quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Professor Tiago Menta Entrevista: Deputada Luciana Genro (PSOL-RS)

"Luciana, sou educador da rede pública  mineira e vejo já a alguns anos o quanto a educação brasileira vem recuando em todos os sentidos, especialmente no que tange a investimentos em capital  humano (formação, qualificação, valorização real de nossos professores). É sabido que sem  uma política educacional consistente, humanista, radical, de nada adiantará crescimento econômico e todo blá-blá-blá economicista. Quais as principais propostas do PSOL quanto a política educacional nacional?"
Um dos centros do programa do PSOL é reabilitar a educação, valorizando o corpo docente, ampliando o horário de atendimento das escolas, mediante uma pesada política de aumento salarial, na perspectiva da superação estratégica da atual forma como é tratada a educação, com aplicação do Piso Nacional dos Professores imediatamente e concurso público para suprir a falta de professores, técnicos, orientadores pedagógicos, servidores e bibliotecários. Defendemos a escola de turno integral, para garantir, além da formação educacional, acesso a médicos, dentistas e atividades esportivas e culturais no contraturno escolar. A escola deve ser um importante agente de inclusão social para crianças e jovens e aprofundar a referência com as comunidades carentes de nosso Estado em temas fundamentais, como educação ambiental, combate à drogadição e educação sexual. Propomos a ampliação da democracia, valorizando e respeitando o protagonismo docente e da comunidade escolar. Também é preciso recuperar e ampliar universidades estaduais, como a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, através de um processo de discussão com a comunidade acadêmica e os movimentos sociais.

"O PSOL é  um partido essencialmente de esquerda, trazendo em sua  nomenclatura  o  termo Socialismo; muitos se questionam, ainda é  possível construir um país, um  mundo, Socialista em meio a esta realidade pós-moderna ainda tomada de  assalto pelo capital e dominada por uma elite que concentra renda? Que Socialismo seria este proposto  pelo PSOL?"
Não há receita para o socialismo, o certo é que ele tem de ser construído com democracia e participação popular.Será fruto de grande embates e não de uma eleição. Portanto o que propomos na  disputa eleitoral é  um modelo político onde trabalhadores e classes médias sejam protagonistas. Com a auditoria e posterior suspensão da dívida pública e medidas como o Imposto sobre Grandes Fortunas, o país não ficaria mais escravo dos rentistas e poderia fazer reformas democráticas. Um governo com respaldo popular pode fazer isso e assim pavimentar o caminho para o socialismo.

"É possível conciliar Socialismo e Democracia?"
Com certeza. Se não houver democracia não há socialismo.

"Você acredita  na democracia representativa vigente em nosso país? O seu partido, PSOL, não está sendo tratado  de  maneira contrária a toda lógica de isonomia  (como por exemplo nos 3  minutos para o candidato  presidencial  em telejornal noturno enquanto  outros possuiram 4x mais tempo, no programa eleitoral televisivo com discrepâncias temporais ainda maiores, chegando a 7x mais)? Caso concorde, como fazer política partidária  em um país  que lida com os partidos de maneira desigual?
Acredito na democracia representativa, mas a lei eleitoral que permite que coligações firmadas apenas para ganhar tempo de rádio e TV, sem qualquer vínculo programático, garantam metade do total do tempo da propaganda gratuita é uma falácia. Tentamos mudá-la no Congresso e não conseguimos. Mas a livre interpretação que algumas emissoras decidiram fazer dela, que garante participação em programas e debates de todos os partidos com representação na Câmara dos Deputados, é absurda. A lei deveria ser clara na questão da equidade de tempo. Não há qualquer citação sobre índice alcançado em pesquisas como critério para convite.
No Brasil não vivemos em uma plena democracia. Há uma espécie de ditadura do capital. quem manda é o dinheiro, o poder econômico, e não o povo. 

"Conheço muitos professores gaúchos, e lamentavelmente o governo Yeda Crusius vem repetindo a lógica tecnocrática tucana  (governam como gerentes de bancos ou algo  do gênero, dai o mantra tucano -  gerencia, gestão, administração), como aqui em Minas Gerais com o governador Aécio Neves,  em São Paulo com José Serra, no tratamento dado a educação estadual - vitimando os servidores com estratégias perversas segundo a ideia de que educação é gasto e não investimento social, dai a  precarização de nossas escolas e do sistema de ensino como um todo. Mas fiquemos  com o exemplo  gaúcho, próximo da deputada: o que você propõe para a educação no Rio Grande do Sul, o que os meus colegas educadores gaúchos poderão esperar da deputada Luciana Genro nos próximos 4 anos?"
Com certeza, terão minha participação na luta contra as enturmações e as escolas de lata implantadas por Yeda. Contêineres são usados como salas de aula por que as escolas não são ampliadas ou reformadas, deixando as crianças à mercê do clima - muito quente no verão e muito frio no inverno. A minha defesa pela aplicação do Piso Nacional dos Professores - que a governadora entrou na Justiça para não pagar - imediatamente e pela formulação, junto com os funcionários e a comunidade escolar, de um Piso Estadual para os Funcionários de Escola; além de concurso público para suprir a falta de professores e funcionários.
"Finalizando, gostaria de agradecer a disposição da deputada e candidata, pelo  PSOL do Rio Grande do Sul, Luciana Genro em reservar um  pouco do seu tempo para atender  o amigo educador das Minas Gerais, que convida a todos a conhecer as propostas da candidata  a partir desta entrevista. Parabenizo a amiga e desde já manifesto o meu apoio aos candidatos  do PSOL, acreditando que neste partido ainda se  mantém acesa uma chama de radicalidade  positiva, digna de iniciar mudanças profundas neste país."
Agradecido, prof. Tiago Menta/ historiador e filósofo/ Belo Horizonte-MG/ 14 de agosto de 2010.

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