alto, para abafar o som da vitrola. Se vocês ficarem quietos ninguém se machuca. Você aí, apaga essa porra dessa vitrola!

Pereba e Zequinha foram procurar os empregados e vieram com três garções e duas cozinheiras. Deita todo mundo, eu disse.

Contei. Eram vinte e cinco pessoas. Todos deitados em silêncio, quietos, como se não estivessem sendo vistos nem vendo nada.

Tem mais alguém em casa?, eu perguntei.

Minha mãe. Ela está lá em cima no quarto. É uma senhora doente, disse uma mulher toda enfeitada, de vestido longo vermelho. Devia ser a dona da casa.

Crianças?

Estão em Cabo Frio, com os tios.

Gonçalves, vai lá em cima com a gordinha e traz a mãe dela.

Gonçalves?, disse Pereba.

É você mesmo. Tu não sabe mais o teu nome, ô burro? Pereba pegou a mulher e subiu as escadas.

Inocêncio, amarra os barbados.

Zequinha amarrou os caras usando cintos, fios de cortinas, fios de telefones, tudo que encontrou.

Revistamos os sujeitos. Muito pouca grana. Os putos estavam cheios de cartões de crédito e talões de cheques. Os relógios eram bons, de ouro e platina. Arrancamos as jóias das mulheres. Um bocado de ouro e brilhante. Botamos tudo na saca.

Pereba desceu as escadas sozinho.

Cadê as mulheres?, eu disse.

Engrossaram e eu tive que botar respeito.

Subi. A gordinha estava na cama, as roupas rasgadas, a língua de fora. Mortinha. Pra que ficou de flozô e não deu logo? O Pereba tava atrasado. Além de fudida, mal paga. Limpei as jóias. A velha tava no corredor, caída no chão. Também tinha batido as botas. Toda penteada, aquele cabelão armado, pintado de louro, de roupa nova, rosto encarquilhado, esperando o ano novo, mas já tava mais pra lá do que pra cá. Acho que morreu de susto. Arranquei os colares, broches e anéis. Tinha um anel que não saía. Com nojo, molhei de saliva o dedo da velha, mas mesmo assim o anel não saía. Fiquei puto e dei uma dentada, arrancando o dedo dela. Enfiei tudo dentro de uma fronha. O quarto da gordinha tinha as paredes forradas de couro. A banheira era um buraco quadrado grande de mármore branco, enfiado no chão. A parede toda de espelhos. Tudo perfumado. Voltei para o quarto, empurrei a gordinha para o chão, arrumei a colcha de cetim da cama com cuidado, ela ficou lisinha, brilhando. Tirei as calças e caguei em cima da colcha. Foi um alívio, muito legal. Depois limpei o cu na colcha, botei as calças e desci.

Vamos comer, eu disse, botando a fronha dentro da saca. Os homens e mulheres no chão estavam todos quietos e encagaçados, como carneirinhos. Para assustar ainda mais eu disse, o puto que se mexer eu estouro os miolos.

Então, de repente, um deles disse, calmamente, não se irritem, levem o que quiserem não faremos nada.

Fiquei olhando para ele. Usava um lenço de seda colorida em volta do pescoço.

Podem também comer e beber à vontade, ele disse.

Filha da puta. As bebidas, as comidas, as jóias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles, nós não passávamos de três moscas no açucareiro.

Como é seu nome?

Maurício, ele disse.

Seu Maurício, o senhor quer se levantar, por favor?

Ele se levantou. Desamarrei os braços dele.

Muito obrigado, ele disse. Vê-se que o senhor é um homem educado, instruído. Os senhores podem ir embora, que não daremos queixa à polícia. Ele disse isso olhando para os outros, que estavam quietos apavorados no chão, e fazendo um gesto com as mãos abertas, como quem diz, calma minha gente, já levei este bunda suja no papo.
Inocêncio, você já acabou de comer? Me traz uma perna de peru dessas aí. Em cima de uma mesa tinha comida que dava para alimentar o presídio inteiro. Comi a perna de peru. Apanhei a carabina doze e carreguei os dois canos.

Seu Maurício, quer fazer o favor de chegar perto da parede? Ele se encostou na parede. Encostado não, não, uns dois metros de distância. Mais um pouquinho para cá. Aí. Muito obrigado.

Atirei bem no meio do peito dele, esvaziando os dois canos, aquele tremendo trovão. O impacto jogou o cara com força contra a parede. Ele foi escorregando lentamente e ficou sentado no chão. No peito dele tinha um buraco que dava para colocar um panetone.

Viu, não grudou o cara na parede, porra nenhuma.

Tem que ser na madeira, numa porta. Parede não dá, Zequinha disse.

Os caras deitados no chão estavam de olhos fechados, nem se mexiam. Não se ouvia nada, a não ser os arrotos do Pereba.

Você aí, levante-se, disse Zequinha. O sacana tinha escolhido um cara magrinho, de cabelos compridos.

Por favor, o sujeito disse, bem baixinho. Fica de costas para a parede, disse Zequinha.
Carreguei os dois canos da doze. Atira você, o coice dela machucou o meu ombro. Apóia bem a culatra senão ela te quebra a clavícula.

Vê como esse vai grudar. Zequinha atirou. O cara voou, os pés saíram do chão, foi bonito, como se ele tivesse dado um salto para trás. Bateu com estrondo na porta e ficou ali grudado. Foi pouco tempo, mas o corpo do cara ficou preso pelo chumbo grosso na madeira.

Eu não disse? Zequinha esfregou ó ombro dolorido. Esse canhão é foda.

Não vais comer uma bacana destas?, perguntou Pereba.

Não estou a fim. Tenho nojo dessas mulheres. Tô cagando pra elas. Só como mulher que eu gosto.

E você... Inocêncio?

Acho que vou papar aquela moreninha.

A garota tentou atrapalhar, mas Zequinha deu uns murros nos cornos dela, ela sossegou e ficou quieta, de olhos abertos, olhando para o teto, enquanto era executada no sofá.

Vamos embora, eu disse. Enchemos toalhas e fronhas com comidas e objetos.

Muito obrigado pela cooperação de todos, eu disse. Ninguém respondeu.

Saímos. Entramos no Opala e voltamos para casa.

Disse para o Pereba, larga o rodante numa rua deserta de Botafogo, pega um táxi e volta. Eu e Zequinha saltamos.

Este edifício está mesmo fudido, disse Zequinha, enquanto subíamos, com o material, pelas escadas imundas e arrebentadas.

Fudido mas é Zona Sul, perto da praia. Tás querendo que eu vá morar em Vilópolis?

Chegamos lá em cima cansados. Botei as ferramentas no pacote, as jóias e o dinheiro na saca e levei para o apartamento da preta velha.

Dona Candinha, eu disse, mostrando a saca, é coisa quente.

Pode deixar, meus filhos. Os homens aqui não vêm.

Subimos. Coloquei as garrafas e as comidas em cima de uma toalha no chão. Zequinha quis beber e eu não deixei. Vamos esperar o Pereba.

Quando o Pereba chegou, eu enchi os copos e disse, que o próximo ano seja melhor. Feliz Ano Novo.

Texto extraído do livro "Feliz Ano Novo", Editora Artenova – Rio de Janeiro, 1975, pág.

 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

The Doors "Tell all the people" (Conte a todas as pessoas)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Amor como Antropofagia Alienada

Semanas atrás tivera a intenção de debater, via vídeo-aula, o conceito de amor na filosofia platônica, algo no mínimo interessante e por que não ainda muito atual.
A humanidade, entre tantos questionamentos, ainda hoje se debruça sobre o que seria o amor: um impulso cerebral ou hormonal, um sentimento sem explicações lógicas, uma manifestação da cultura, algo fenomênico e refletido por uma série de mecanismos sociais, etc.
O fato é que o amor, como hoje o conhecemos, fluido, líquido, irregular e inconstante é fenômeno passível de compreensão e historicidade. Não é sem razão que uso os termos "líquido, fluido" emprestados de toda uma terminologia sociológica, em especial a apresentada pelo polonês Zigmunt Baumann, pois o amar hoje, mais do que nunca é tão rápido e veloz, como fenômeno, comparando-se ao clique de um botão de celular ou de um teclado de computador conectado em rede.
Esqueçamos o romantismo de nossos pais, avós, que lutaram por uma liberdade de escolha, rompendo com antigas tradições que ligavam o amor a um projeto sócio-econômico familiar. Os grilhões de todas as paixões humanas estão hoje muito mais do que frouxos, estão assustadoramente frágeis, transformando o amor em instantaneidade.
E quando rememoramos o sentido do instantâneo não podemos deixar de encarar o sentido do "consumo rápido", e assim vamos hoje consumindo o amor na forma de uma embalagem, adquirida no mercado das insuficiências ou carências humanas, e nossos vazios, travestidos de desejos, de um eterno porvir, são profundezas abissais condenadas a busca.
É fácil vislumbrar esta nova realidade, você que me lê compare-se a seus pais, avós; eu mesmo fazendo este exercício com apenas 32 anos de idade já tivera experiências amorosas numa quantidade muito maior que meu pai, e nem se fale comparado ao meu avô, e provavelmente os meus filhos e netos que surgirão na aurora terão uma vida amorosa com uma variedade de experiências ainda maiores. A dúvida, a pulga atrás da orelha, é fazer ou não o questionamento ético disso.
Devemos olhar para o amor contemporâneo como uma nova dinâmica social, sem freios, ou devemos olhar para este de maneira crítica? Mas, seria interessante para a humanidade fazer a roda da história girar ao contrário e reafirmarmos o dito amor romântico, criado e difundido a partir do século 19 onde homens e mulheres apaixonados morriam de amores na forma de tuberculose?
O que mais me assusta nesta nova dinâmica social, ainda mais quem trabalha diretamente com a juventude (sou educador, em sala de aula desde 2004) é sentir, com convicção, que estamos nos consumindo uns aos outros, como objetos. Tornamo-nos, como profetizava Karl Marx desde sua juventude, algo reificado.
Alienamo-nos a tal ponto, entregamo-nos aos desvarios das lógicas de mercado e ao ethos capitalista de maneira que hoje não mais agimos como humanos diante de humanos, mas como objeto de desejo diante de outro objeto de desejo, como duas bocas famintas que se devoram.
Lembro-me do ano de 2003 quando num rompimento amoroso, com uma mulher que estava saindo a pouco mais de um mês, a mesma se justificava dizendo "você não tem nada a me oferecer"....e eu ali, me sentia como um empregado a ser despedido por maus serviços prestados. 
Quando as pessoas se aventuram na ideia ou na tentativa de iniciar uma relação a dois, fácil de se iniciar, não é difícil que nas primeiras manifestações de dificuldades ou desafios um dos lados pense "não me sinto satisfeito", este objeto não mais alimenta os meus desejos, melhor voltar ao mercado e buscar algo que me preencha, nem que por um instante.
Não há paciência para construir algo, não há tolerância com o outro, somente cobrança, expectativas, consumo. E assim vamos colecionando experiências, antropofágicas, aqui, ali, acolá.

Elvis Presley - For The Good Times

Construindo um Iglu - cultura esquimó

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Desiludindo os apostolos de todo domingo

"Olá, bom dia, viemos aqui para falar da Bíblia, o senhor por acaso já leu a Bíblia? Hoje estamos passando nas casas para falar sobre o Éden".

Isso eram quase 10 da manhã do último domingo, aqui na porta de casa, onde dois evangelizadores e testemunhas de Jeová pararam com o objetivo de falar das coisas de "deus" para mais um cidadão brasileiro, que relaxava em mais um "domingão bravo".
Não contavam que do outro lado não estaria um religioso, sequer um católico não-praticante, ou mesmo um outro protestante frequentador de uma das milhares de igrejas neopentecostais espalhadas Brasil afora, mas um ateu praticante.

O que é um ateu praticante? Oras, não é o cara que faz proselitismo, eu mesmo não fico andando por ai, batendo de porta em porta, apostolando sobre as conquistas da ciência e a teoria da evolução que colocaram o deus judaico-cristão e demais divindades literalmente "na lona". Não, o ateu praticante é aquele que convicto de seu ateísmo, não tem o menor temor em se dizer ateu, com o objetivo claro de delimitar espaço dizendo para a sociedade, com orgulho, "ei otários, sou ateu e me respeite". 
Quando recebi os evangelizadores em minha porta no último domingo tratei-os com o devido respeito, e dialoguei abertamente com eles sobre a minha convicção e visão totalmente diferenciada da que os mesmos tinham sobre as ditas escrituras "sagradas", tudo amparado nos anos de estudos em ciências humanas e até a mais tempo como sujeito histórico crítico e que desde tenra idade não conseguira engolir o "argumento" religioso, baseado na fé, algo sem fundamento, e recheado de mitologias e elementos fantásticos (como a criação a partir do barro, animais todos em uma arca, mar sendo aberto pelo toque de um cajado, água virando vinho, peixes e pães caindo dos céus ou mesmo porcos tomados por demônios).

O interessante no caso foi notar como que os evangelizadores simplesmente se surpreenderam com o fato de talvez, pela primeira vez na vida deles, terem se deparado com alguém declaradamente e convictamente ateu. A fisionomia de ambos, atônitos, e sem contra-argumentar após as minhas colocações e negativas quanto a qualquer "estudo" religioso ou conforto religioso, mostra que nós, ateus brasileiros, temos que literalmente "sair do armário" ideológico de que o ateísmo não é uma posição válida e aceitável, pelo contrário, é a resposta mais corajosa, desafiadora e mais humanista que se possa ter diante da existência - um fenômeno natural sem propósito algum (e não precisa ter).

Espero que mais religiosos venham bater a minha porta nas manhãs de domingo, e eu, com orgulho e argumentos preparados a muito tempo pela experiência e estudos,  possa surpreendê-los com a frase impactante "não obrigado, eu sou ateu e tenho uma visão completamente diferente das suas, pois sou um cientista e compreendo a religião como um fenômeno puramente social e antropológico; pode deixar o seu folheto na minha caixa de correios e tenham uma boa tarde".

Que belo esporte é desiludir aqueles que estão imersos na alienação...

Estado de São Paulo e o Preconceito contra os Obesos!

Absurdo: Estado de São Paulo lida com a obesidade de maneira preconceituosa, e impede professoras aprovadas em concurso público de assumirem seus cargos! Rede estadual paulista é um lixo, uma vergonha! Fora PSDB!

Acessem o link abaixo, com reportagem do programa Fantástico, e espero que compartilhemos desta indignação!

http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/02/professoras-nao-sao-efetivadas-por-serem-consideradas-obesas-em-sp.html

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Futebol não é mais esporte...é guerra!

Nesta semana o Corinthians fora derrotado por uma equipe colombiana na Taça Libertadores de América 2011, em sua fase inicial, gerando uma crise interna no clube e em especial uma revolta violenta de parte de sua torcida, que enfurecida apedrejara os vários carrões de atletas e funcionários do clube.

Bom, isso ai que parece noticiário esportivo, algo sempre do mais duvidoso "bom gosto" (textos e análises pobres, muito pobres, com noticiário falseado e servindo a uma centena de interesses), me obriga a refletir sobre o tema da violência praticada por parte de nossos torcedores de futebol.

Primeiro o futebol não é esporte, não hoje. É business, é negócio, que envolve milhões e milhões de dolares, euros e reais, gerando uma economia quase à parte. Se antes atletas permaneciam como ídolos de seus clubes por décadas, hoje o jovem que mal sai da vida amadora no "esporte" já vislumbra um contrato milionário no exterior, em especial no futebol inglês ou espanhol. Migração esta que é corretamente entendida como "perna-de-obra", exportada a peso de ouro pelos clubes mais empobrecidos, em especial os latino-americanos.

Diante desta  nova realidade, a imprensa esportiva ainda tenta vender a ideia de esporte do futebol, quando na realidade difunde uma competitividade entre os amantes do esporte de maneira a provocar, inconscientemente, sementes de animosidade em muitos de nossos torcedores - a maioria marginalizados e organizados, como processo de aceitação social a partir do agrupamento, e que portanto passam a enxergar o futebol como algo muito além do que deveria ser, um esporte, apenas um esporte.

A imprensa divulga a ideia de que perder é, no caso dos grandes clubes e que arrematam milhares de torcedores, quase algo proibitivo, senão proibitivo e vergonhoso. Um grande clube deve vencer, vencer sempre, conquistar os sonhados títulos e se sobrepujar diante de seus rivais.

O jogo, em si, tornou-se algo cada vez mais embrutecido, rápido, com atletas de formação física privilegiada, tornando a partida uma verdadeira batalha por espaços no campo, por posse de bola, e dai a palavra mágica na boca dos "cronistas": marcação, marcação, marcação...

É fácil entender a violência futebolística, até porque em primeiro lugar vivemos uma realidade violenta por si mesma, independente da existência ou não deste tipo de entretenimento das massas. O perverso, no caso, é que isso é reforçado, diariamente, em nosso país, pela imprensa nacional que enxerga o futebol como "razão de ser e da existência da humanidade".

Difundem a ideia de que é aceitável faltar a um dia de trabalho para ir ao campo de futebol torcer pelo seu time, que é aceitável um pai deixar de comprar coisas úteis para a vida familiar para gastar parte de seus rendimentos com idas ao campo, que é aceitável fazer uma loucura qualquer pelo seu clube como por exemplo andar de joelhos no campo após a conquista de um título a tanto tempo desejado...

Dizem que o mundo para, e deve parar, quando duas equipes estão em campo a disputar uma partida decisiva, valendo vaga ou mesmo a conquista de um título. Que é aceitável países pobres como a África do Sul em 2010 e em breve o nosso país se submeterem a exigências da entidade mantenedora do futebol internacional, FIFA, desrespeitando todos os limites sócio-econômicos dos países-sedes com o argumento, mentiroso, de que a Copa do Mundo de futebol é agente transformador e difusor de qualidade de vida ou mesmo desenvolvimento econômico.

Que os atletas, já imersos na sociedade do espetáculo, são tidos e vistos como seres meta-humanos, vivendo vidas falsas e curtas, porque depois que as pernas começam a doer e falhar, as cifras e glórias vão se esvaindo rapidamente. E que pessoas como Pelé seria um "extra-terrestre", que Maradona é um "Deus", e dá-lhe adjetivos superlativos para os apontados como craques de bola.

Isso tudo gerou no velho futebol uma espécie de atividade que é tudo, menos esportiva. Gerou não mais homens e atletas, mas monstros criados em torno do próprio ego e que reforçam no imaginário de muitas minorias sociais a certeza de que ser "pé-de-obra" é uma posição social a ser almejada por todos, e dai, estudar pra que quando se pode ascender socialmente apenas pelo bom domínio de um objeto plástico em forma de esfera.

Se enganam os que acham que não gosto do futebol, do esporte, que já não existe mais a algumas décadas, e isso é, em minha opinião, culpa da imprensa esportiva: estérica, burra, mitificadora e reprodutora de uma ordem ou lógica social perversas (a competição, a vitória como fim absoluto, o esporte como negócio, o clube esportivo como empresa, o atleta como investimento e marketing, etc.). E se hoje alguns corinthianos, alienados, organizados como selvagens, atacam as propriedades dos meta-humanos vendidos como atletas, uma boa parte disso deve ser creditada a maneira também alienada que a imprensa esportiva trata do assunto.

Tem alguma dúvida, reflitamos sobre a lista abaixo de "ilustres" "jornalistas esportivos":
- Neto (Band)
- Milton Neves (Band)
- Flávio Prado (Gazeta)
- Renato Maurício Prado (Sportv)
- Paulo Calçade (Espn Brasil)
- Paulo Vinícius Coelho (Espn Brasil)
- Luciano do Valle (Band)
- Galvão Bueno (Globo)
- José Trajano (Espn Brasil)
- Fernando Calazans (Espn Brasil)
- José Datena (Band)
- Gerson (rádio Globo)
E há tantos outros Brasil afora, em outros estados que não Rio e São Paulo (polos econômicos e telecomunicacionais), que refletem a mesma ideia, a mesma barbárie travestida em "análise" de um esporte que atrai milhões não só de pessoas, mas de moedas, e pior, de vidas - desgraçadas pela alienação difundida pela visão alienada do que é, verdadeiramente, o futebol: um esporte criado para o povo e pelo povo, e não para a produção de diversos mecanismos de mais-valia.